O Poder do Efeito Indústria

O Poder do Efeito Indústria

O poder do Efeito Indústria

  Mauro Sergio dos Santos

  Industrializar produtos básicos pode gerar mais de 300% de agregação de valor, além de outros benefícios, como emprego, renda, consumo e arrecadação  

O estado de Mato Grosso (MT) é uma potência produtora de bens de consumo básicos, dentre os quais soja, milho, algodão, minérios, madeira e carnes (bovina, suína e aves). Essa produção primária tem produzido resultados positivos para o estado, exemplo disso é que, em 16 anos, o PIB (Produto Interno Bruto) de Mato Grosso cresceu mais de 600%, saltando de R$ 19,1 bilhões, em 2002, para R$ 137,4 bilhões, em 2018, em valores nominais. A indústria mato-grossense também tem acompanhado esse crescimento, pois, entre esses mesmos anos, o seu VAB (Valor Adicionado Bruto) cresceu 537%.

Toda essa riqueza também chamou a atenção de pessoas de outros estados brasileiros e, até mesmo, de outros países, pois, atraídas pelo potencial econômico do estado, ao realizarem a migração, provocaram uma explosão demográfica, cuja população, que, em 1991, era de 2.027.231, atingiu o número de 3.441.998 em 2018, registrando um crescimento populacional de 69,7% em MT e de 46% no país.

Além disso, o rendimento nominal mensal domiciliar per capta do estado também é destaque, cujo valor hoje é de R$ 1.401,00, ocupando a 8ª colocação entre os estados da Federação.

Contudo, apesar de toda evolução econômica das últimas décadas, Mato Grosso ainda tem grandes desafios sociais a serem vencidos, a exemplo das mais de 140.000 famílias vivendo em extrema pobreza, com renda mensal abaixo de R$ 151,00; da taxa de desemprego atual de 9,9% e do registro de quase 200.000 analfabetos no estado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Diante do exposto, o Efeito Indústria, que é o poder de gerar benefícios por meio da transformação da matéria-prima, tem potencial para contribuir na melhoria desses indicadores sociais.

De acordo com os números disponibilizados pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI), em 2021, o estado tem 9.322 indústrias que empregam formalmente 149.482 pessoas, números esses que podem crescer com o avanço da indústria, isso porque a verticalização cada vez maior da produção, além da agregação de valor, gera empregos, oportuniza uma renda maior e promove o consumo, o que causa o aumento na arrecadação de impostos. Assim, com mais recursos em caixa, o Estado pode investir na melhoria da infraestrutura, educação, saúde e segurança, levando benefícios a todos os cidadãos.

Para se ter uma ideia do poder de geração de valor do Efeito Indústria, basta analisar a aplicação dele no milho. Atualmente, uma saca de milho in natura é comercializada a R$ 77,00, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), e, como produto de exportação, tem isenção de ICMS, conforme disposto na Lei Kandir, assim, o milho exportado gera R$ 77,00 de riqueza por saca para o estado. No entanto, se for industrializada no estado, na cadeia do etanol de milho, por exemplo, essa mesma saca de milho agrega 280% ao seu valor, saltando de R$ 77,00 para R$ 223,30.

Estudos do Observatório da Indústria, da Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Fiemt), mostram que, se industrializarmos, no estado, 50% do milho que é exportado, a agregação de valor poderá até triplicar. Como exemplo, em 2019, o estado exportou in natura 23.994.145 toneladas, em que 50% dessa exportação, ou seja, 11.997.072 de toneladas geraram uma riqueza de R$ 5,6 bilhões.

Assim, se colocarmos esse montante de grãos exportados na cadeia industrial do etanol de milho, que gera outros produtos além do etanol, como o DDG — que é uma nutritiva ração animal —, o óleo vegetal e a energia elétrica, a agregação de valor seria 280% maior, ou seja, R$ 15,7 bilhões. Além disso, o Observatório da Indústria estimou, ainda, que seriam gerados quase 80.000 empregos diretos, gerando muito mais riqueza agregada.

Diante do exposto, o crescimento estimado é potencialmente grande, de R$ 5,6 bilhões para R$ 15,7 bilhões, além de gerar empregos, renda, consumo e arrecadação. Logo, para potencializar o desenvolvimento socioeconômico do estado, necessário se faz avançar com a industrialização do estado.

O Observatório da Indústria estudou também o Efeito Indústria no algodão e descobriu que, se fossem beneficiados aqui 30% do que é exportado in natura, os ganhos seriam de até 730% de agregação de valor, com geração de 95.000 empregos. Analisou, ainda, a construção civil e constatou que construir 40.000 casas populares gera até 115.000 empregos durante o período de execução do projeto.

Contudo, para potencializar o Efeito Indústria, a sociedade mato-grossense tem importantes desafios a serem superados, que impactam na competitividade das nossas empresas: a longa distância dos principais mercados consumidores; apagão de mão-de-obra, um mercado consumidor pequeno, de 3,4 milhões de habitantes, distribuído em dimensões continentais de 903.357 km² e o alto custo de produção, como o do óleo diesel e da energia elétrica, que estão entre as mais caras do país, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

Assim, para além de incentivos fiscais, faz-se necessário aumentar a competitividade e impulsionar a indústria de Mato Grosso a partir de políticas públicas e privadas que atraiam investimentos e contemplem a estruturação de uma rede produtiva local e sinérgica, do acesso facilitado a financiamentos, da infraestrutura adequada, do investimento na educação e na qualificação profissional, da disponibilidade de áreas físicas para acolhimento de empreendimentos industriais e do incentivo à inovação (principalmente por meio do investimento em pesquisa e desenvolvimento).

Por conseguinte, essas ações permitem a geração de economias de escala, de novos produtos baseados em insumos localmente abundantes e do aprimoramento técnico-produtivo das indústrias locais, além da qualificação de mão de obra, do investimento em educação e de um sistema tributário que facilite o dia a dia das empresas bem como possibilite a redução de custos das empresas, entre eles, os do óleo diesel e da energia.

Acredite no poder do Efeito Indústria de gerar benefícios econômicos e sociais. Vamos juntos criar ou apoiar as condições necessárias para o avanço da indústria em nosso estado? Pense bem, você prefere vender uma porção de produto básico e ganhar R$ 77 ou industrializar essa mesma porção de produto e ganhar R$ 223,30?  

(Fontes de consulta: CNI, Firjan, IBGE, Imea e Observatório da Indústria da Fiemt)

 

Mauro Sergio dos Santos é economista, bacharel em Direito, pós-graduado em Consultoria e Gestão Organizacional e em Gestão Empresarial pela FGV. Atualmente, é Superintendente da Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Fiemt) e do Instituto Euvaldo Lodi (IEL).

ROQUE EDU ALVES SILVA.'.

Gerente de Agência na Sicredi Ouro Verde MT

3 a

Parabéns Mauro! Excelente artigo. Obrigado por compartilhar.

Fernanda Campos

Administradora | Pesquisadora | Superintendente FIEMT e IEL MT

3 a

Excelente artigo, parabéns chefe! Adoreiiiii! 👏👏👏👏

Daiane Campos

Revisora de textos da D&C Revisão de Textos

3 a

Parabéns!👏

Pedro Máximo

Gerente de Analytics & CRM | Inteligência de Dados | Econometria | Liderança & Estratégia | Data Governance | Betting Industry

3 a

Excelente artigo. Parabéns.

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