O dolorido mas necessário aprendizado deste tempo
Há poucos meses, o Brasil iniciou mobilizações e ações de como enfrentar a pandemia do coronavírus (COVID-19) que já atingiu fortemente inúmeros países no mundo.
Em um momento como este, há muita tensão, incertezas e não há respostas prontas.
Mas faço um convite para algumas reflexões sobre os impactos, especialmente emocionais de todo esse cenário.
É fato que o baque inicial deste momento será diferente em cada sujeito. Quando uma situação crítica, de crise ou algo adverso impacta o ser humano produz efeitos diversos.
Em alguns, as repercussões são de paralisia, em outros desespero e ações impulsivas (como sair comprando tudo pela frente) ou colocando a vida em risco com condutas perigosas (abuso de substâncias, direção perigosa, tentativas de suicídio etc.).
Outros utilizam medidas que minimizam apercepção do real cenário, semelhante a se deparar com um leão faminto e dizer que deve ser apenas um gatinho.
Há também os que apesar de sentirem medo, confusão e angústia - em alguns momentos - ao acessarem seus recursos emocionais pessoais conseguem processar, compreender o que está ocorrendo e, aos poucos, definir o que precisa ser feito e ainda conseguem gerar bons questionamentos e aprendizados importantes para a vida.
Evidente que cada sujeito possui tempos diferentes de compreender quando algo adverso surge.
Este cenário mostra também que as ações do ser humano até podem fazer diferença quando ocorrem de modo isolado, mas se percebe o quanto a mobilização que alia união, solidariedade e cooperação possuem um poder incrível.
Certamente, o mundo e seus habitantes não serão os mesmos depois do 'tranco' que o coronavírus impôs.
Há fortes indícios de que a existência do ser humano na terra precisa passar por uma revisão e esse momento que exige reclusão e introspecção como medidas protetivas pode ser um excelente momento para isto.
É claro que o automatismo - que tomou conta do estilo de vida do ser humano - o consumo desmedido, a exploração da natureza sem precedentes, a eleição de prioridades baseadas mais no 'ter' do que no 'ser' foram escancaradas.
Mas para se dar conta disso é necessário se arriscar e suportar enxergar esse movimento.
O mundo já sofre com consequências de tudo isso muito antes deste inimigo invisível aparecer. O isolamento social além de ser uma medida protetiva pode ser um excelente tempo de reflexão de como está a qualidade das relações com as pessoas de nosso convívio mais direto: pais, filhos, cônjuges, ...
Por mais estresse que a situação atual proporcione, a percepção do que cada um estava fazendo até o momento e uma eventual mudança de posicionamento pode, literalmente, mudar as trajetórias das famílias e de cada sujeito.
É tempo de criar, de reinventar-se, de acessar espaços de brincadeiras (do lúdico), de buscar informação mas não de modo excessivo, de refletir sobre o modo como cada um cuida do seu corpo (alimentação, exercícios ...), de acolher-se, acalmar-se, de respeitar-se, de respeitar, deixar a culpabilização e a alta exigência de lado e ter a esperança como companheira para caminhar ao lado.
Apesar de nem todos terem acesso à internet, muitas pessoas podem contar com a tecnologia para fazer frente ao isolamento social.
Que estas tecnologias possam proporcionar encontros, reflexões, novas descobertas, novas possibilidades de trabalho e na economia, especialmente se funcionarem como facilitadoras para as conexões necessárias com equilíbrio e serenidade.
Todos teremos perdas e cada um as suas dores, mas é preciso arcar, lidar e aprender com elas... e seguir.
Certamente há muito para ser processado, assimilado e compreendido mas este pode ser um tempo de aprendizado - se este puder ser aproveitado.
Ao mesmo tempo, este cenário lembrou ao ser humano o seu estado de desamparo, mostrando suas fragilidades e vulnerabilidades, provando que não é possível ter o controle de tudo o tempo todo e que não pode tudo.
Mas isso não significa que não há nada a fazer, desejar, alcançar e construir, até porque são todos esses elementos que constituem a condição humana.
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