O lado ;B de uma executiva - Conto 2

O lado ;B de uma executiva - Conto 2

A história da lagartixa desgovernada

Todos os anos tem um evento em Barcelona chamado "Mobile World Congress". Pessoas ligadas ao mundo mobile do mundo inteiro vão ao encontro das novas tendências, busca de novos negócios e novas parcerias. E eu estava lá também, afinal esse era meu mundo!

A feira acontece em Fevereiro, uma época mais fria e assim todos estão super finos com seus ternos e nós mulheres com nossos adereços invernais. Pois bem, eu estava com uma saia lápis (para quem não conhece é aquela que vai até o joelho, mais justa), uma blusa grossa de manga longa, botas e um echarpe. Preciso detalhar a vestimenta para vocês entenderem tudo que aconteceu. Essa saia lápis tem um detalhe... faz você andar como uma gueixa, porque não tem uma abertura lateral grande suficiente para te dar liberdade.

A feira tem umas estatísticas interessantes, mas uma importante que quero que fique na cabeça de vocês é uma quantidade gigante de "japas" (peço licença poética para tratar todos orientais como japas, facilita minha escrita!) que habitam os stands, uma vez que muitas tecnologias vêem de lá!

Eu e o presidente da empresa estávamos passando (eu aos passos de gueixa loira super autoconfiante!!) pelo stand de uma marca famosa de celulares, japa, e resolvemos parar para esperar a próxima reunião que era perto daquele local. Eles estavam lançando o mais novo modelo de celular que revolucionaria, mais uma vez, o mercado! Mas não contavam com a minha presença...

Juro para vocês, era um degrau muito, muito pequeno... foi um pequeno passo para a mulher, mas um gigante passo para ... meu desastre!

Eu comecei a ver o mundo em câmera lenta.. as cabeças, uma mar de japas, cabelos pretinhos e olhos puxadinhos virando e em determinado instante tenho certeza que vi aqueles animaniacs.. os olhos arregalavam e estavam fixos para mim.. eu "catava cavaco", uma expressão mineira para aquele momento que você inutilmente tenta não cair achando que vai conseguir colocar seu corpo sob controle, não conseguia parar e me arrastava pelo salão...

Como uma lagartixa descontrolada, descabelada, desengonçada eu seguia até a maior vitrine daquele celular que estava rodeada de expectadores e eu ia derrubar tudo. Uma voz fulminante veio no meu subconsciente e me disse - Se joga!!! Eu precisava cair, meu espetáculo tinha que ter um fim rápido.. trágico, mas rápido. Não sei se foi meu subconsciente mesmo.. talvez algum japa pode ter gritado para tentar minimizar o estrago que eu estava promovendo!

Caí! Despedacei! Como eu queria ser um avestruz.. queria enfiar a cabeça em um buraco e nunca mais sair dali, mas eu não era.. também não tinha buraco.. só aquele pequeno degrau.

Uma alma divina de olhos puxados, acho que a única pessoa que não se virou de costas para rir descontroladamente quando terminei o show, me deu a mão e me ajudou a levantar.. o presidente? Acho que ele se deslocou para um canto distante e assistiu de camarote.

Levantei, ri, agradeci e marchei, o mais rápido que pude.

Em seguida, chega o presidente e me pergunta se está tudo bem. Claro! Mas eu realmente gostaria de sair dali... então ele me fala: - Temos uma reunião em 15 minutos. Não sei dizer exatamente meu sentimento, mas olhei nos olhos dele e ondas de raiva, frustração e desespero saíram... se você é mulher, se é casado ou namora uma, sabe bem do que estou falando. Falo que vou ao banheiro, mas vou no banheiro lá no Brasil!!

Ele percebe que a reunião não terá a minha participação e se oferece para me acompanhar até a saída.

Segui, queria ir pro hotel, tomar um banho ...e um analgésico! Resolvo passar a mão na parte de trás... minha saia lápis, abriu completamente, meu espetáculo não tinha terminado... peguei minha echarpe, amarrei na cintura e continuei minha saga tentando sair daquele lugar, meu joelho estava esfolado e o sangue começou a descer pelas pernas...

Porque fui olhar pro sangue?? Eu já estava me recompondo! Minha bota estava totalmente rachada. Durante minha queda não sei onde enfiei meu pé com essa bota... só podia ter um liquidificador escondido naquele chão!

Subi a escada rolante, rumo a saída, quando uma voz, desssa vez em alto e bom som, começa a gritar - Ladie, ladie! - WTF????? Me viro e vejo que minha echarpe ficou presa na escada rolante.. minha "b" estava novamente à mostra... e em alto nível, uma vez que eu já estava no topo da escada! Volto, eu já não tinha mais motivos para ter vergonha, já tinha passado dessa fase. Puxo a echarpe com força, eu não puxava só a echarpe, eu puxava minha moral, minha autoestima e soltava a maldição que eu estava rogando naquele lugar!

Sorri, agradeci, amarrei o resto da echarpe na cintura e fui ao banheiro, em Barcelona mesmo, eu precisava entender o tamanho do estrago antes de continuar minha caminhada.

O saldo foi: "b"a mostra, saia rasgada, joelho esfolado, a única bota que eu havia levado tinha passado por uma trituradora, cotovelo roxo e a dignidade no chão. Estava fácil, eu só precisava pintar, cortar o cabelo e engordar 20 kg até o dia seguinte para não ser reconhecida!

Voltei no dia seguinte, loira, já semi-recuperada, de calça e sobretudo. Ao passar pelo meu palco, junto daquele pequeno degrau colocaram uma faixa.. tipo daquelas de cena de assassinato, sabe? Me senti homenageada, quase chorei!

A feira acabou, fizemos bons negócios e hoje conto essa história! Hoje essa história me faz rir e queria dividir com vocês. Momentos ruins, podem se tornar boas lembranças, busque sempre o que há de bom na sua jornada!

Janú



Lendo eu visualizei a cena melhor do que ouvindo!

Christianne Laender

Product Manager | Mobile | Digital | Cloud | Health | Marketing and Sales

7 a

Janu você não existe!

Otavio Melo

Founder CEO at Regenius Group - Regenerative Medicine

7 a

Quanta imaginação !! Não é possível .... você juntou vários episódios em um texto....

Nunca soube dessa sua epopéia. Essas e outras que nos desenvolvem.

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