O papel dos meios de comunicação no combate às “fake news” em tempos de pandemia.
Na medida em que a pandemia da Convid-19 avança no mundo, também aumenta o número de “fake news” relacionadas à doença. Entre as notícias falsas, encontra-se de receitas naturais milagrosas até a teoria da conspiração que diz que o coronavírus foi criado em laboratório para China obter vantagens econômicas com a doença.
Em meio a esse mar de desinformação a Organização Mundial de Saúde chamou a atenção para o problema. Segundo a OMS as “fake news” também apresentam um risco potencial a saúde, batizando essa propagação de notícias de “infodemia".
Para a gerente de mídias sociais da OMS, Aleksandra Kuzmanovic, existe uma necessidade prioritária dos meios de comunicações e órgãos estatais informar a população sobre a pandemia. “Notícias imprecisas sobre a Covid-19, estão se espalhando mais rapidamente do que o próprio vírus”, disse Aleksandra, em entrevista à rede de televisão CNN, no início de março.Kuzmanovic reforça que a transparência dos orgãos responsáveis de saúde também é uma “arma poderosa no combate ao coronavírus.
Dentro da área de comunicação os profissionais se mobilizam para conter esse surto com informações verídicas e com embasamentos científicos. O físico Peter Schulz, professor da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e secretário-executivo de Comunicação da mesma instituição, afirma que a divulgação de pesquisas e estudos vêm sendo algo desafiador.
“A rapidez com que a doença evolui exige um grande esforço de apuração jornalística. A cada dia novos dados são divulgados por autoridades sanitárias e grupos de pesquisa dedicados a entender o funcionamento do vírus e a encontrar tratamentos”, comenta Schulz.
Nesse contexto surge a importância dos meios, ditos tradicionais, de comunicação , como rádios e TVs, devido a sua ampla abrangência. Assim esses veículos vêm reconquistando o seu papel de divulgação de informações confiáveis.Fernando Tralli em um artigo no portal Uol, aconselha sobre a necessidade de prestigiar e apoiar as mídias profissionais idôneas. “ A liberdade de expressão e o trabalho da imprensa profissional é fundamental para que o país atravesse essa crise”, afirma Tralli.
De acordo com Rogério Nery do site Poder 360, os jornalistas têm neste momento a missão de diferenciar o que é falso do que é verdadeiro, checando minuciosamente as informações, além de sempre ter como suporte o apoio técnico e científico dos especialistas das áreas de saúde.
“É justamente a veiculação de informações devidamente apuradas, que representam um pilar para a população a separar o trigo do joio que, muitas vezes, estão nas mensagens que circulam nos celulares de muita gente”, explica Nery.
O Professor Fernando Morgado em seu artigo, “ Notícia falsa mata”, é mais enfático quando argumenta que só os meios tradicionais são capazes de vencer as “fake news”, pois atinge a grande massa de forma imediata e simultânea.Morgado completa dizendo que “ conteúdos gerados por veículos tradicionais também repercutem (e muito) na Internet.” Segundo Fernando, “o uso positivo dessa influência pode ajudar a frear o avanço de histerias sem sentido, muitas delas criadas por covardes que não revelam suas verdadeiras identidades”.
Checagem de notícias
Mesmo com todo engajamento da mídia tradicional e outros bons veículos que passam credibilidade, não há como desprezar o que circula nas redes. Por isso é importante, quando se deparar com informações duvidosas, checar se ela realmente é verídica.
Surge dessa necessidade, a atividade de jornalistas e portais da internet que tem como função averiguar as notícias que possivelmente podem ser falsa. A precursora no Brasil é a Agência Lupa, ligada ao site da Folha de S. Paulo, que atua desde 2015 na apuração de informações irreais.
Existem ainda a Fato ou Fake do portal de notícias G1 do Grupo Globo, a coluna Truco da Agência Pública, o site de jornalismo colaborativo Comprova e a plataforma específica para o assunto, o Aos Fatos.
Por outro lado, os órgãos oficiais também tiveram que criar mecanismos para chegar a veracidade das informações divulgadas sobre o coronavírus. No site da Organização Mundial de Saúde foram publicados diversos infográficos que desmentem os mais famosos boatos sobre a Covid-19. Também o Ministério da Saúde brasileiro foi influênciado a criar uma página especial para combater as “fake news”, além de disponibilizar um número de Whatsapp.
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) são duas instituições que disponibilizaram páginas em seus sites com informações sobre o coronavírus, a fim de combater as notícias falsas. Por sua vez a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) desenvolveu um aplicativo chamado “Eu fiscalizo” que permite o usuário avaliar se a informação que teve acesso é verdadeira ou não.
O poder da informação
Como já apresentado, fica evidente como veículos de comunicação, dos mais tradicionais aos mais atuais, são de suma importância para propagação de notícias de conteúdo verdadeiro e de base científica em tempos de pandemia. Em sua maior crise após a Segunda Guerra, o mundo não se viu tão dependente de jornais, revistas, blogs e sites. O problema exercido pelos jornalistas podem ser uma peça chave na mitigação dos efeitos nefastos do coronavírus.
Fonte:
https://revistapesquisa.fapesp.br/2020/04/07/epidemia-de-fake-news/