O Desafio de Ser Protagonista: Reflexões e Aprendizados
Esta semana, tive a oportunidade de fazer uma live em parceria com o movimento Justiceiras , uma iniciativa extraordinária que combate a violência doméstica. O tema da nossa conversa foi o protagonismo feminino, um assunto que considero não apenas relevante, mas essencial, especialmente em um contexto onde as discussões sobre o papel da mulher na sociedade são cada vez mais urgentes. Esse tema, que leva o nome deste artigo, reflete uma conversa necessária que precisamos ter sobre como as mulheres podem assumir um papel central em suas vidas e na sociedade.
Ao longo da minha carreira, se há um pilar que norteia todo o meu trabalho em palestras e consultorias para empresas, é o de ajudar as mulheres a conquistarem e ocuparem esse espaço de protagonismo em suas trajetórias pessoais e profissionais. No entanto, a razão de eu estar escrevendo este artigo é para compartilhar uma atualização da minha visão sobre o tema. Nos mais de cinco anos em que venho trabalhando com a temática das mulheres no mercado de trabalho, acumulei uma série de aprendizados — muitos deles pessoais — que me fizeram refletir profundamente sobre como estamos abordando este tema. E confesso que essa evolução e aprendizado não aconteceram da noite para o dia; passei por um processo pessoal muito intenso que me levou a ressignificar várias das minhas conclusões anteriores.
Quando criei o movimento Mulheres no Comando, eu estava em um momento de busca por minha própria ascensão pessoal. Queria mostrar ao mundo que as mulheres são mais do que capazes de lidar com os desafios do mercado de trabalho e que, se nos posicionássemos para romper as barreiras impostas, poderíamos realmente mudar a realidade da ausência de mulheres em espaços de poder. Eu estava determinada a provar que, ao nos colocarmos de forma assertiva e com confiança, poderíamos não só ocupar esses espaços, mas também transformá-los.
No entanto, à medida que fui me aprofundando no assunto e entendendo o que realmente seria necessário para provocar uma transformação significativa, comecei a perceber todas as camadas de opressão e violência de gênero que permeiam nossas vidas. Essas camadas não estão presentes apenas em nossos ambientes de trabalho, mas também em nossos lares, em nossas interações sociais e até em nossas próprias percepções do que significa ser mulher. Isso me levou a uma grande questão, que acabou se tornando um tema recorrente em muitas das minhas sessões de terapia: afinal, o que é ser mulher?
Simone de Beauvoir, em seu livro "O Segundo Sexo", argumenta que, ao longo da história e da literatura, a mulher muitas vezes não ocupa o lugar de sujeito, mas sim de objeto. Esse processo de "tornar-se mulher" na sociedade é, em grande parte, uma construção cultural, marcada por diversas formas de violência, silenciamento e opressão. Dentro desse contexto, o que aprendemos como "ser mulher" inevitavelmente nos coloca em uma posição de subordinação. A cultura dominante, em grande parte, define a mulher como submissa, obediente, centralizada no núcleo familiar, uma boa mãe, comportada e recatada. Por outro lado, as mulheres que fogem desse padrão são frequentemente estigmatizadas como "bruxas", "prostitutas" ou mulheres sem valor para a sociedade.
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Compreender esse contexto cultural é fundamental para entender por que é tão difícil para as mulheres romperem com esses padrões. Incentivar as mulheres a desafiar essas normas e, ao mesmo tempo, manter sua saúde mental e emocional intacta é um desafio enorme. Frequentemente, as mulheres me perguntam: "Jéssica, como ainda podem existir mulheres que não apoiam a equidade e a presença de mais mulheres em posições de liderança e protagonismo?" A resposta é clara: é extremamente difícil contrariar séculos de narrativas que, em diversos contextos, reforçam o lugar que ocupamos hoje na sociedade.
Minha mudança de percepção sobre o protagonismo feminino não significa que eu tenha deixado de acreditar que as mulheres podem conquistar tudo o que desejam. Pelo contrário, acredito profundamente nisso. No entanto, entendo agora que esse processo de conquista precisa ser acompanhado de uma ressignificação interna, onde precisamos refletir sobre o que realmente nos faz bem e o que queremos para nossas vidas. Nos últimos anos, passei por uma série de desafios relacionados à saúde mental, e, embora eu não tenha todas as respostas sobre como buscar esse protagonismo de maneira sustentável, gostaria de compartilhar alguns aprendizados que tive ao longo dessa jornada:
Por fim, quero deixar um recado: sim, nós podemos e devemos buscar nossos objetivos e a transformação que desejamos causar no mundo. Mas não podemos esquecer que esse caminho é cheio de barreiras, e precisamos ser generosas conosco mesmas, cuidar da nossa saúde mental e emocional, e priorizar o que realmente importa. Esse processo exigirá anos de resiliência, assim como nossas antepassadas demonstraram, mas, acima de tudo, não podemos nos perder de nós mesmas nesse caminho.
E vocês, o que acham? Concordam? Me contem aqui nos comentários!
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Cultura Organizacional Especializada em Gênero - ESG - Palestras - Treinamentos - Advogada, Gestora Projeto Justiceiras, Coordenadora Livro Compliance Feminino.
4 mIncrível!
Adoramos as suas falas na live! Foi demais! Parabéns!
Commodity Trading, Client Relationship & International Logistics Specialist
4 mMuito obrigada pelo artigo, extremamente pertinente e sensível aos fatos que por serem tão comuns , passam por “corretos”. Não poderia ter me identificado mais ! Que tenhamos essa resiliência para aos poucos elevar as características femininas como colaboração, cuidado, empatia, para esse sistema que claramente adoece tantas pessoas todos os dias.
Linkedin Top Voice | Palestrante | Speaker TEDx | Chief Happiness Officer | Mentora de Liderança | Liderança Humanizada
4 mParabéns pelo artigo, você tem toda razão, esse tema tem muitas camadas. As empresas que de fato querem promover a equidade de gênero precisam ser intencionais porque existem barreiras e elas estão fora e dentro das empresas.