O papel do espanhol na sua casa
- Conta uma boa notícia
- Uma boa notícia... Vamos ver se tenho uma boa notícia...
O diálogo anterior com uma querida aluna há alguns dias me fez recordar a maravilhosa China Zorrilla, uruguaia universal imortalizada na inesquecível Elsa, personagem o filme “Elsa & Fred”.
Em uma entrevista antológica, China “Elsa” Zorrilla – para mim, claro – recorda o cão de Tostoi. O breve conto “O cão morto” do reconhecido escritor russo narra a cena de um grupo de pessoas que ao deparar-se com um cachorro morto e já em decomposição põe-se a enumerar as características de putrefação do mesmo. Exceto uma que destaca o quão branco e belo são os dentes do cachorro.
Como me encantaria tê-la conhecido pessoalmente a China... Sinto-me afortunada por ter podido conhecer a Elsa... E quem conhece a Elsa certamente me entenderá...
Com China “Elsa” Zorrilla coincidimos na mesma atitude ante a vida: tal como a uruguaia eu também tento ver sempre o dente do cachorro! Não por nada um livro que marcou minha infância e adolescência foi “Pollyana” de Eleanor H. Porter – um presente de uma inesquecível e querida professora. Comportamento, por certo, que também herdei da minha amada mãe: aos 92 anos minha mãe mantém seu otimismo, sua capacidade de driblar adversidades, sua alegria de viver e seu largo sorriso. Tudo isto só não é superado por sua inquebrantável fé e a certeza da presença de Deus à frente de tudo o que nos acontece. Jamais vi minha mãe se queixar de algo. Entretanto, incontáveis vezes a vi e continuo vendo agradecer a Deus por tudo.
Sem negar a realidade – meu olhar e caminhar histórico e crítico pela vida não o permitiriam -, a verdade é que continuo buscando o lado bom das coisas. É preciso caminhar pela vida buscando o belo e tratando de torná-la o mais linda possível nos pequenos detalhes.
Ainda no exercício dialógico de encontrar uma boa notícia perguntei-lhe à minha aluna se havia visto a lua, ao mesmo tempo que lhe confessava meu particular fascínio pelo Satélite natural da Terra.
Recordo-me de criança apreciar o céu, encantada com seus mistérios. Os amanheceres e entardeceres sempre me chamaram a atenção por sua beleza. Porém a lua... A lua, e especialmente a lua cheia, me cativava e continua cativando e emocionando muito profundamente...
Tal relação com o universo – e a lua – deve-se ao fato de ter nascido em Brasília, cidade que abandonei aos 23 anos para viver em Buenos Aires. Meus sentimentos ambíguos e contraditórios em relação à capital federal, não obstante, não me impedem reconhecer ter a mesma um céu surpreendente.
Tenho gravado na memória a indelével imagem da lua cheia sobre a Praça dos Três Poderes como um tácito recado àqueles que se julgam onipotentes sobre quem é verdadeiramente O Todo Poderoso e o dono do mundo...
Manifestei à minha aluna que peço a Deus que me conserve perfeito o sentido da visão até os meus últimos dias para poder ter o privilégio de apreciar Suas maravilhas. E poder agradecer-Lhe por isto, incessantemente!
Cada vez mais e mais pessoas expressam estar evitando ler jornais e ver telejornais para não se deixar influenciar pelas más notícias fato que, novamente, me remete ao universo e, claro, à lua para recordar-lhe estimado leitor:
Se por algum motivo você se levantar e se deparar com as más notícias de sempre dos meios de comunicação e pensar por um instante que tudo está muito mal lembre-se de olhar para o céu e apreciá-lo em toda a sua beleza e mistério.
Detenha-se um bom tempo ante o amanhecer e o entardecer.
Dedique uns minutos a olhar o céu numa noite estrelada.
Surpreenda-se ante a grandeza da lua cheia em sua silenciosa indagação sobre nossa insignificância.
Encha-se de energia e vontade de continuar desfrutando o privilégio de estar vivo com a mesma alegria das crianças!
Ah, as crianças...
