O Falso Dilema das Redes
O documentário O Dilema das Redes não traz muitas novidades para quem, como eu, já atua no mercado Digital, há mais de 20 anos. Entretanto pode ser um choque para o usuário comum, desatento ao uso de olhos vendados não só das redes sociais, como também de aplicativos e até serviços de email gratuitos.
Que estamos 24 horas expostos à captura de nossos dados pelo Google, Facebook e demais plataformas digitais isso não é nenhuma novidade. Mas, escancarar essa prática, num documentário de acesso mundial impulsiona a relevância do fato e gera o debate sobre tema. E isso é muito bom.
"Quando não se paga pelo uso, você é o produto"
É claro que é assustador assistir ao depoimento daqueles que foram responsáveis por erguer todo esse sistema de invasão de privacidade e uso indiscriminado de dados. Quando ex-funcionários do Google e Facebook dão a cara à tapa e fazem o mea culpa o fato torna-se ainda mais estarrecedor.
Mas acredito que é preciso assistir ao documentário com uma visão crítica. Será que devemos creditar toda a culpa aos donos do Google e Facebook? Qual o papel do usuário nessa relação? Proponho essa reflexão porque vejo diversos colegas que atuam na área Digital há muito tempo dando permissão para que aplicativos engraçadinhos como o FaceApp por exemplo, invadam sua privacidade e “roubem” seus dados pessoais de forma consensual.
Outro dia ouvi uma frase que me fez parar para pensar. Sempre condenamos o algoritmo e o colocamos como o vilão de toda essa história. Mas não percebemos que “o algoritmo somos nós”. A máquina está ali, pronta para fazer um mapa de tudo o que somos, o que gostamos e o que desejamos, mas quem alimenta essa máquina somos todos nós. O algoritmo não coloca uma arma em nossa cabeça e pede nossos dados à força.
Eu acredito que um documentário como o Dilema das Redes seja legítimo do ponto de vista de tornar público como todo o sistema funciona. Em contrapartida espero que a partir de agora os usuários - que no documentário são comparados aos usuários de drogas por ser a rede social um mecanismo viciante, e de fato é - passem a utilizar as plataformas, aplicativos e serviços de email de forma mais cuidadosa.
Afinal, vamos combinar que ninguém lê as letras miúdas dos termos de uso de nenhuma dessas plataformas e é lá que está a autorização para que todas elas virem nossas vidas do avesso e ganhem muito dinheiro com publicidade.
Uma outra frase que ouvi e que merece uma reflexão: quando não se paga pelo uso, você é o produto.
Não se trata apenas de buscar e apontar culpados (empresas, usuários, Estado, mídia etc). Entendo que é preciso voltar a atenção para a Educação. É preciso dar mais espaço para que as crianças cresçam com discernimento. Não é mais apenas aprender matemática, português e inglês. Antes de projetarmos nas crianças a nossa vontade de nos tornarmos CEOs precisamos ensiná-las a pensar, desenvolver o senso crítico, o espírito de coletividade e de responsabilidade. Dessa forma, saberão utilizar as redes de forma inteligente.
Usar as redes sociais com parcimônia e por que não, com uma visão mais crítica é o caminho. Culpar um universo que também promove o bem social, a solidariedade, atividades de interesse coletivos, campanhas de conscientização e de cidadania que geram pertencimento, conectividade e empatia pode ser sim, um grande equívoco.
E vocês, o que acharam do documentário? Quais lições podemos tirar? Deixe seu comentário.
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