O empreendedor que construímos e destruímos

Uma notícia chocante no dia de ontem me fez refletir muito sobre a responsabilidade que temos quando apoiamos empreendedores. E esta reflexão é para todos nós, organizações da sociedade civil, empresas, fundações, veículos de mídia, empresários, que decidimos dedicar nosso tempo a fortalecer empreendedores, sejam eles de negócios tradicionais ou sociais.

 Na tarde de ontem, uma reportagem foi postada nas redes sociais; nesta reportagem investigativa, um empreendedor social conhecido foi destruído, sua imagem e seu trabalho foram desfeitos parágrafo a parágrafo.

 Enquanto eu lia, diversos sentimentos passavam por mim. Primeiro senti revolta achando que a reportagem era uma farsa, fruto de uma "hater" que não tinha coisa melhor pra fazer. Depois senti que muitas coisas podiam ser verdade, mas afinal de contas eram as dificuldades que qualquer empreendedor que está no início do seu empreendimento passa quando cresce e perde o controle da gestão, portanto comecei a sentir que a forma como foi escrito foi injusta e desproporcional, uma vez que essa história é tão comum a tantos empreendedores que, por falta de orientação, se afundam nas centenas de coisas que abriram e não conseguem dar conta de fechar. Mas então, veio aquele último sentimento amargo: e se for tudo verdade?. Minha mãe sempre dizia que onde há fumaça, há fogo. Senti uma necessidade imensa de ir atrás da verdade, de ligar para as pessoas que conheço para saber o que estava acontecendo, eu queria que alguém me falasse: é tudo mentira, a noticia é fake. Mas o que eu encontrei foi o oposto. 

 No meio desse mar de decepção que mergulhei, parei de pensar nele e comecei a pensar em todas as empreendedoras e todos os empreendedores que estão sujeitos a cair na mesma armadilha, e no papel e responsabilidade que as organizações que os "apoiam" temos em tudo isso. E escrevi "apoiam" entre aspas, porque, infelizmente, o que mais tenho visto são organizações que se apoiam no empreendedor e não o apoiam, que o promovem, mas que se promovem em cima dele.

Vivemos tempos em que é bonito mostrar que você apoiou o empreendedor ou a empreendedora da favela a crescer, quanto mais inspiradora for a história, mas ibope ela dá, quanto mais difícil foi a vida dessa pessoa, mais manchetes ela vende, quanto mais inédita for sua conquista, mais público atrai, quanto mais cresce, mais a organização "apoiadora" ganha. Mas quem cuidou da vida dele? Quem se importou em perguntar se o negócio estava indo bem? Quem sentou com ele pra fazer as contas e alertar que se ele continuasse abrindo frentes de ação sem ter lastro ia se dar mal, que se ele não pagasse direitinho os funcionários, ele teria sérios problemas. Mais de 30 veículos de mídia glorificaram suas conquistas, mais de 20 organizações e empresas apostaram, investiram e premiaram suas ações. Uma legião de fãs o impulsionava. Mas eu não sei quantas pessoas de fato o ajudaram. Eu não sei.

 Esta história não é só dele, tem milhares de empreendedores que estão sendo empurrados, literalmente, para o "sucesso", sem ter sequer pagado as contas do mês passado. O palco pode ser um grande aliado, mas pode ser teu pior inimigo. É preciso que a pessoa seja muito pé no chão pra não se perder, e sabe como isso é difícil?

 Eu faço um apelo hoje, a todas as organizações que apoiam empreendedores pelo Brasil: Chequemos informações, mas acima de tudo, CUIDEMOS DAS PESSOAS.