O Líder e seus castelos
Meu castelo desmoronou.
Recentemente, recebi uma carta dos colaboradores da empresa mediada de maneira brilhante pela Tania Savaget. A carta era parte de uma das atividades de imersão que tivemos para pensar o futuro da empresa.
Consegui lê-la apenas quatro vezes até agora e só consigo escrever sobre depois de uma jornada profunda de auoconhecimento que me gerou vergonha do que está escrito lá até hoje.
Do que consigo compartilhar, dizia o quanto eu inspirava pela inovação, a aplicação em buscar alternativas extraordinárias aos clientes e... se sentiam incomodados por não responder as mensagens, não compartilhar para dentro da organização o que estava fora nos clientes, o quanto meu ritmo desrespeitava processos internos e consequentemente o trabalho das pessoas, com convites e pedidos explícitos sobre impacto desses comportamentos para elas.
Pensei que: invisto a vida em cuidar de líderes e não cuidei de aspectos básicos da minha própria liderança.
Eu poderia pedir uma roda de diálogo com os colaboradores pra ouvir mais, tentar entender um pouco melhor. Pra quê? Pra tentar submeter meus julgamentos e tentar maquiar o quão ruim eram esses comportamentos para essas pessoas trabalharem comigo. Os pedidos eram claros, explícitos e incrivelmente afetuosos.
Eu senti vergonha. Não se pode ser inspirar a liderança do Brasil (meu propósito e visão) e a prática diária não refletir o que desejo, pensei algo sobre mim que talvez, só talvez, valha pra você que também tem hábito de "conversar com o espalho" (obrigado, novamente, Newton Paskin)
A gente só compartilha estas coisas com quem está na “ arena” - aprendi com a Brene Brown - ou seja, se você leu o artigo até aqui também tem algo a dizer sobre vulnerabilidade (está na arena) que se traduz em coisas que sente vergonha em você e que te geram medo.
Descobri que a gente simplismente não muda. Porque mudar não tem nada a ver com simplicidade. Tem dor, sempre, precisa lançar “nossos castelos” no chão.
Chamo castelos as importantes conquistas do nosso ego (aprendi com a sensível Rhauna Damous o valor do ego, depende que lugar ocupa, se de cavalo ou cavalheiro, se conduz ou se submete). São coisas que nos entregam estima para empreender, troféus existenciais que validam quem somos, prêmios, projetos empreendidos, formação, conquistas familiares e por aí afora. Não há autoestima sem elas, o problema é que nem sempre damos ouvidos as pessoas que estão olhando pra esse castelo e apontando as rachaduras que podem levá-lo ao chão.
Passei a acreditar em mudança que começa com líderes voluntariamente dispostos a derrubar e reconstruir os próprios castelos. Que conseguem chegar nessa condição de medo e vergonha e reconstruir a partir delas algo mais genuíno e poderoso.
Se disseram ao contrário, talvez (e só talvez) você possa ter ficado 03 dias em uma master class com seu guru que diz o quanto suas ruínas são bonitas e patrimônio histórico ou tem sido submetido a processos de avaliação de desempenho que afetam o seu FAZER e não investigam o qualidade do seu SER. São hipóteses para reflexão, não brigue comigo.
Não sou um profeta do fim do mundo, nem cavaleiro do Apocalipse organizacional, mas alguém que passou a acreditar, após acompanhar de perto muitos líderes, que as mudanças organizacionais são falácias se o O LÍDER não derruba os seus castelos pra construir outro no lugar. Um processo genuíno de autoconhecimento e reflexão que nos permite chegar em espaços inexplorados de transformação. Fiz muitos trabalhos mediando feedbacks de equipes à líderes e acompanhando resultados no detalhe. Poucos líderes dispostos a uma agenda profunda de transformação.
Não a toa, um dos poucos frames que faço questáo de seguir passo a passo é o poderoso processo de Robert Keagan no Imunidade a Mudança (Vale ver). Se não atacarmos nossos pressupostos estaremos balançando a ponta do iceberg e mudando nada da nossa direção.
