O FUTURO DAS PROFISSÕES E AS PROFISSÕES DE FUTURO

O FUTURO DAS PROFISSÕES E AS PROFISSÕES DE FUTURO

(artigo na visão 22 de Abril)

[Diálogo sarcástico entre um empresário industrial e um responsável sindical quando visitavam uma fábrica robotizada onde se construíam carros] Empresário: Como fará estes robots pagarem a cota do sindicato? Responsável sindical: E como fará o senhor para que eles lhe comprem os seus carros?

Vivemos numa época em as empresas batem sucessivamente recordes de facturação, em que vários índices bolsistas vão renovando os seus máximos e em que os índices de produtividade aumentam. Tudo isto se deve, em grande parte, à automatização de processos e à substituição de mão-de-obra humana por robôs ou similares. E é exactamente por isso que vivemos numa época marcada por uma enorme divergência nos retornos de capital e trabalho, tal como podemos ver no gráfico abaixo, onde se apresentam os lucros de empresas nos EUA e os salários totais não-agrícolas, ambos em percentagem do PIB.

Será então importante perceber que profissões teremos no futuro. Nas próximas décadas não serão certamente as mesmas, quer em áreas mais operacionais, que serão rapidamente substituídas por máquinas ou androides actualmente em desenvolvimento, quer nas restantes áreas.

UMA FUNÇÃO É O QUE CADA UM FAZ DELA

Não pense que isto não o afectará, pois a mudança já está a acontecer e será cada vez mais rápida!

Começo por definir o que é uma função: e, sim, uma função é o que cada profissional faz dela. Títulos e funções todos temos, mas há sempre quem vá mais além e entregue mais do que lhe é solicitado. E são esses profissionais que definem as novas profissões, acrescentando ou aprofundando temas a uma função já existente. A título de exemplo, considere designações como Chief Transformation Officer (CTO) ou Chief Digital Officer (CDO), ambas derivadas ou fusionadas a partir de Chief Operating Officer (COO),Chief Technology Officer (CTO) e/ou Chief Information Officer (CIO).

Esta mudança constante conduz a um novo paradigma na gestão de carreiras, pois muitos profissionais passarão a ter micro-carreiras ou vários postos de trabalho. As carreiras serão mais complexas, fragmentadas e cada vez mais especializadas, mas simultaneamente com um maior cooperativismo e alavancagem em parcerias.

É difícil que as universidades consigam acompanhar o ritmo frenético do mercado e adaptar em tempo útil os seus programas, levando-nos ao ponto em que as licenciaturas, que continuarão necessariamente a existir, passem a ser uma base ou, usando as palavras do Professor Adriano Moreira, “uma licença para aprender”.

SECTORES PARA O FUTURO

E quais são afinal as principais tendências? Com base em vários estudos e na minha experiência, a área tecnológica é a que maior diversidade de funções albergará, mas existem outros sectores tão ou mais interessantes. Conheça quais.

Saúde: vivemos numa sociedade cada vez mais envelhecida, com uma esperança média de vida que sobe de forma constante. Não é portanto de estranhar que os profissionais deste sector sejam cada vez mais requisitados. Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, auxiliares de saúde ao domicílio, farmacêuticos (não para trabalharem em farmácias) e especialistas de serviços gerais para a terceira idade serão disso exemplo.

Energia: energias alternativas (eólica, geotérmica, solar, hidrogénio) irão criar dezenas de novas carreiras, sobretudo nas engenharias, mas também em áreas de vendas e marketing.

Direito: direito Internacional e propriedade intelectual são os grandes tópicos para esta área. Com o crescimento da economia global, as organizações necessitam de especialistas que lhes permitam navegar por entre reguladores, códigos de impostos e de direito do trabalho, áreas ambientais, de propriedade intelectual, e até mesmo ética.

Online marketing e conteúdos: o marketing tem a curiosidade de passar de função a sector, tal é a complexidade do tema. O marketing (e as vendas) continuarão sempre a existir, mas a forma de os realizar será diferente. A estes profissionais vai exigir-se que dominem a blogosfera, as redes sociais e outras formas criativas de entender o consumidor.

Tecnologia: está e estará presente em praticamente todos os outros sectores, portanto o foco será em áreas tão distintas como digital health, fintech e mobile payments, machine to machine, internet of things e 3D printing. Todas estas áreas são demasiado interessantes para as tratar sucintamente, pelo que os convido a pesquisarem sobre os temas.

