O impacto da informação digital na atualidade: Será que o ambiente pode favorecer ou prejudicar a saúde respiratória de crianças?

O impacto da informação digital na atualidade: Será que o ambiente pode favorecer ou prejudicar a saúde respiratória de crianças?

Artigo pulicado na 27° Carta de Conjuntura do Observatorio de Pol. Púb. Empreend. e Conjunt. CONJUSCS de Novembro de 2023.


Autora: Claudia Tavares Alvarenga. Especialista em fisioterapia respiratória e terapia intensiva neonatal e pediátrica e atualmente a frente da Startup GetinOxy , uma Health Tech voltada para soluções em saúde da respiração e incubada no Hub INOVA USCS - Universidade Municipal de São Caetano do Sul

 

Nos últimos anos, mais pessoas pesquisaram informações de saúde de forma online. Devido a crescente utilização da internet, a análise de dados baseados na web sobre questões de saúde pública tem se tornado cada vez mais relevante para compreender os interesses e necessidades de uma população com a finalidade de ajudar a prever surtos de doenças e reduzir taxas de hospitalização.

Para um conceito ampliado de saúde, é fundamental um conceito igualmente ampliado de informação. É isso que pesquisadores da área de informação em saúde têm buscado implementar nos últimos anos. Mais do que um conjunto de dados sobre doenças, o que se defende é que informação em saúde, como campo teórico e operacional, diz respeito ao monitoramento das condições de vida da população, de uma política nacional de informação e informática na saúde que prime pelo controle social e pela utilização ética e fidedigna de dados produzidos com qualidade, seja em relação ao cidadão, seja em relação aos gestores da área da saúde, todos no molde estabelecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O termo infodemia é derivado do conceito de infodemiologia, criado pelo professor Gunther Eysenbach, um pesquisador alemão-canadense especialista em política de saúde, eHealth e informática de saúde do consumidor. Esse termo significa “a ciência da distribuição e dos determinantes da informação em meio eletrônico, especificamente na internet, com o objetivo definitivo de informar políticas públicas de saúde”. No Brasil, o termo infodemia foi incorporado ao nosso idioma pela Academia Brasileira de Letras como: “denominação dada ao volume excessivo de informações, muitas delas imprecisas ou falsas (desinformação), sobre determinado assunto (como a pandemia, por exemplo), que se multiplicam e se propagam de forma rápida e incontrolável, o que dificulta o acesso a orientações e fontes confiáveis, causando confusão, desorientação e inúmeros prejuízos à vida das pessoas.”

Artigos científicos publicados em jornais de acesso aberto têm impacto maior e são citados com maior frequência do que estudos de leitura paga por exemplo, em estudo realizado previamente por Eysenbach. Entretanto, isso pode não estar relacionado a qualidade dos mesmos. Na pandemia da Covid-19, houve um aumento da presença de contradições que, levaram parte considerável da população a uma dissonância cognitiva, caracterizada pelo volume exponencial de conteúdo disponível na rede mundial de computadores sobre a doença. Desde então, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a empregar o termo infodemia, para designar o excesso de informações, precisas ou não, que tornam difícil encontrar fontes idôneas e orientações confiáveis quando se precisa. Segundo a OMS, apenas em março de 2020, quando foi declarada oficialmente a emergência de saúde pública decorrente da pandemia do novo coronavírus, foi possível computar a publicação de 361 milhões de vídeos, 19.200 artigos e 550 milhões de tuítes relacionados aos termos.

 

Quando se trata de doença respiratória pediátrica uma das palavras mais acionadas nos motores de busca ainda é a Asma, que se caracteriza por uma doença inflamatória crônica das vias respiratórias não transmissível e de grande relevância mundial. A Google, uma famosa plataforma de busca, tem a maior quota de mercado em toda a Europa, com mais de 90% dos acessos aos seus motores de pesquisa. Análises anteriores examinaram consultas de buscas on-line sobre asma, concentrando-se principalmente nos seus gatilhos como a rinite alérgica na temporada de pólen, usando o número relativo de pesquisas.  Ainda faltam estudos que comparem o número absoluto de pesquisas por diferentes termos de pesquisa sobre asma em países europeus para investigar possíveis necessidades não satisfeitas na população europeia.

Um dos benefícios do acesso à informação a assuntos de saúde pode estar relacionado a análise de dados de crowdsourcing que é a colaboração coletiva, por meio da internet, utilizada por empresas, governos e organizações sem fins lucrativos para projetos voltados para ajuda na compreensão do interesse público e as necessidades não atendidas, bem como os fatores potenciais que influenciam o comportamento de uma determinada doença e seu tratamento, aumentando a chances de uma abordagem mais assertiva.

Entretanto, ainda é dissonante, sobretudo em países como o Brasil, informações relacionadas ao tratamento desse tipo de doença e tantas outras. Há cerca de três anos passaram a circular massivamente informações divulgadas por profissionais de saúde em plataformas de vídeo e redes sociais sobre a forma de avaliar se um inalador pressurizado ou mais comumente conhecido como bombinha, continha em seu interior o medicamento após seu uso recorrente, ou se o mesmo já estava vazio. Isso porque, mesmo sem a droga, ao ser pressionado, o mesmo podia ainda emitir o aerossol, no entanto, sem medicamento em quantidade adequada tornando-se pouco ou completamente ineficaz. No entanto, não existia qualquer evidência científica que baseasse a prática garantindo segurança, e tão pouco concordava com a recomendação do próprio fabricante do medicamento.