Exige coragem
não podemos eu e você daqui da nossa arena, conviver com essas realidades e sei o quanto doem e são difíceis de sair. Mas também não sei a resposta (pronta, não há) e prefiro nesse caso, no baixo da minha vulnerabilidade, te servir como um poste serve ao bêbado, mais pelo apoio que pela luz.
Tenho aberto diálogo, me observado, conversado com gente que amo, mentores, pedindo ajuda e agindo em favor deles na tentativa de mudar a paisagem do castelo, sem tirar dela a identidade.
Diretora de Pessoas | Alpargatas S.A. | MBA em gestão de pessoas | Liderança | Gestão de carreira | Desenvolvimento | Contribuindo com o desenvolvimento de pessoas e empresas
3 aEstava aqui passeando pelos seus textos e fez muito sentido. Este é um movimento de coragem.
Criador da Metodologia '7Es da Inclusão', reconhecida pelo Selo de Direitos Humanos e Diversidade | Diretor da Fator Diversidade | Professor de DE&I na Pós-Graduação FIA | Jurado do Prêmio Ser Humano ABRH | Desinfluencer
5 aFelipe sendo Felipe... Rsrs... Lembrei de um fato antigo. Um dos melhores professores que tive de uma disciplina de gestão de negócios não fazia gestão de nenhum negócio. Mas, mesmo sem exercer essa função na prática, era bom o suficiente pra inspirar qualquer um a fazer a gestão do seu próprio negócio ou de outros. Era tanto conhecimento, tantas dicas de ouro! Levou muita gente para o caminho do sucesso em gestão. E tá tudo certo. Porque a maioria desses alunos viraram gestores de negócios e não professores universitários. Sabiam exercer muito bem, mas não ensinar. E tá tudo certo tbm. Talvez não dê pra estar em todos os lugares ao mesmo tempo. A gente precisa parar de acreditar e repetir que precisamos exercer e praticar pra poder ensinar, criticar ou inspirar alguém pra algo. Podemos dar modelo e promover inspiração, sem ter que ser pelo próprio exemplo. É preciso ver até que ponto o conceito de imunidade à mudança se aplica pra decidir se a mudança é realmente tbm por nós ou é uma auto mutilação. Às vezes, a vocação tá tão clara e escancarada e a gente fica tentando se enfiar em um espaço redondo sendo que temos uma forma quadrada. Veja o que realmente é preciso (e possível) mudar em você. E o que o seu entorno precisa mudar, seu cenário, seus arredores, pra te caber confortavelmente, explorando seu potencial e vocação. Nem sempre o caminho é retirar a joanete... Às vezes, só precisa de um sapato maior! ❤️
Gerente de RH, HRBP / Gestão de Projetos / DHO, D&I e T&D / Mentora / Coaching / Agilidade / OKR / Gestão da Mudança / Psicologia Positiva / Saúde, Bem Estar, Segurança Psicológica
5 aParabéns pelo relato é hoje os líderes tem o desafio de serem simples e humildes para que possam estar empáticos em seu papel que passa a ser de agentes transformadores dentro da organização e que tem o desafio de conectar o propósito de seus liderados com as organizações. Esse papel não é fácil pois é necessário estar aberto, saber ouvir, ser flexível e muitas vez ter o interesse genuíno pelo outro. Neste momento em que falamos sobre como a vulnerabilidade faz parte de vc ser você mesmo nos faz pensar o quanto temos ainda que transformar neste mundo para que todos entendam esta nova era !
Gerente de Recursos Humanos / HR Manager/ HR Business Partner Manager
5 aGosto da sua abordagem, costumo chamar de “dor do crescimento”, quando vamos ganhando consciência do nosso eu.
Owner, Managing Director of dynargie Yönetim Gelistirme ve Danismanlik A.S., specialists in developing people, Certified Facilitator in the LEGO®️SERIOUS PLAY®️/ Per Kristiansen
5 aHey Matos, long time no hear... hope you are doing well...😊