O PACIENTE ESCOLHE

O PACIENTE ESCOLHE

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Seu João chegou para sua consulta às 9h da manhã, queixando-se que sua visão não andava tão bem quanto outrora. Fez alguns pré-exames, consulta e às 10h já sabia que seu diagnóstico era catarata. Uma segunda consulta foi marcada, para que novos exames pudessem ser realizados e por fim analisados pelo médico.

A catarata é uma doença comumente relacionada a idade e seu tratamento cirúrgico já é consagrado e muito eficaz. Normalmente na jornada do paciente até a cirurgia está inclusa pelo menos duas visitas ao oftalmologista. Entre o diagnóstico e a cirurgia, o paciente precisa decidir qual prótese ocular melhor atenderá suas necessidades.

Seu joão tem 65 anos, é aposentado e possui segundo grau completo. Seu plano de saúde tem cobertura para realizar a cirurgia por completo, porém com os avanços da medicina, ele poderá se quiser, optar por uma prótese ocular diferenciada. O oftalmologista, no que lhe concerne, fará o que for possível para informar e ajuda-lo na tomada de decisão.

Quando olhamos para a literatura médica, Charles et al. apontou em seu artigo sobre parceria entre médicos e pacientes que existem 3 estilos de posturas médicas:

Foto meramente ilustrativa
  • Paternalista: ele informa o paciente sobre suas opções diante do diagnóstico, e prescreve a solução que acha mais conveniente para o paciente;
  • Imparcial: Ele informa o paciente sobre todas as alternativas cabíveis e satisfatórias, e deixa a critério do paciente decidir dentro de um espectro seguro.
  • Consorciado: igualmente informa seus pacientes sobre as opções de tratamento, porém trabalha junto ao paciente na escolha da melhor opção.

Nas observações acima, um mesmo médico pode assumir diferentes posturas com diferentes pacientes. No caso do seu João, o médico preferiu adotar uma posição imparcial e deixou a seu critério escolher a melhor prótese. Ocorre que João, como muitos de sua idade, apesar de ter acesso à ‘internet’, seu uso se restringe as redes sociais e para buscar uma ou outra informação. E como fazer então para ajudar o paciente em sua tomada de decisão?

Buscando na literatura, achamos algumas sugestões em artigos publicados pelo mundo:

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  • Oferecer um material didático contendo um mapa de decisão: neste o paciente poderá refletir quais serão as consequências de cada opção escolhida. Neste mapa, deve conter o custo beneficio de cada opção e seus trade-offs, ou seja, o que ele perde e ganha com cada escolha;
  • Se custo das opções for elevado: deve ser oferecida uma escala de prioridade, ou seja, se o procedimento tiver mais de 2 opções, elas devem vir em uma sequência que o paciente possa escolher aquela que melhor atende dentro do seu orçamento, com os devidos esclarecimentos sobre o risco e o benefício envolvido;
  • Oferecer a possibilidade de uma consulta virtual: para esclarecer dúvidas, contando até com a participação de outros membros da família que eventualmente participem da decisão. Esse método se mostra interessante, pois cessam as barreiras geográficas que uma consulta presencial impõem com relação a tempo e agenda;
  • Usar aplicativos de simulação de resultados: alguns fabricantes oferecem simuladores de visão, em suas plataformas ‘on-line. Cada vez mais, o uso de simuladores e da Gamificação na saúde, tem servido de apoio para ensinar, motivar e engajar pacientes em diversas especialidades.
  • Orientadores cirúrgicos treinados pela equipe médica: podem auxiliar o paciente em suas dúvidas mais corriqueiras. Lembrar que muitas vezes, o paciente pode sair com dúvidas da consulta e um profissional de enfermagem, por exemplo, pode ajudar na intermediação das dúvidas sem a necessidade de marcar uma nova consulta.
  • Usar recursos digitais/visuais: como aplicativos, vídeos e outros recursos enriquecem a visita do paciente ao consultório. Na literatura, encontramos o termo, Health Literacy, que em tradução livre, seria as ações que podem ser tomadas para melhorar a educação do paciente com relação a sua patologia. Quanto mais bem informado o paciente, mais condições ele terá para tomar uma decisão de qualidade.

Por fim verificamos que o tempo de consulta vem decaindo ao logo das décadas, em função de fatores econômicos e sociais, que pressionam os profissionais da saúde a aumentarem sua produtividade. Esse fenômeno mundial é uma tendência em todas as frentes de trabalho e não seria diferente na aérea da saúde. Por isso, encontrar meios de ajudar o paciente a tomar boas decisões é um desafio que deve ser vencido com criatividade, responsabilidade e claro usando de todos os recursos tecnológicos disponíveis no momento.


Sergio Lino - Comportamento do Consumidor - ESPM - Mestrando

CHARLES, C.; GAFNI, A.; WHELAN, T. Self-reported use of shared decision-making among breast cancer specialists and perceived barriers and facilitators to implementing this approach. Health Expectations, v. 7, n. 4, p. 338–348, dez. 2004.

CHARLES, C.; WHELAN, T.; GAFNI, A. What do we mean by partnership in making decisions about treatment ? v. 319, n. September, p. 780–782, 1999a.

DOLAN, J. G.; FRISINA, S. Randomized Controlled Trial of a Patient Decision Aid for Colorectal Cancer Screening. Medical Decision Making, v. 22, n. 2, p. 125–139, 1 abr. 2002.

PYAE, A. et al. Serious games and active healthy ageing: a pilot usability testing of existing games. International Journal of Networking and Virtual Organisations, v. 16, n. 1, p. 103, 2016.

TACEY, D. et al. Decision aids for people facing health treatment or screening decisions. Cochrane Database of Systematic Reviews, n. 4, 12 abr. 2017.

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