O pulso ainda pulsa
Valeu meu dia. Para quem cria sem parar como eu, para alguém que produz e publica sem pensar nem em métricas nem em grana, são esses momentos que alegram a alma:
— Eu acompanho o teu trabalho faz tempo, curtia muito os seus artigos para a Revista de Webdesign!
Fiquei feliz. Agradeci comovido ao rapaz e à querida Adriana Melo pelo espaço na sua revista ao longo de mais de dez anos (aqui está uma coletânea de mais de cem artigos!). Ainda guardo alguns exemplares e os redescobri com alegria no meio da nossa última mudança.
Mudança, aliás, é a palavra do século, não? Claro, o mundo sempre mudou e o meu grego predileto, Heráclito, já dizia “τὰ πάντα ῥεῖ καὶ οὐδὲν μένει”, tudo flui e nada permanece, mas parece que agora perdemos o pé e parece quase impossível manter o nariz acima da linha d'água. A sensação é essa, não?
Calma. Respire. Talvez a espuma engane, talvez os vendedores de tech exagerem essa história para te convencer a comprar o novo iPhone, a nova nuvem ou a nova AI. Se formos atrás do papo desses caras vamos correr atrás do rabo sempre sem sair do lugar enquanto eles batem todos os bônus. Calma.
Eu sei que alguém já disse que em territórios desconhecidos os mapas antigos não valem mais, mas isso é conversa de quem vende mapas. Eu sei que o Vale do Silício e seus apóstolos venderam a ideia de "quebra tudo" e disrupção pra todo lado, mas olhe agora como eles já não sabem mais para onde ir e os sinais de esgotamento são claros.
E se algumas coisas não mudam tão rápido assim? E se alguma bússola empoeirada ainda funciona?
Resolvi reabrir o meu baú e ver se aquilo que eu escrevi há dez, vinte, vinte e cinco anos atrás ainda vale. Ok, ok, minha opinião não conta, meus vieses todos vão distorcer meu julgamento, e por isso pergunto para você: esse artigo aí abaixo (publicado há mais de vinte anos na saudosa Meio Digital) ainda vale? Ainda pode inspirar inovadores, profissionais de UX, designers, empreendedores? Você me diz. Aí vai:
"Sintonia Fina
Nunca saberei se escrevo direito, mas credo, como minhas linhas são tortas. Mudei de carreira como quem troca de sapatos. Mudei de empregos trocando meia dúzia por seis. Escolhi rumos sem ouvir ninguém. Para completar, ainda me arrisco a opinar sobre internet, o mais incerto dos assuntos.
Vou trilhar agora um caminho tortuoso, e te convido. Uma ideia me persegue há alguns dias, e me importuna como uma música brega num radinho mal sintonizado no apartamento ao lado. Ei-la: o que falta à internet é ser como o rádio.
AM, de preferência.
Um radinho transistor na orelha te põe no centro do Maracanã. Sem a companhia do rádio, a toalete matinal é solidão pura. A cada dia eu abençoo a estação que nos consola na hora do rush.
Rádio humaniza. Rádio une. Rádio paira sobre nós, dando voz aos aparelhos mais modestos, dando vida aos ambientes mais simplórios. No alto-falante minúsculo cabem a voz amiga de um locutor, orquestras inteiras, ou mesmo um outro ouvinte falando de seu telefone.
O rádio é civil, cidadão. Quando é nacional, oficial, monolítico, o desligamos.
Um radinho não tem segredo: um botão abre o volume, o outro botão sintoniza e pula de Pelé a Beethoven, de Cristo a crimes num movimento singelo.
Estúdios sofisticados, equipamentos complexos, talentos diversos, centenas de quilowatts de potência desembocam num aparelhinho a pilha.
Falta muito para a internet ser assim tão ágil, tão humana, tão indispensável.
