O poder de uma crise.
Texto inspirado no capítulo 6 do livro, O Poder do Hábito.
Nesse momento, em meio a escândalos envolvendo grandes corporações, reformas, operação lava-jato, instabilidade política, desemprego, vivemos talvez uma das maiores crises que o Brasil já enfrentou. O sentimento é que as coisas estão chegando a um ponto insustentável, não dá mais para ficar indiferente. E de fato, isso pode ser bom.
No final dos anos 80, houve uma terrível catástrofe no metrô de Londres, mais precisamente na Estação King’s Cross, aquela do filme Harry Potter, que culminou com a morte de 31 pessoas, e mais uma dezena de feridos. Na época, o metrô cultuava um conjunto de hábitos, que mais parecia um ritual monárquico e medieval, onde cada funcionário, cada colaborador, respondia única e exclusivamente pela função a qual era destinado, o bilheteiro era o responsável por vender bilhetes e era expressamente orientado a se ater a isso, somente isso. Tudo funcionava muito bem, o trem chegava às plataformas religiosamente no horário, não existia fila nos guichês de bilheteria, tudo muito limpo, tudo em perfeita ordem.
Infelizmente, por conta desses hábitos enraizados, e essa hierarquia territorial instalada em cada departamento, nenhum funcionário se atrevia a se meter no departamento do outro. Se houvesse uma sugestão de melhoria, e partisse de outro setor, era expressamente ignorada ou simplesmente respondida com desdém, ninguém se intrometia no departamento do outro. Se o sujeito responsável por vender bilhetes, fosse informado sobre um princípio de incêndio, ele poderia até dar uma olhada, mas não reportaria a situação para o departamento de segurança, bombeiros, ou quem quer que seja, afinal isso não era de sua responsabilidade. Para os passageiros da estação King’s Cross, naquela fatídica noite de novembro, essa atitude custou suas vidas. O incêndio que havia sido percebido, e informado ao bilheteiro da estação, só foi levado a sério e tratado como uma situação de risco, muito tempo depois, e infelizmente não suficiente para salvar dezenas de vidas.
O incidente, gerou uma crise sem precedentes dentro da instituição. Pericias foram feitas, relatórios extensos foram gerados, piquetes, manifestações foram feitas em todo o metrô, e após e tão somente após ter ocorrido um fato tão grave, é que a cultura organizacional, da instituição foi alterada, criando um padrão de excelência e cooperatividade entre os departamentos, visando exclusivamente a segurança dos usuários. Hoje o trem continua chegando no horário, os guichês continuam sem fila, a limpeza está em ordem, e além disso, hoje todos os departamentos tem voz ativa em qualquer tipo de questão, os funcionários são incentivados a dar sugestões de melhorias e a preocupação principal é o bem-estar e a segurança das pessoas que circulam pelo metrô londrino.
Toda crise, tem seu início, meio e fim. Infelizmente para os passageiros do metrô londrino a crise instaurada, foi proveniente de uma tragédia irremediável. As medidas de segurança necessárias para garantir que qualquer acidente não mais aconteça, que a instituição se tornasse uma das mais respeitadas e se transformasse no sistema de transporte mais seguro do Reino Unido, teve que partir de uma situação crítica. Mas esse é o poder de toda crise: transformar, e melhorar.
A lição que temos que tirar da crise que passamos é que ela vai ter seu final. E quando isso terminar, qual a lição que iremos aprender, qual o ensinamento que iremos levar e que irá nos transformar e melhorar?
Nos momentos de crise é que descobrimos se somos capazes de fazer mesmo, se somos resilientes, proativos, criativos.
É muito difícil, mas necessário. Afinal, não é fora da zona de conforto que a vida acontece?
Então, vamos tentar tirar o máximo proveito dessa crise, e nos preparar para o futuro. Em algum momento isso vai passar, e é bom estar preparado e melhorado para quando isso acontecer.