O problema da (falta de) prepotência

O problema da (falta de) prepotência

O Brasil vive hoje uma série de crises simultâneas: econômica, política, moral e, em especial, uma grave crise de confiança. A incerteza está em todos os níveis das decisões de consumo das famílias; desde a saída para comer fora no final de semana, cujo gasto é supérfluo, até a compra de um carro ou imóvel. É o medo de perder o emprego e não conseguir arcar com as prestações.

Acredito, contudo, que existe uma crise ainda mais profunda e cada vez mais abrangente: a da falta de prepotência. Sim, isso mesmo, prepotência. Ela é erroneamente associada, quase de forma exclusiva, a uma atitude arrogante e tenho certeza que, para muitas pessoas, as duas palavras são sinônimas. Mas não são. De acordo com o dicionário, uma das definições de prepotência é o “poder mais alto”.

Historicamente, mesmo nas áreas em que sempre teve talento para dar e vender, o Brasil padeceu do mal brilhantemente definido por Nelson Rodrigues como “complexo de vira-latas”. Pegando o futebol como exemplo, veremos que foi necessária uma geração de gênios, capitaneados por Nilton Santos, Didi, Garrincha e Pelé, para que o País finalmente se firmasse como potência no esporte. A partir daí, jogasse contra quem jogasse, o Brasil sabia que entrava em campo com plenas condições de vencer. Arrogância? Não. Prepotência? Sim, no bom sentido. A seleção sabia do que era capaz e, sem precisar inferiorizar o adversário, tinha certeza de que possuía condições de disputar e vencer o jogo. Ponto para a prepotência. Ponto para o conhecimento do seu “poder mais alto”.

Com o passar do tempo, ainda no exemplo do futebol, as coisas foram se confundindo, especialmente depois de algumas decepções, até chegarmos ao ponto onde o Brasil perdeu a sua essência - desde os característicos apelidos, até a forma de encarar o jogo. Saímos do tempo de um Garrincha ou Quarentinha, que fazia gols e nem comemorava – pois era para isso que era pago – e chegamos aos “Phillipe Coutinho” ou “Douglas Costa”, que tem como primeira reação, ao marcar um gol, levantar os dedos indicadores para o céu e em seguida correr para abraçar e beijar o seu técnico, como se tivesse sido ele quem fez o gol. Tremenda inversão de valores, não? Tremenda falta de prepotência!

Claro que o futebol é só um exemplo, mas acredito que a analogia serve para sociedade como um todo. Já há muito tempo eu defendo que todos deveriam experimentar um pouco de reflexão a respeito. Quantas vezes fui chamado de arrogante quando, ao me perguntarem, por exemplo, se me achava inteligente, respondi: “Sim, sou muito inteligente”. Saber-se acima da média em determinado tipo de atividade, habilidade ou tarefa não te faz uma pessoa arrogante.  Faz de você uma pessoa confiante e que terá, nessa confiança, o combustível para atingir seus objetivos. Afirmar-se bom em alguma coisa em nada deprecia o próximo. Você não disse que ele não é bom, ou nem mesmo que você é melhor que ele. Você apenas afirmou que é bom, porque sabe que é.

Já passou da hora da sociedade brasileira abandonar de uma vez por todas esse tal “complexo de vira-latas” e entender que o nível do seu incômodo com a prepotência alheia é diretamente proporcional ao seu sentimento de mediocridade.

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