Ela vai ser tão ágil quanto o rádio, se:
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Para ser tão humana quanto o rádio a web
A web será indispensável como o rádio
Eu me pergunto, aliás, por que o popular é tão impopular no Brasil. Ou você cria e produz para meia dúzia de privilegiados ou você é brega.
Quem confunde popular com popularesco não percebeu que o jeans - e não a alta costura - mudou o mundo, ou que o rock tão plebeu virou o século do avesso, e que o hambúrguer e a coca-cola são os embaixadores do ocidente livre.
Pensando em termos de web, não foram os charmosos Macintosh que fizeram a internet crescer: foram os pc's sem marca, sem pai nem mãe, baratos e feiosos. Foram softwares gratuitos, programadores anônimos, empresários usando tênis que criaram as bases para a Internet peso-pesado, milionária.
Com ou sem Nasdaq, com ou sem oba-oba, aquilo que é fecundo na web progride, e sem alarde. As máquinas ganham potência e perdem peso. A tecnologia barateia. A web sai dos desktops e conquista o mundo portátil. Os aparelhos mais diversos começam a se entender via internet.
Os sintomas são claros: a internet ganha asas, se torna transparente. A tecnologia cai para o segundo plano, e o palco agora é dos homens novamente. Relacionamento, respeito, comunicação: essas sim são as tecnologias de ponta. Como no rádio.
Não erre: ao criar sua presença na web esbanje em planejamento, na contratação de recursos humanos, na escolha da infraestrutura e equipamentos.
Ao desenhar o produto e sua interface, porém, seja espartano. Franciscano. Elegante. Less is more. Pense em Jumbos e desenvolva uma pipa.
Valorize a simplicidade, a rapidez. Priorize o conforto e a satisfação do usuário. Descubra os caminhos do coração do seu público. Faça a vida dele melhor, mais digna, mais leve.
Você está, afinal, lidando com gente, e para cativar esse bicho não hesite: mire no peito."
Isso ainda te inspira? Espero que sim. Aqui estão outros textos soltos dessa época.
Quero crer que algumas sementes que lancei em tantos artigos, palestras e podcasts encontrem um solo fecundo e floresçam onde eu nem imagino.
Sabe o que me inspira? Esse logotipo antigo da Larousse: eu semeio ao vento. E às vezes um cumprimento bacana cai no meu colo e faz valer meu dia.
Gostou? Até o próximo episódio do nosso Coffee Break!
Doutora em Educação UNICAMP, Mestre em Educação UNICAMP, e Pedagoga UFSCAR Orientadora de Mestrado e Tutora online na MUST UNIVERSITY Pesquisadora UFSCAR - GESER
2 aInteressante, dia desses com meus orientandos de mestrado tive oportunidade de comentar que ao defender minha dissertacao de mestrado na unicamp, falando da helice triplice, cuja funcao da universidade deveria ser de articuladora entre os tres setores e dai surgiu o projeto da agencia de inovação na epoca...case de sucesso hoje...e na sequencia o doutorado, detalhe...tudo sem bolsa cientifica, trabalhando muito dando consultoria e criando duas filhas, defendi a criação de um ambiente virtual a distancia, supondo o cenario de que todos nao teriam condicoes de ir a aula fisicamente. Nao preciso dizer que parecia tudo um fiasco...talvez uma ilusao minha de italo brasileira, achando que moravamos no norte de europa, ou eua. Pois bem contei para eles, que isso foi exatos 23 anos atras...quando desisti de insistir ...e ao ver o que escrevou vejo que eu nao era a unica ET. E hoje??? os mesmos que debochavam ...sao as "molas propulsoras da inovacao...no Brasil...kkk e assim seguraram nos empregos publicos...sem comentarios,. Vamos nós...
2x TEDx Speaker - semeando um futuro melhor
2 aAdriana Melo, você foi citada com carinho!
Eco-Empreendedor Colaborativo
2 aParabéns Rene de Paula Jr., GRATIDÃO!!! Um grande abraço, 🙏❤️🙏❤️🙏❤️🙏