O modelo de aulas totalmente à distância após a pandemia está me permitindo conhecer os filhos de alguns alunos. Com frequência surge um lindo menino ou uma linda menina nos encontros de espanhol e, devo confessá-lo, eu adoro quando isto ocorre!
Nada como o sorriso, o olhar ou os gestos e palavras espontâneas de uma criança para mudar nosso estado de ânimo, nos devolver a esperança, nos emocionar. E de emoção pura se trata o que compartilharei a seguir com você, caro leitor.
Um novo encontro na última semana com outra aluna foi igualmente muito especial.
Como costuma acontecer a aluna me cumprimentou com seu característico “Hola, profe” carregado da radiante alegria e energia de sempre expressadas em um largo sorriso que desde a primeira aula nos conecta e nos acompanha em nossa jornada de aprendizagem do espanhol.
Num determinado momento da aula surge seu filho – um garoto lindíssimo – com quem troco o seguinte diálogo:
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- Você é professora de espanhol? – me pergunta o garoto com uma impressionante segurança para sua idade.
- Sim, por quê? Você estuda espanhol na escola? – perguntei-lhe.
- Não. Você dá aula para crianças? – continua me indagando
- Não. Por quê? – volto a perguntar.
- Porque eu quero estudar espanhol com você! – me responde categórico,
Absolutamente surpresa e feliz, digo:
- Infelizmente eu não dou aulas para crianças, porém fico muito agradecida. Estou muito honrada e muito feliz!
Aqui cabe um esclarecimento ao filho da minha aluna: embora seja certo que hoje não trabalho com crianças, a verdade é que tive no passado duas experiências de ensino do espanhol para crianças e adolescentes em duas importantes escolas particulares de São Paulo que marcaram minha trajetória pessoal e profissional. Ambos os projetos estão guardados num lugar muito especial no meu coração.
Que felicidade me fez sentir este garoto! Tal qual sua mãe em cada aula!
Sou uma férrea defensora de que valores e cultura vêm do berço. Não obstante a indiscutível importância da escola, a família continua sendo a base e o pilar fundamental do desenvolvimento de uma pessoa, assim como da construção de sociedades e países.
Como educadora dedicada ao ensino do espanhol há mais de trinta anos, sempre insisti no quão transcendente é para as crianças ver a seus pais estudando. Creio na liderança pelo exemplo. Creio também que os pais sempre serão os grandes modelos para os filhos.
Estou absolutamente convicta da influência positiva da atitude dedicada e feliz da minha aluna em cada aula sobre seu pequeno filho, o que está despertando nele curiosidade/interesse pelo conhecimento e a língua de Cervantes.
As crianças ficam encantadas ao ver seus pais no papel de estudantes! (embora muitas vezes prefeririam que estivessem brincando com elas, claro!)
Qual é, queridos alunos, o papel do espanhol em suas casas quando a cada semana vocês “abrem” as portas dos seus lares para nossa jornada de aprendizagem? Da minha parte, entro muito respeitosa e amorosamente para conduzi-los pelos caminhos da cultura e do conhecimento de tal forma que, além de constituir-se como seres comunicativos inteligentes e sensíveis em língua espanhola, possam também inspirar e impactar positivamente suas famílias e seu entorno.
Entro humildemente em suas casas com o propósito genuíno de que nossas "viagens" através do espanhol possam tornar-se igualmente matéria-prima de memórias afetivas e diálogos familiares enriquecedores.
Minha última mensagem a meus queridos atuais alunos, ex-alunos e futuros alunos, e também a você caro leitor que eu ainda não conheço:
A educação e a cultura são presentes dos pais aos filhos para toda a vida!
Ao continuar intelectualmente inquietos e dedicados como estudantes ao longo de toda a vida vocês estão semeando em terra fértil e colherão os melhores e mais lindos frutos!
Recordemos:
"Nenhuma árvore boa dá fruto ruim, nenhuma árvore ruim dá fruto bom.
44Toda árvore é reconhecida por seus frutos. Ninguém colhe figos de espinheiros, nem uvas de ervas daninhas.
45O homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração, e o homem mau tira coisas más do mal que está em seu coração, porque a sua boca fala do que está cheio o coração. (Lucas 6:43-45)
Ante a Palavra nada resta por dizer...