O dia em que a máquina venceu o homem
Com a atual tecnologia aeronáutica, temos instrumentos que enxergam, ouvem, calculam, detectam e até predizem melhor - muito melhor - que os seres humanos. O homem está, vagarosamente, tornando-se apenas um fator de risco no cockpit. E muitos dizem que, ao tirar o fator "humano" do comando do manche, os vôos estarão muito mais seguros. E não é por menos: as estatísticas mostram claramente quem é o maior responsável por acidentes aéreos.
Estamos voando em mais uma época de transição de comando. Nas primeiras décadas da aviação, o homem era essencial no cockpit. Além de pilotar, ele também era responsável por monitorar a aeronave e corrigir os erros e problemas que ela apresentasse em vôo, que não eram poucos.
No entanto, a máquina evoluiu. O engenheiro de vôo foi trocado por um computador e a aeronave passou a ter um papel de divisão de comando com o piloto. Enquanto o homem vigiava a máquina, a máquina também vigiava e, por vezes, até corrigia o homem. É claro que alguns acidentes ocorreram devido à tomada de comando pelo computador, mas muitos outros também foram ocasionados pela teimosia de um ser humano que pensou que a máquina estivesse errada.
É nessa fase que estávamos até pouco tempo atrás. Agora estamos novamente em uma vagarosa transição, onde, dessa vez, é a máquina que ditará as regras.
A colisão sobre Überlingen
Em 1 de julho de 2002, um Boeing 757 da DHL e um Tupolev da Bashkiria Airlines colidiram no ar sobre a cidade de Überlingen, Alemanha, matando 71 pessoas.
Dentre uma série de erros acumulados, o ápice se deu quando o sobrecarregado controlador de vôo, para evitar uma colisão, pediu ao Tupolev que descesse de nível de vôo.
No entanto, um importante instrumento de segurança presente nas aeronaves, o TCAS, já havia alertado ambos os comandantes sobre o risco e assim coordenou a situação indicando ao 757 que ele devia descer e ao Tupolev para subir. O piloto do Boeing seguiu a ordem do instrumento, enquanto o do Tupolev deu preferência para a ordem do controlador. Ambas aeronaves desceram e assim colidiram.
Uma série de erros (como sempre) culminou no acidente. No entanto, se ambos os pilotos tivessem seguido as instruções do TCAS, a colisão não teria ocorrido. E foi assim que autoridades definiram que o TCAS tem a prioridade caso haja uma ordem conflitante com o ATC. Inicia, então, a vagarosa transição de comando do homem para a máquina.
Em 2012 uma versão do TCAS (TCAS II version 7.1) foi equipada com um sistema de lógica reversa, onde poderá dar uma instrução contrária ao detectar que uma das aeronaves não seguiu a primeira instrução. Alguns comandantes apelidaram essa versão do TCAS de "Proteção contra idiotas".
No fim do dia, a máquina superou o homem. Entre custos de implementação de um vôo 100% computadorizado bem como de ajustes e correções necessários para esse fim, o homem ainda permanece com a mão no manche.
A máquina no total comando
Hoje vemos drones se popularizarem. Ainda que possuam certo comando remoto por um ser humano, o mesmo está cada vez mais obsoleto. Aviões de passageiros que voam sozinhos também já estão timidamente ensaiando seus vôos. É só uma questão de tempo até que os pilotos percam o emprego para computadores, programadores e gerenciadores de sistemas.
Mas não se preocupem, os pilotos se tornarão obsoletos, sim, mas não em breve.