O Papel das Universidades Modernas – Parte 1

O Papel das Universidades Modernas – Parte 1

Há anos que debato sobre tal sensível assunto e, confesso, o faço sem quaisquer desejos ou pretensões de parar. Admito que minhas provocações tenham gerado diversas opiniões contraditórias e inúmeros debates, mas nunca falei sobre o tema com intenções indecorosas ou prejudiciais, nem com o objetivo de diminuir valor às suas honras e manchar seu bom nome. Mas, vestido do meu dever cívico, cabe-me atacar a posição antiprogressista e aparentemente académica, que nossas instituições de ensino superior pregam. Gostava de começar a minha abordagem através de um pensamento crítico contemporâneo, por dizer que, o grande debate do nosso tempo já não se pretende que seja limitado apenas a questões de natureza política ou económica, mas deve, sobretudo, expandir-se para um âmbito de carácter moral. Esse deslocamento reflete uma busca por princípios que orientam as ações nas instituições de ensino superior. A minha justificativa para que a transformação do grande debate contemporâneo deve surgir primeiramente nas universidades e outros campos superiores, reside na ideia de que, como centros de ensino, aprendizado e influência, encontram-se no epicentro dessas reflexões, debates, e produzem respostas necessárias às diversas preocupações, capazes de superar as discussões dicotómicas tradicionais: política e económicas.

Acredito que, ao longo do tempo, essas instituições têm demonstrado certa resistência à mudança e à promoção de um ambiente verdadeiramente inclusivo e académico. Porém, ao contrário de todos estes anos – com início em 2014 –, não é minha intenção apenas apontar falhas; desejo, na verdade, levantar um debate e inspirar possível reflexão sobre como as universidades podem se aprimorar e evoluir nesses aspetos crucias.

É na universidade onde devia ser preservado o direito e liberdade individual de falar, sem que o indivíduo seja posteriormente politizado ou combatido. No entanto, o que presenciamos em uma grande maioria das instituições do país é a constante militância contra o pensamento crítico e, este combate é levantado com o objetivo de então formatar, ou seja, escolarizar o universitário para desempenhar comportamentos e atitudes seletas, ao agrado de professores e reitores, daí que dizemos que não podemos continuar a debater sobre política e economia sem falarmos antes da moral. E chego à conclusão de que na academia, não temos apenas barreiras hierárquicas, mas também morais.

Todos os estudantes passam por uma jornada académica na qual sua satisfação muitas vezes está correlacionada à convivência com seus colegas que passam por experiências parecidas dentro do mesmo sistema educacional. Dificilmente encontramos docentes que estejam dispostos a ouvir uma contradição, penso ser exigir demais da minha parte, sendo que é raríssimo, hoje em dia, encontrar docentes que tenham publicado artigos ou livros de sua autoria ou posto à disposição da comunidade científica seus trabalhos de obtenção de grau que ostentam. Ouvir ideias contrárias às suas teorias, é o que torna conhecimento empírico em científico, pois, nenhuma teoria está em concordância com absolutamente todos os factos do seu domínio. A primitiva universidade era uma zona franca para descobrir e discutir ideias novas e velhas. Isto porque os factos se prendem a ideologias mais antigas. Portanto há a vital necessidade que se apresente o contraditório entre os factos e teorias para que se chegue a um progresso. Isso de facto é progressão académica, mas infelizmente testemunhamos uma cultura contra este progresso até mesmo em elaborações de trabalhos finais entre tutores e seus tutorando.

As universidades angolanas salvaguardaram o privilégio de discordar, e o conferiram apenas aos que possuem ligação partidária ou a indivíduos politicamente expostos, através de si próprios ou de seus familiares. Portanto, embora que, o que temos presenciado na estrutura moderna das universidades seja algo totalmente diferente do tradicional onde a pesquisa era o foco principal dos académicos, a academia pode ainda continuar a ser um lugar de avanço científico, pesquisa sistémica e inquietude endêmica e recuperar sua oportunidade desperdiçada de proporcionar um excelente local de encontros autónomos, onde o questionamento anarquista não seja confundido e rotulado com rebeldia. Agora que falei sobre isso, fico também sem saber por que razão um académico devia ser olhado da tal forma, talvez porque entenderam que o maior número de estudante olha para seus estudos como um investimento que lhe trará melhores projeções financeiras, com a falsa ideia de que através da escolarização terão um “bom emprego”, quando na verdade a escola, ou seja, a universidade sempre foi um fator básico para o desenvolvimento.

Carlos Cassongo

Mestrando Economia, Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional | | Administração e Gestão do Território | Defensor de Direitos Humanos| YALI RLC-SA AlumniLLL

10 m

É necessário que se perceba a universidade como centro de produção de conhecimento e soluções cientificamente adaptadas as necessidades sociais reais. Obrigado por partilhar conosco essa reflexão!

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