O poder (em esquecimento) da crítica
Em era de fragilidade pelo culto ao ego, a crítica é vista por muitos como apenas uma ameaça à autoestima e saúde de relacionamentos, quando, na verdade, é um condão que nos liga às fases de amadurecimento.
É evidente que o tipo de recepção à crítica, o que se faz ao recebê-la, distingue os grandes players da vida de pessoas comuns que só apreciam elogios.
Entre os grandes players que admiro, tenho um maior apreço e quase sempre prefiro destacar o presidente americano Donald Trump, pelo que muitos consideram, pela razão óbvia a seguir, uma amarga experiência no tradicional jantar da Associação de Correspondentes da Casa Branca (WHCA, em inglês), ainda quando Trump apenas considerava ser presidenciável. Na ocasião, o então presidente Barack Obama, ataca com críticas jocosas, com intenção de humilhar Donald Trump, que ouviu desconfortavelmente o coro formado pelos risos de centenas na plateia.
Por considerar tão deficiente a capacidade da atual geração de reagir corretamente à crítica, não restam dúvidas de que a maioria das pessoas comuns, em um teste hipotético de rigidez emocional, após uma situação semelhante à de Donald Trump, dificilmente ousariam empenhar-se em alguma conquista significativa.
No entanto, até mesmo, se sinceros, não simpatizantes do personagem do relato acima, concordam que o momento mais constrangedor da vida dele o tornou ainda mais motivado para concorrer às eleições americanas. Sobre o ocorrido, a escritora Omarose Manigault, comentou: “Todos aqueles que alguma vez duvidaram do Donald, notarão a suprema vingança, do agora, homem mais poderoso do mundo”. Que volta por cima...
Porque é assim que a crítica é processada em mindsets vencedores. Mesmo as mais baixas, as mais desonestas, falaciosas ou inescrupulosas críticas podem ser convertidas em energia para propósitos firmes. Essa pode ser a melhor maneira de proteger o ego e responder àqueles que gozam com o constrangimento alheio, ao invés de nos fecharmos em pensamentos de inferioridade.
Mentes fortes entendem que só podem receber críticas à altura de sua relevância, por causa do nível de incômodo que causam aos seus oponentes, ou concorrentes. Nesse sentido, uma dura crítica pode sugerir que quem o faz, considera você forte o suficiente para suportá-la, que você é, por algum motivo, uma potencial ameaça ou simplesmente possui lentes diferentes e opiniões controversas.
A crítica na publicidade
Levando o assunto para a publicidade, o ambiente é de empenho pela desqualificação do concorrente, exceto em empresas cujos CEOs leram (e implementaram) o Blue Ocean Strategy, ou, temem processos éticos do CONAR – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária.
Bem, entre as empresas rivais que mais provocam a admiração, divertimento do público e ressentimento da adversária, alguns dos “pares de desavença” que se destacam (em minhas memórias) são a Fiat e Hyundai, Coca-Cola e Pepsi, Toddy e Nescau, Tigre e Amanco, Cielo e PagSeguro. Todas, competindo por maior market share, mas beneficiando o mercado, com reestilizações motivadas pela crítica, muitas vezes burlesca, como a que diziam sobre a grade perfurada do Toyota Corolla, comparada a um ralador de queijo. Mas veja o que a Toyota nos oferece agora.
Críticas são todas iguais
Embora pareça haver a necessidade de classificar uma crítica como construtiva ou destrutiva, sendo essa última preferida por haters e trolls, toda opinião desfavorável, essência da crítica, tem alguma função normativa e é positiva no sentido de poder levar à reflexão, ao equilíbrio e ao aperfeiçoamento.
A crítica aprimora argumentos, corrige atitudes, equilibra debates, recrimina arbitrariedades, inibe abusos, melhora pessoas, refina modos. Por isso, a liberdade de expressão, a oposição política, a verdade inconveniente e a possibilidade de denúncia têm valor.
Historicamente, oposição à crítica é uma característica política comum em governos totalitários e em mentes religiosas com tendências fanáticas. Mas na sociedade comum, pessoas sensíveis a críticas até mesmo de familiares, demonstram uma fragilidade emocional muito séria, e conforme estudos liderados pela psicóloga Sara R. Masland, da Universidade de Harvard, “A alta sensibilidade a críticas pode ser causada, em parte, por vieses cognitivos em relação à interpretação negativa de informações ambíguas”.
Tal constatação é grave, pois níveis altos de sensibilidade a opiniões contrárias pode, de acordo com o referido estudo, conduzir pessoas a recaídas piores ao lidar com doenças como depressão, abuso de substâncias, TOC, agorafobia, transtorno bipolar e esquizofrenia.
Mas não apenas agravamento, doenças mentais como a depressão podem ter seu princípio na timidez, na constante preocupação de fazer algo muito embaraçoso (isso depende do que cada um considera como embaraçoso), que pode causar contrariedade ou desaprovação dos outros.
Duas formas de não responder às críticas
Um olhar atento sobre as recentes mudanças do comportamento humano, revela duas naturezas de reações negativas a críticas: as inflamadas e as ressentidas. As inflamadas são agressivas e fazem as pessoas perderem o controle da situação, enquanto pessoas que se ressentem costumam internalizar a crítica e a dar ciclo a todo tipo de pensamento negativo ou autodepreciativo. Mas, ainda, há a possibilidade de um mesmo indivíduo ter ambas reações.
Qualquer uma delas é prejudicial ao amadurecimento psicológico e consequentemente um impeditivo de desenvolvimento em outras áreas da vida. Mas um indivíduo que recebe uma crítica, e por mais dura que pareça, se escolher manter-se emocionalmente controlado e consciente das atitudes que precisa ter, experimentará superações com argumentos e atitudes melhoradas.