Segundo Eysenbach, 2002, uma das soluções propostas seria “identificar áreas com uma lacuna de tradução de conhecimento entre as melhores evidências (o que os especialistas sabem) e a prática (o que as pessoas fazem ou acreditam), bem como de marcadores para informação de “alta-qualidade”. Sua proposta procurava estabelecer os critérios para identificar e marcar os sites sobre saúde com informações confiáveis e os que não continham informações com comprovação científica.

 

A infodemia ou a Information Network for Epidemics (EPI-WIN) é a rede responsável, dentro da OMS, para estruturar, estabelecer e implementar o saber infodemiológico global. A EPI-WIN é uma iniciativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), com a cooperação da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), além de instituições e parceiros locais, regionais ou globais, ligados a governos e Estados ou não. Além da missão de consolidar a infodemiologia como a ciência de gerenciamento de infodemias, seja organizando conferências, cursos de treinamento em infodemiologia, ou publicando documentos sobre a disciplina, ela trabalha também com o intuito de compartilhar esses conhecimentos para as instituições de governo e da sociedade civil interessadas em ter um parâmetro homogêneo e adaptável para efetivação de políticas públicas. 

Resultados preliminares de uma pesquisa em andamento na Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) em parceria com a health tech GetinOxy, demonstra real preocupação com a falta de conhecimento sobre a técnica correta no uso de bombinhas pelos pais e cuidadores de doentes respiratórios. Quando entrevistados, médicos pediatras do sistema público e privado de saúde do município localizado no Estado de São Paulo ressaltam a desinformação ser um fator limitante no que tange ao sucesso do tratamento de crianças com essas desordens, seguido de mitos atribuídos aos efeitos adversos ao tratamento, podendo ambos os achados estarem relacionados a pobres iniciativas atuais em informar qualitativamente essa população.

Um estudo realizado por Wercker et al. publicado em agosto deste ano, investigou dados de pesquisas na Internet relacionados com a asma na Europa para identificar possíveis variações regionais e sazonais e avaliar o interesse público relacionado ao assunto.

A análise da pesquisa na web demonstrou fornecer informações sobre as tendências e interesses relacionados com a asma. Evidenciou um elevado nível de interesse nos sintomas e tratamentos da doença e dos seus subtipos, sugerindo a necessidade de uma educação rigorosa e específica para cada região sobre o conhecimento da doença bem como campanhas de saúde pública para o melhor controle. Categorias analisadas como “remédios naturais/caseiros” e “tratamento” tiveram maior interesse na Europa Oriental e Sudeste do que em outras regiões, o que pode ser explicado pelo medo e estigma da asma nestes países.  Outra razão pode ser o mau controle da asma e a falta de cuidados e serviços farmacêuticos nestas regiões.  O elevado interesse em sintomas e tratamento em todos os termos de pesquisa pode indicar uma necessidade não satisfeita de sensibilização para a doença e de subtratamento da mesma. 

Segundo texto publicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) no ano de 2022, a denominada infodemia pode ser encarada como algo mais grave do que a própria pandemia enfrentada nos anos anteriores. Isso porque, segundo a OMS, a hesitação, fruto da desinformação e compartilhamento das chamadas fake news, ameaça reverter o progresso feito no combate às doenças evitáveis por meio de vacinação. Grupos de movimentos antivacina tem avançado e gerado grande preocupação para a saúde pública.

A SBP enfatiza sobre a necessidade em apoiar pais e cuidadores com dúvidas sobre a saúde respiratória de suas crianças, ressaltando que a “desinfodemia” novo termo atribuído, costuma apelar para o sensacionalismo distorcendo dados, atribuindo mortes por outras causas às vacinas por exemplo, alardeando reações adversas descaracterizadas dos números reais investigados e notificados mundialmente. O órgão e seus canais além de apoiar os pediatras com atualizações frequentes, disponibiliza informações confiáveis para todos que cuidam de crianças e adolescentes, com a finalidade de combater a “desinfodemia”, concluindo que decisões equivocadas, não pautadas na ciência, podem causar sequelas permanentes e até a morte de bebês, crianças e adolescentes de maneira exponencial.

Fica evidente que promover o uso inovador, criativo e transformador da tecnologia, de maneira que esta possa propagar informações para os cidadãos com a geração de conhecimento, garantindo ganhos de eficiência e qualidade e, contribuindo para a melhoria da situação de saúde da população de forma otimizada é fundamental, desde que, haja um trabalho paralelo de grandes organizações como as citadas nesta nota de fiscalização destes canais e primordialmente campanhas de conscientização para as populações para que estas possam adquirir a habilidade de reconhecer fontes seguras e de credibilidade. Uma grande oportunidade para healthtechs que apresentam por meio de plataformas em nuvens e aplicativos mobile soluções relacionadas às melhorias na informação, gestão, diagnóstico, acompanhamento de pacientes, logística de medicamentos, e outras funcionalidades na área da saúde.

 


Vera Rejane Walter

Proprietária APE71 GESTÃO IMOBILIÁRIA

1 a

Que orgulho ! Parabéns Claudia!?

Ellen Tavares

Estudante na Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo

1 a

Que demais!👏🏼👏🏼

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