Mayday, Mayday, Mayday!
Sabe aquela indicação de óleo, em vermelho, que acende no painel dos automóveis (foto abaixo) para alertar o motorista sempre que o nível do óleo está baixo?
Pois bem, nos aviões existe algo parecido. Tanto nível e pressão do óleo são fundamentais para o funcionamento dos motores, sejam eles de automóveis ou de aviões.
Na foto abaixo, podemos ver a indicação de LOW OIL PRESSURE (baixa pressão do óleo) no painel de um Boeing 737. Ambas estão acesas porque os motores estão desligados, ou seja: o avião está no solo.
Entretanto, durante um voo, é muito raro os pilotos se depararem com esta indicação, pois motores de aviões são extremamente confiáveis, além de serem checados e revisados periodicamente. Posso comprovar essa afirmação por experiência própria: ao longo de meus 12 anos atuando em linha aérea, nunca me defrontei com uma única pane de motor sequer.
Mas, eventualmente, pode acontecer dos pilotos se depararem, durante um voo, com a indicação de baixo nível ou de baixa pressão de óleo em um dos motores. Então, o que fazer?
Exatamente o que os pilotos treinam nos simuladores. Ler o famoso check-list!
Para cada luz ou indicação que existe no painel de um avião, existe um check-list correspondente para ser lido e executado pelos pilotos.
Neste caso, o cheque-list a ser lido é o ENG OIL LOW PRESS (foto abaixo do check-list do Embraer 190). Lembrando sempre que um dos pilotos irá se concentrar na pilotagem do avião e na comunicação com o controle de tráfego aéreo (Pilot flying, ou PF) enquanto o outro piloto irá se concentrar na leitura do check-list e nas ações a serem executadas (Pilot Monitoring, o PM).
Antes de iniciar a leitura, o PF irá dizer em alto e bom som “My control and communication” (meus controles e comunicação) e o PM irá responder, em alto e bom som, “Your control and communication”. Desta forma, fica estabelecido o que cada piloto irá fazer quando lidarem com uma pane em voo.
Voltando ao check-list do exemplo, podemos ver que ao final ele pede que os pilotos desliguem o motor (Engine Shutdown Procedure).
Mas se o motor ainda está funcionando, por que o fabricante do avião pede para desligá-lo? Assim como nos automóveis, manter o motor funcionando com baixa pressão ou nível do óleo acarretará num dano severo e consequente travamento do mesmo, podendo, inclusive, levar a um incêndio no motor, complicando ainda mais a situação dos pilotos. Pois, o que era apenas um problema de óleo, passa a ser um problema de fogo no motor. Então, por questão de segurança, é muito melhor voar com apenas um motor do que ter que lidar com um motor em chamas.
No entanto, a história ainda não terminou!
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Se a pane ocorre num automóvel, basta estacionar, desligar o motor e chamar o guincho. Mas, obviamente, durante um voo, não temos esta opção.
Sempre que um piloto é levado a desligar um motor em voo, ele deve, obrigatoriamente, declarar emergência. Qual o motivo? Para que ele tenha uma pista livre para pousar o mais rápido possível.
Toda essa introdução é para chegar ao título da coluna de hoje. O famoso mayday é um pedido de socorro adotado internacionalmente pela aviação.
E sempre deve ser dito três vezes seguidas, justamente para não deixar dúvida da gravidade da situação e para chamar a atenção do controle de tráfego aéreo. Assim que o piloto declarar emergência, dizendo “Mayday, mayday, mayday”, ele terá todo o espaço aéreo aà sua disposição, além de poder escolher onde irá pousar.
Vamos imaginar que o Sul123 está fazendo o voo de Belo Horizonte para Curitiba e a pane ocorreu antes de Campinas, que fica bem ao lado da rota do voo.
Campinas tem um bom aeroporto, Viracopos, e conta com uma bela pista de pouso de 3.240 metros de extensão (foto abaixo). Tem ainda serviços de combate a incêndio e de ambulância, caso sejam necessários. E, também, assistência para reacomodar os passageiros em outros voos. Então nosso amigo do Sul123 provavelmente irá optar por pousar em Viracopos.
A partir do momento que o comandante do Sul123 declarou emergência e informou que irá pousar em Viracopos, a torre de controle imediatamente interrompe todas as operações de pousos e decolagens naquele aeroporto, deixando a pista livre para o pouso do Sul123.
E de onde surgiu a palavra Mayday?
O mayday foi ideia do oficial de rádio do Aeroporto de Croydon, em Londres, Frederick Mockford (1897-1962). Seu uso foi oficializado em 1948. A partir daquele ano, adotou-se o padrão “Mayday, Mayday, Mayday” para os pilotos declararem emergência em qualquer parte do mundo. Frederick escolheu esta palavra porque ela lembra a pronúncia do “m’aider” em francês, que significa “me ajude”.
Agora você já sabe: se durante seu voo o piloto precisar desligar um dos motores, relaxe, pois vocês terão um aeroporto inteiro para chamar de seu!
Bom voo e até breve.
Sady Bordin tem 58 anos. Trabalhou como piloto de linha aérea por doze anos, sendo cinco como comandante de Embraer 190/195 na Azul Linhas Aéreas. Tem mais de 7 mil horas de voo. Foi instrutor de simulador na EPA Training Center. sady@embraer195.com.br
Especialista em vendas, é o pioneiro do Storyselling no país. Como owner da Tekoare, implanta nas organizações esta ferramenta que ajuda pessoas e empresas a comunicar de forma precisa, o que precisa, para quem precisa.
2 aMuito bom!!!!!!! Isso da um treinamento inteiro e sobra pra uma palestra. Hehehe…….
Gestor de Negócios e Vendas | MBA em Tendências e Inovação
2 aQue legal sua abordagem com este assunto Sady Bordin 🇺🇦 . Abs ✈️