O início da minha trajetória profissional

Virei CEO, olhei para o lado e percebi que não conhecia nenhuma outra mulher nesse cargo. E agora? 

 Almejar sucesso na carreira profissional é cada vez mais o desejo de muitas mulheres - ainda bem! Mesmo a passos lentos, o mercado de trabalho vem se tornando mais democrático e estamos construindo alicerces importantes. 

Chegar ao cargo máximo de uma empresa, exige muita dedicação, planejamento e trabalho duro, e isso todo mundo já sabe. Mas o que pouca gente sabe é que quando você chega lá e busca uma referência feminina, é bem possível que não encontre ninguém. Quando pequena, aprendi que uma maneira muito eficiente de aprender rápido: buscar referências, sejam pessoas, empresas, livros... Agora, como agir quando isso não acontece? 

  Desde que iniciei minha carreira e em toda minha vida, me inspirei em pessoas. No começo, ainda como analista, olhava para o lado e identificava quem eram as mulheres que eu mais admirava e, assim, logo eu me aproximava. Eu parecia um ímã, queria copiar comportamentos e habilidades. Lembro que, no meu primeiro emprego, tive a oportunidade de trabalhar com uma profissional maravilhosa, a Carine. Eu achava mágico tudo que ela fazia... até nas roupas, comecei a me inspirar. Muito da minha forma de trabalhar veio dessa experiência. 

Quando entrei como trainee da Saraiva, fui observando todas as gestoras da empresa. Analisava tudo: como elas se comportavam, como falavam, o que os demais pensavam delas... Acompanhava como elas conduziam as reuniões, se posicionavam, como viviam a vida e sempre buscava replicar alguns de seus comportamentos no meu dia a dia. Assim, me sentia mais protegida e pensava: “se elas agem assim e funciona, vai funcionar para mim também!”.

O pensador e filósofo Confúcio afirmava que “Quando encontramos pessoas de valor, devemos pensar em como podemos ser iguais a elas”, e é nisso que eu acredito. E mais: acredito que o ser humano sempre busca uma referência. Basta olhar para as crianças: suas primeiras referências são os pais, o que faz com que seus comportamentos sejam um reflexo dessa relação.

Assim, aos poucos, fui construindo minha identidade pessoal e profissional: uma composição de inúmeras referências e, obviamente, do meu perfil e personalidade. 

Esse processo de inspiração sempre fez parte do meu desenvolvimento. Quanto mais eu crescia na carreira, alçando novos voos, como coordenadora, gerente, diretora, COO, CEO, mais percebia que o número de mulheres nessas funções era cada vez menor. Até o nível de gerência, é comum termos muitas mulheres, mas, ao olharmos para a diretoria, isso diminui. Quando se tratam de cargos no C-level e conselho, isso cai drasticamente: um levantamento feito pelo IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), em 2021, avaliou 295 empresas brasileiras e mostrou que em 22,4% delas não há nenhuma profissional no C-Level ou em seus conselhos, acreditam?

Nunca foi meu estilo reclamar e não seria diferente nesse momento, mas é fato que isso gera um desconforto e certa preocupação. Se não conheço nenhuma CEO, será que essa posição é para mulheres? A resposta é sim, essa posição é para nós, mulheres, também! Ainda que tenhamos que cuidar das questões que são intrinsicamente femininas, como maternidade, conciliar agendas e lidar com todos os desafios que um cargo como esse oferece. 

 Infelizmente, as referências que podem nos inspirar e levar meninas a sonharem em ser também profissionais de alto nível são poucas ou, às vezes, nem existem. Por isso, precisamos cumprir esse papel e, nesse sentido, buscar conselhos de outras mulheres que já viveram experiências parecidas pode fazer toda a diferença: conversar com uma mãe que precisa conciliar maternidade com um trabalho de alto nível é melhor do que não falar sobre o tema; se desenvolver com pessoas que já viveram esse desafio é cortar caminho; aprender com os erros dos outros pode nos ajudar redirecionar trajetórias. 

E na minha posição? Qual parte desse desafio cabe a mim? Como mulher e profissional com perfil de liderança, espero que cada vez mais executivas consigam quebrar paradigmas, ultrapassar obstáculos e me coloco à disposição para que todas as mulheres da minha rede me procurem para conversar e trocar ideias e vivências.