NOVAS PROFISSÕES

A tendência mais forte e evidente é que nas áreas tecnológicas nascem mais frequentemente novas profissões. São disso exemplo, os data scientists, UX designers, developers, cloud computing specialists, robotic engineers, drone controllers ou ciber security experts. Mas outras profissões terão que ser acrescentadas ao espectro de funções já existentes. Espere assistir ao crescimento dos arquitectos de realidade aumentada, seed capitalists (investidores especializados em startups) e traders de moeda alternativa (vários negócios online já são feitos com base em moedas alternativas, como a bitcoin).

E depois assistiremos ao nascimento de profissões ainda mais originais: consultores de privacidade (obig brother em que vivemos gera preocupações e a assistência especializada para gerir e proteger informações pessoais será uma real necessidade), bots specialist (criar e gerir contas falsas de media para ajudar na promoção de produtos), especialistas de crowdfunding (com uma necessidade crescente de financiamento, as empresas e organizações empregarão quem as ajude a angariar capital e a promover as suas causas), recrutadores especialistas em empregos futuros (a velocidade do mercado de trabalho não será aplacada pela especialização sectorial e os recrutadores terão que saber muito mais sobre as funções, presentes e futuras) ou desorganizadores organizacionais (alguém com capacidade de criar disrupção corporativa sobretudo em empresas que não consigam acompanhar a evolução do mercado).

NOVAS FUNÇÕES AO NÍVEL DOS BOARDS (C-LEVEL)

Para além das referidas anteriormente, importa enumerar exemplos ao nível dos boards, já que serão estas as funções com maior amplitude e responsáveis pela gestão dos novos profissionais. Um fenómeno organizacional curioso é que algumas destas posições têm surgido em contextos de retenção de talento. Criam-se funções que anteriormente não existiam, não apenas porque determinada área assume importância no negócio, mas também por necessidade de retenção de pessoas.

Chief Hapiness Officer (CHO): tem como missão aumentar o engagement dos colaboradores, motivando-os e elevando os seus níveis de desempenho. Esta é ainda tipicamente uma função desempenhada pela área de recursos humanos.

Chief Revenue Officer (CRO): tem como missão aumentar o desempenho financeiro, de forma a garantir o máximo retorno para a empresa e seus accionistas.

Chief Data Officer (CDO): responsável pela agregação e boa utilização da informação como um activo da empresa, através do processamento de dados, análise, troca de informação e outros meios.

Chief Experience Officer (CXO): não confundir com CxO que serve para representar qualquer um dos C-Levels. Será o responsável pela experiência global ao nível de produtos e serviços comercializados pela empresa.

Chief Diversity Officer (também CDO, mas com outro propósito): responsável pela estratégia de diversidade e inclusão, um tema cada vez mais presente na agenda das empresas.

Em conclusão, lembre-se que novas profissões estão e continuarão a ser criadas, mas que tantas outras irão desaparecer. A grande diferença para o que já vivemos é o ritmo a que estas mudanças acontecem. No espaço de 10 anos, muitas das funções que hoje conhecemos estarão diferentes. Muito diferentes. E, como já referi em artigos anteriores, os profissionais que mais rapidamente se adaptarem a estas mudanças e, idealmente, os que se conseguirem antecipar ou liderar o processo evolutivo, terão uma enorme vantagem na gestão e progressão da sua carreira.

* (O autor escreveu este texto com base na ortografia antiga)

Cláudia Vaz

Business Partner para Filorga | SVR | Lazartigue

8 a

Chief Hapiness Officer... Gosto!!!

Paulo Nogueira

Manufacturing and Process Engineering Manager na Continental Advanced Antenna Portugal

8 a

Temos que nos monir de ferramentas e pensarmos no que sempre nos diferenciará dos robots, como não ser sempre racionais, a capacidade de julgar pela emoção e não pela razão, e quebrar as regras e ortodoxias. É apenas a minha opinião é excelente artigo.

Tiago Monteiro Brandão

The Browers Company || Super Bock Group || R&D || Innovation || HR || Brewing || European Brewery Convention ||

8 a

Gosto especialmente do excerto: "(...) ou desorganizadores organizacionais (alguém com capacidade de criar disrupção corporativa sobretudo em empresas que não consigam acompanhar a evolução do mercado)(...)" Belo ensaio!

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