O dia em que um trabalho me fez chorar…
Eu comecei a trabalhar muito cedo e é claro que já passei por algumas situações complicadas ao longo da minha trajetória profissional. Mas, apesar disso, sei que ainda sim fui privilegiada pelas oportunidades que fui alcançando ao longo da minha jornada.
Mesmo de família de origem humilde, tenho o orgulho de ser a primeira mulher da minha família a chegar ao ensino superior, minha avó apesar de ser uma mulher extremamente sábia é analfabeta e minha mãe tem apenas a quarta série. Já eu me formei na graduação, fiz uma pós e agora estou concluindo a minha segunda graduação e a minha segunda pós. Então, eu nunca poderia reclamar de ter um emprego onde sei que elas nunca conseguiriam chegar e que várias outras pessoas também sonhariam com este lugar.
Além disso , eu também sou psicóloga e até por certa falta de maturidade, eu achava que não importava o que acontecesse eu deveria lidar com as dificuldades que encontrasse ao longo do caminho. Eu deveria aguentar o que fosse, poxa, eu estava trabalhando na minha área , era reconhecida pela minha experiência e modéstia a parte sempre busquei fazer o meu melhor em qualquer atividade que fosse fazer. Horários e jornada de trabalho não eram empecilhos para mim, eu queria entregar. Já trabalhei em locais que gastava cerca de 5 horas de trajeto ida e volta e isso nunca havia sido um problema.
Eu me sentia desafiada e achava que um dia ia conseguir entregar tudo, o único pensamento que eu me permitia ter era: “Não importa o que está acontecendo, você vai conseguir”..
E não é que eu realmente consegui!!! Consegui ficar doente, consegui ficar noites sem dormir, consegui emendar segunda a segunda-feira. Consegui chorar e não foi de alegria, foi um choro de não me sentir capaz , foi um choro de achar que o problema era eu, um choro por pensar que eu não podia ficar desempregada em plena pandemia. Um choro de vergonha. E eu achava que o problema era eu, eu que era fraca , eu que não estava sabendo lidar com as pressões do ambiente e com as pessoas. Eu estava adoecendo por causa do trabalho e achava que a culpa era toda a minha.
Logo eu que sempre defendi a ideia da qualidade de vida no trabalho, de fazer o meu melhor ali e ser feliz não nas sextas-feiras a partir das 18h , mas durante todas as 44horas de jornada, me vi em um lugar que me fazia mal e que me distanciava cada vez mais do meu propósito profissional e também pessoal.
Eu desqualifiquei quase 10 anos de trabalho, de resultados e projetos por uma única experiência mal sucedida. Uma experiência que foi um grande pesadelo pra mim. Foram os três meses mais longos da minha vida.
A grande virada de chave foi quando compartilhei com uma colega sobre as dificuldades que estava sentindo em relação a empresa e que isso havia me feito chorar e ela disse pra mim que isso ali era normal, que fazia parte do período de experiência essa vontade de ir embora e de chorar. Como assim? Eu pensava… Então aqui é normal sentir tudo isso o que estou sentindo? Me desculpe, mas isso não é e nunca vai ser normal pra mim.
E ai eu fui embora.. Nunca me senti tão aliviada na vida. Eu sempre me cobrei muito e achei que depois eu ainda iria me sentir culpada, de achar que eu não tinha dado conta ou que havia sido covarde. Mas o que eu estava esperando mais ? Já havia tido provas suficientes do tanto que aquele ambiente me fazia mal.
O trabalho e as variáveis que o acompanham podem sim adoecer as pessoas e eu sempre soube disso, mas um dia eu vivi isso e hoje eu não quero nunca mais passar por algo assim. Não é normal chorar no trabalho e por causa do trabalho, até a minha vó que nunca conseguiu trabalhar de carteira assinada sabe muito bem disso.
O quanto eles te pagam para você adoecer ? O quanto eles te oferecem para você apenas sobreviver durante a semana? A nossa saúde emocional relacionado ao trabalho não deve ter um preço. É claro que eu não vivo de vento e preciso trabalhar para pagar as minhas contas, mas nunca devo achar que existe apenas um único caminho, um único trabalho e nem uma única empresa.
Então eu parei de chorar …. Confesso que ainda hoje me emociono, mas é de alegria. É uma alegria por amar o meu ambiente de trabalho, de entender que segundas-feiras são tão legais quanto as sextas-feiras. Tenho a plena convicção de que não existe trabalho perfeito, tem dias sim que vão acontecer algumas situações mais complicadas e angustiantes, mas você saber que está no lugar certo e fazendo o seu melhor é uma sensação muito mais agradável que um choro sufocado...
E você ? Já chorou no seu trabalho?
Parabéns não somente pelo texto mas principalmente pela virada!!!