O que o Brasil está perdendo (ou perdeu) 2
Há aproximados 3 anos, no segundo semestre de 2018 escrevi um artigo por aqui sobre as perdas que o Brasil sofria, especialmente relacionadas ao talento de pessoas e profissionais de diversas áreas, que estavam a escolher sair do país e viver no exterior.
Naquele momento escrevi:
"O ponto aqui não é discorrer sobre os problemas do Brasil, sobre a violência urbana, machismo, fanatismo, todos os “ismos” ou sobre a política que é uma piada, dá vontade, mas não é esse o ponto. O ponto é refletir sobre: o que Brasil perde com todas estas saídas? Acho que muito. Quantas pessoas inteligentes, competentes, empreendedoras, artistas, de esquerda, de direita, do meio, do canto, do norte, do sul, do nordeste, brancas, negras, asiáticas, GLBT, de todas as classes sociais (apenas para transmitir a ideia de que estou a falar de todos, peço por favor que não me acuse ou rotule de isso ou daquilo, pois era o que muitas vezes eu fazia no barril de pólvora que é o nosso país, ao ler qualquer opinião diferente da minha), estão saindo do país, e infelizmente deixando de contribuir para um Brasil melhor? São muitas pessoas. Dá pra quantificar o impacto futuro no PIB? Acho que não. Dá pra quantificar a falta que fazem em seus campos de atuação profissional, social ou cultural? Não, mas em minha opinião fazem muita falta."
Eu sentia uma certa mágoa, angústia em relaçāo a situaçāo do país que eu já havia deixado de viver por questões pessoais, especialmente após alguns episódios de violência muito próximos ao meu círculo. Para a minha surpresa, relendo o artigo, me dei conta de que nem as eleições haviam ocorrido quando escrevi:
"Se eu penso em arregaçar as mangas, voltar e ajudar a construir “o Brasil que eu quero”? Não, pelo menos não agora. Minha decisão poderá mudar? Claro, a vida muda sempre. Mas penso também que o tempo passa, e passa muito rápido e é por isso que escolhi passar o meu tempo, e não sei quanto tempo eu tenho, em um lugar em que eu não me sinta encurralado, sufocado, indignado e com medo. Será que esse cenário muda com as eleições de 2018? E com as próximas? Acho que não."
Que coisa. Mas que coisa.
O Brasil mudou e mudou muito desde entāo. E pra muito pior.
Fora todos os problemas que existiam, uma nova ameaça em forma de governo apareceu - Falo isso sem nenhum receio, mesmo sendo um defensor do 'nāo falar de política no Linkedin', acho que vale marcar a posiçāo, já que o próprio Linkedin tem se tornado uma arena política composta por batalhas em que as armas sāo as fake news e ataques pessoais, com desfechos pouquíssimo profissionais - falarei sobre isso nos próximos textos.
Hoje, o meu artigo antigo fica até leve. Nāo falamos mais das perdas nāo definitivas, de pessoas que foram para o exterior e que sempre poderiam voltar. Falamos da perda de quase 300 mil vidas, que nāo voltam, em um país que perdeu o rumo, perdeu o senso de humor e perdeu o brilho, que já estava opaco.
Sāo muitos mais frequentes para mim as mensagens e e-mails de conhecidos ou mesmo desconhecidos que me procuram para pedir alguma ajuda, informações e dicas sobre qual foi meu caminho para sair do país. Sinto que as razões para a busca desta saída, que sempre eram acompanhadas de interesses profissionais e de carreira, tem sido afogadas pelo desespero, sufocadas por uma situaçāo em que o governo federal combate o próprio povo, os próprios estados e claro pelo vírus, que nada de braçada, e comparece em peso nas festas clandestinas e nas falas negacionistas que tem gerado ainda mais ódio entre as próprias pessoas, até dentro de casa.
Descontrole. Este é o termo que tem sido utilizado para se referir a situaçāo no país. Nāo vejo só o descontrole na gestāo desta crise sanitária, mas vejo o descontrole sobre a economia, sobre qualquer credibilidade do Brasil no exterior (impressionante o que tenho escutado de amigos e colegas de outros países, sobre a imagem que tem o país por aqui) e o principal, o descontrole sobre a saúde mental e sobre a esperança de que alguma coisa vai melhorar.
Tenho pensado muito neste momento sob a ótica do livro Todos Contra Todos - O ódio nosso de cada dia, do Leandro Karnal, em que ele diz: "A internet não criou os idiotas, mas deu energia e proteção para o ódio dos covardes".
No final, com todo este descontrole, o ideal seria que cada um fizesse a sua parte, e ajudasse para que houvesse maior controle. Quando criticamos o governo, temos de lembrar de que foram as pessoas que o colocaram lá. Quando criticamos o racismo, a violência, a falta de educaçāo, o ódio nas mídias sociais, o trânsito, a falta de ética, o 'jeitinho', e etc. Estamos sempre apontando o dedo para alguém. Penso mesmo, que ao invés de esperar um milagre de um messias - com toda a ironia - cada brasileiro passe a fazer um pouco melhor, ou pare de fazer um pouco pior.
Respeito ao próximo, empatia e menos ódio e arma. Daqui, já nāo torço, mas rezo para que as vacinas e a ciência avancem e que eu posso abraçar minha família muitas vezes mais, já que hoje literalmente estāo presos neste pesadelo chamado Brasil.
CEO na COREangels | Investidora Anjo, Mentora e Palestrante | Ex-Consultora, Executiva e Fundadora | Estratégia, Liderança, Gestão de Programas e Performance
3 aExcelente Leo. Compartilho da sua visão e esse livro do Karnal me fez entender muita coisa sobre o que ocorre hoje no Brasil. Não só no Brasil, mas ali com cores muito fortes.