Decisões empresariais e dores de crescimento, na perspetiva de uma constelação sistémica

Decisões empresariais e dores de crescimento, na perspetiva de uma constelação sistémica

Ontem ouvi a história de um empreendedor que tinha um pequeno negócio de automóveis clássicos muito bem sucedido. Teve visão, era muito bom no que fazia e no valor que acrescentava, contanto com serviços externos dos melhores profissionais. 

Decidiu crescer, seguindo conselhos de algumas pessoas à sua volta. “Porque pagas tanto em lavagens? Por "x" instalas equipamento de lavagem, contratas uma pessoa e poupas "y". Porque não contratas também o teu próprio mecânico e o teu próprio fotógrafo e o teu próprio comercial para atender os clientes? Porque não alavancas o teu negócio com a banca?” Assim fez, passou a ter dez pessoas contratadas com salários acima da média pois valoriza bons profissionais, um milhão de euros em linha de crédito, aumentou o número de viaturas e aumentou a sua faturação. 

No final do último ano, o empreendedor olhou para os seus dividendos e pensou: “195.000€? Perto disto já eu fazia sem esta estrutura de custos, com uma relação personalizada com cada cliente, a almoçar durante 3h com a família, clientes e amigos, cada vez que me apetecesse, a desfrutar de tempo livre. Sem dez empregados a meu cargo, sem o elevado volume de impostos a pagar todos os meses, sem uma dívida de um milhão de euros e sem a pressão, a responsabilidade legal, os problemas diários e a falta de tempo!"

Ter que gerir um negócio de maior dimensão e assegurar que o papel de cada elemento está em ordem tem um preço elevado.

Créditos da imagem: @capivarinhapantaneira


O empreendedor passou a andar exausto, sem tempo para o que mais gostava de fazer, que era partilhar a sua paixão pelos carros clássicos com os clientes, que agora raramente via, e passou a ser um gestor de recursos em grande escala em vez de um líder visionário. A ordem e o equilíbrio perderam-se.

As pessoas à sua volta estão cada vez mais orgulhosas do “sucesso” daquele empreendedor. Afinal, passou de um pequeno negócio de carros clássicos para um grande negócio! Mas, o que é que isso significa e como se reflete na sua vida e na sua empresa? Será que os conselhos que recebeu foram maus? Não. 

Numa empresa não existem “bons” conselhos e opiniões certas ou erradas. O conselho é mais como uma constelação aleatória de pensamentos pessoais sobre as infinitas possibilidades da existência e da trajetória de uma empresa, que não pode substituir a visão de quem a criou. Durante uma carreira empreendedora, recebemos muitos conselhos. Se tivermos sorte, a maior parte deles foi solicitada, mas quem nunca criou uma empresa ficaria surpreendido com a quantidade de gurus com opiniões e conselhos não solicitados. 

Quem dá a sua opinião tem a melhor intenção, mas teoricamente e para si mesmo, não para o empreendedor, até porque não sabe o que é estar no seu lugar. Quem defende que os empreendedores têm a obrigação de criar muitos postos de trabalho e critica os salários que a empresa pode suportar é livre de fazer por si mesmo exatamente aquilo que defende. Afinal, quem pode sonhar pode realizar! Por outro lado, ao criar aqueles empregos na sua estrutura, o empreendedor dos carros clássicos deixou de contratar serviços a todos os profissionais liberais e outras pequenas empresas parceiras com que trabalhava antes, para que só a sua empresa pudesse crescer.

Uma empresa líder de mercado não é a que tem mais colaboradores, volume de negócios, nem a maior quota de mercado, é uma empresa que, em vez de copiar as fórmulas de sucesso das que já existem, escreve a sua própria história e guia as demais para um novo caminho. É uma agência que cria um modo de estar e de fazer diferente e que, através da sua visão e coerência, tem um sentido de direção bem definido.

Crescer rapidamente e de forma não natural raramente é benéfico para os clientes, para as equipas e para as comunidades. Apesar de o tamanho de uma empresa ser socialmente muito bem visto ao nível do ego, toda a gente tem uma opinião distorcida acerca do que está certo ou errado, do que é justo ou injusto, proporcional ou não, e nenhuma ideia acerca da visão de um empreendedor, daquilo que sacrifica e de como cada elemento da equipa e cada cliente se sente. 

Quem recuar diante da realidade como ela é, por ter o desejo interno de que ela fosse diferente, enfraquece. - Bert Hellinger

Somos, inconscientemente, muito mais leais aos que nos observam e acompanham do que livres, mas não podemos esperar que as opiniões de alguém se assemelhem a algo próximo de uma coleção de etapas indispensáveis, ainda que essa pessoa faça parte da nossa constelação e mereça ser vista e ouvida. Manter a visão e a intuição, em vez de tentar reproduzir o caminho que outros acham que fariam. O nosso trabalho, como empreendedores, é estamos atentos e transformarmos os nossos erros e contradições à medida que nos vamos desviando, não apenas do nosso caminho, mas também do nosso lugar e da nossa função na constelação de uma empresa.

Sandra Viana, LOBA


Wilson Pacheco

IT SysAdmin & Telecom Consultant | MBA | UFSP | UWA | Real Estate Investor

1 a

Excelente artigo, fantástica reflexão! Um texto muito claro, objectivo é esclarecedor! Parabéns! 😉

Parabéns Sandra, pela coragem de ser como é.

Sílvia Sousa Santos

Coordenadora do Núcleo de Apoio Jurídico

1 a

A percepção do sucesso é individual. Aplicando as constelações familiares de Bert Hellinger às organizações, importa honrar a nossa linhagem e encontrar o nosso lugar nessa estrutura. Igualmente, se olharmos à piramide das necessidades de Maslow, a auto-realização assume cada vez mais uma dimensão espiritual. E ao longo do caminho, podemos e devemos parar, várias vezes, e fazer o exercicio de ver se (ainda) nos revemos ou não nesse lugar em que nos encontramos, pois nós somos os nossos gurus!

Rui de Oliveira e Silva

CEO Advisory | Expertise in Strategic Leadership | Founder, Central Brain Trust (CBT) | Knowledge Broker & Mentor to Top Executives

1 a

Nem mais! O que conta é o número de pessoas e a facturação. O lucro não interessa para nada. Conheço empresas a facturar millhoes que têm menos lucros que uma pequena empresa que factura “apenas” umas centenas milhares de euros. Essas empresas trocam produtos por dinheiro, com margens de lucro mínimas sem qualquer tipo de diferenciação dos outros.

Mónica Soares

Luxury Experience Designer || Co Founder CHUMECO || Founder BLACK TALKS || DEI in LUXURY BRANDS || Partner and Host LUXURY BUSSINESS INSPIRATION & MENTORSHIP by Ferreirinha || Customer Relation Management || AGO MZM PRT

1 a

👌🏽👌🏽

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