O que a Comunidade Cipiá tem a nos ensinar sobre felicidade?

Por Flavia da Veiga

Recentemente, tive a honra de visitar a Comunidade Cipiá, localizada às margens do Rio Negro, a cerca de 40 km de Manaus. Para chegar até lá é necessário uma travessia por embarcações de Cooperativas. Essa experiência foi um verdadeiro presente, não apenas pela beleza e riqueza cultural, mas pela profunda conexão que estabelecemos com a Mãe Floresta e todo legado deixado pela ancestralidade.

Mas qual a relação dessa comunidade com a felicidade?

Bom, por coincidência ou não, logo que cheguei me deparei com uma sinalização informando que o nome Cipiá significa na verdade “Happy People” ou “Povo Feliz/Alegre”. Fiquei super instigada a saber de todos os ensinamentos que eles poderiam nos transmitir.

Para te contextualizar, o grupo reúne indígenas de diversas etnias e atualmente vivem do turismo, oferecendo vivências que incluem rituais, músicas, danças e artesanato.

Durante a nossa visita, fomos recepcionados com uma demonstração de suas tradições, e vimos de perto o respeito e gratidão que eles têm pela terra que nutre a todos nós. Wãa, que significa “gratidão” no idioma Desano, reflete a essência do nosso encontro. Como me sinto grata e privilegiada de ver diante dos meus olhos tanta riqueza em tradição e cultura.

Nessa vivência observei práticas que já venho estudando por meio da ciência da felicidade e que sem dúvidas contribuem grandemente para nutrir o sentimento de bem-estar e felicidade. Talvez por terem essa sabedoria registrada em sua essência que motivou o nome Cipiá.

Compartilho com vocês algumas das minhas reflexões:

- Alimentação: Ali percebi o cuidado que direcionam para os seus alimentos, onde eles plantam, colhem e são responsáveis por fazer as refeições de forma harmônica com o meio ambiente;

- Celebrar a vida, valorizar os pequenos detalhes e às pessoas a sua volta: Ao recepcionar os visitantes eles usam da dança e da música para celebrar cada chegada e exaltando a alegria que sentem em viver;

- Relacionamento: É lindo ver que eles estão sempre em casais, com seus filhos, reforçando o valor que têm em viver em comunidade, junto aos seus familiares. Cultivar os relacionamentos é de fato uma prioridade para os Cipiás;

- Honrar a ancestralidade: Esse é um ponto central na crença Cipiá. Seus rituais e ações se baseiam em uma Jornada de Conexão e Respeito. Um ato também de gratidão a todo legado deixado por aqueles que vieram antes deles. Vale destacar que o Amazonas é terra da Ancestralidade, crenças e tradições dos povos originários, o que pode contribuir para esse compromisso do povo que ali vive em preservar toda a história construída;

- Espiritualidade: Em todos os rituais e ações eles buscam se conectar com a força da natureza. Eles veem a floresta como uma entidade viva e sagrada, frequentemente referida como a "Mãe Floresta". Acreditam que esta floresta é a fonte de vida e sustento, e que é essencial respeitar e proteger para garantir a continuidade da vida.

- Aprendizado constante: A comunidade está aberta à visitação desde o ano 2000 e o intuito ao receber pessoas é compartilhar todo conhecimento, mas também aprender “com a cultura branca”, como mencionam os próprios integrantes. Além disso, os mais velhos são respeitados como portadores do conhecimento e desempenham um papel crucial na educação das novas gerações;

- Visão holística do mundo: A visão de mundo dos Cipiá é holística, integrando aspectos espirituais e materiais da vida. Eles acreditam que a saúde e o bem-estar dependem da harmonia entre o espiritual, o ambiental e o físico;

- Simplicidade: Valorizar o simples da vida, como dormir numa rede, dentro de uma oca, fechar os olhos, ouvir a chuva caindo em cima das palhas e chão de Cipiá ao som da natureza. Sem dúvidas eles não trocam essa vivência por nenhum luxo. Eu também não trocaria.

Bom, em resumo, a visita à Comunidade Cipiá, pra mim foi um mergulho na cultura, tradição e história que revelou ensinamentos profundos sobre a verdadeira essência da felicidade. O nome "Cipiá," não é apenas um título, mas uma reflexão da maneira como eles vivem e experimentam a vida. A felicidade desse grupo felicidade parece derivar de uma combinação harmoniosa de práticas que valorizam a conexão com a natureza, o respeito pela ancestralidade e a celebração da vida em comunidade.

A nossa reflexão vai além. Eles nos mostram que a felicidade não é apenas um sentimento passageiro, mas uma prática diária e uma maneira de estar no mundo. Sua forma de vida reforça que celebrar os pequenos detalhes, nutrir relacionamentos e honrar o legado ancestral são pilares fundamentais para um bem-estar duradouro.

Dessa forma, ao refletirmos sobre o que a Comunidade Cipiá tem a nos ensinar, podemos considerar que a verdadeira felicidade está em encontrar um equilíbrio entre nossa conexão com a natureza, a valorização das relações e o respeito pelas tradições.

Que possamos levar essas lições para nossas vidas, incorporando a gratidão e a celebração em nosso cotidiano, buscando sempre a harmonia com o mundo ao nosso redor.