PROCURAM-SE MENTORES
Todos devem ter um mentor! Independentemente de o seu objectivo ser desenvolvimento pessoal, profissional, a criação de um negócio, melhorar a performance ou simplesmente trocar ideias, deve procurar ter um mentor que o ajude em todas estas etapas (artigo na Visão 9.3.2018)
Ninguém se deve considerar acima de todos os outros, com demasiado sucesso, demasiado inteligente ou experiente para ter um mentor. A maioria das pessoas bem-sucedidas tem ou teve mentores. Os CEO’s de grandes empresas procuram ter um mentor, e em alguns casos estes mentores são muito mais jovens e inexperientes profissionalmente (reverse mentoring), mas têm experiência comprovada na nova dinâmica dos mercados e do mundo.
Alguns dos casos mais conhecidos são de Mark Zuckerberg, que teve em Steve Jobs um mentor e de Warren Buffett, que foi mentor de Bill Gates. Já um caso diferente é o da CEO da General Motors, Mary Barra, pois optou por ter mais que um mentor e refere que o seu sucesso se deve a esta diversidade de opiniões e conselhos que colecionou.
Mentoring é um processo que pode tomar diferentes formas, mas que tem sempre como objectivo o desenvolvimento profissional e pessoal de ambos os intervenientes. Sim, a relação e o conhecimento não são unidireccionais, o mentee também ensinará o seu mentor e por isso este processo se torna tão rico e tem cada vez mais seguidores.
COMO COMEÇAR
A forma mais comum é através do denominado business mentoring, ou seja, uma relação que se inicia dentro da empresa ou contexto profissional que ambos frequentam. Em muitas empresas já existem programas estruturados de mentoring, contudo estes podem ser algo limitativos pois, normalmente, não dão a liberdade de o mentee optar pela pessoa ou perfil (caso não conheça) em quem mais acredita ou com quem mais se identifica para ser o seu mentor.
Uma outra forma de iniciar um processo, caso tenha mais dificuldade em identificar alguém e/ou se a sua empresa não tem este programa, é juntar-se a comunidades de mentoring abertas a diferentes participantes. Algumas estão relacionadas com universidades, escolas, associações profissionais, outras até mesmo com o género, como é caso de uma rede internacional para mulheres. Desde que o factor presencial esteja garantido penso que todas são opções. Já em relação às plataformas de mentoring online tenho muitas reticências sobre a eficácia das mesmas. Conheço alguns exemplos de sucesso, mas normalmente a relação fica sempre por um nível de superficialidade e rapidamente se perde o contacto. Idealmente, uma relação de mentor-mentee deve ser longa e estável para poder dar verdadeiros frutos. Deve ainda ser possível entrar num campo mais pessoal para ser possível identificar as verdadeiras motivações, receios e sonhos de cada um.
Mas a mensagem mais importante sobre o como começar é: tenha a audácia de dar o primeiro passo e convidar uma pessoa que considere interessante, pessoal e/ou profissionalmente, para ser a sua mentora. Surpreenda-se e verá que a probabilidade desta aceitar é muito elevada, não só porque também percebe que pode aprender consigo, mas porque esta é também uma forma genuína de reconhecimento.
RELAÇÃO MENTOR-MENTEE
- Estabelecer objectivos: Depois de ter escolhido, ou de lhe ter sido designado um mentor, é fundamental conversarem de forma transparente e pragmática, revelando quais os objectivos de cada um e qual o plano a seguir para se conseguirem atingir esses objectivos. Por exemplo se o mentor for um expert numa determinada área de negócio de interesse para o mentee podem começar por falar tudo sobre esse sector. Se por outro lado a perspectiva for de desenvolvimento de carreira é fundamental perceber onde pretende chegar e como.
- Follow-up e feedback: Esta relação tem de ser alimentada, ou seja, tem de se manter o contacto com regularidade, sendo que aqui a agenda deve ser definida pelo mentee. Posso partilhar que já tive vários mentees, e que alguns são hoje meus amigos, mas tive o caso de um mentee que após a conversa inicial desapareceu durante quase um ano e quando reapareceu só o fez por estar com dificuldades em obter alguns contactos. Ora, a relação de confiança que se deve estabelecer nunca aconteceu pelo que ter voltado só com o intuito de pedir um favor não ajudou a que a relação se mantivesse. O mentee deve ainda ter a preocupação de dar um feedback regular sobre as acções que definiram em conjunto de forma a que o mentor perceba que algo está a ser feito, mas também para se perceber se têm de mudar algo no plano definido.
- Confiança e network: Existindo a relação de confiança é muito interessante que ambos possam alavancar os seus contactos na rede de contactos do outro. Muitas vezes as oportunidades surgem através deste network e certamente o mentor irá ajudá-lo a agendar reuniões com as pessoas certas para o seu objectivo.
- Rever objectivos: De forma a que não se perca o foco, nem a capacidade de desenvolvimento dos envolvidos é importante revisitar os objectivos iniciais e, se necessário, ajustar. Naturalmente isso acaba por acontecer, mas é sempre bom fazê-lo de forma consistente, regular e com espírito critico.
- Evitar a clonagem: Um mentor e um mentee têm de ter a capacidade de escutar activamente e de não tentarem moldar o outro à sua imagem. Esta questão normalmente coloca-se mais do lado do mentor, pois muitas vezes revê-se na pessoa mais júnior à sua frente e tenta que este siga os seus passos, o que nem sempre é o mais adequado e pode, inclusivamente, ser contra os objectivos do mentee.
- Sem barreiras: É ainda fundamental que o mentor possa perguntar o que quiser ao seu mentee, mas que evite dar as respostas a essas perguntas, devendo sim apresentar diferentes opções e/ou colocando mais questões. A partilha de experiências do mentor ajuda o mentee a encontrar uma solução para os seus problemas ou questões.
- Sair da zona de conforto: Conhecendo os pontos fortes e a melhorar do seu mentee, o mentor tem de fazer com que este saia da sua zona de conforto, guiando-o de forma a que arrisque e possa chegar aos seus objectivos, por vezes, de uma forma inesperada até para ambos.
Em suma, esta relação tem de ser equilibrada, ou seja, ambas as pessoas têm de perceber que podem ganhar com os conselhos e experiências de cada um. Atingir o sucesso não é, nem nunca será, o trabalho de uma só pessoa. Como mentee, no final, agradeça e retribua tornando-se um mentor e verá como também poderá ensinar e aprender com os futuros mentees. Retribua!
* (O autor escreveu este texto com base na ortografia antiga)
Content creator || World(s)-changer || Galp Digital Ambassador
6 aPatrícia Correia