O que os industriais paulistas esperam de 2023
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP
O ano começou envolto em uma nuvem de dúvidas sobre o cenário econômico – tanto nacional quanto internacional – e impactado pelos acontecimentos do dia 8/1, em Brasília. Neste contexto, como os industriais de São Paulo enxergam as perspectivas para 2023 em aspectos como vendas, investimento, emprego, endividamento e acesso a matérias-primas? Foi em busca dessas respostas que Fiesp e Ciesp foram a campo entrevistar os empresários e perscrutar o que está na cabeça deles.
Embora um sentimento geral de neutralidade prevaleça, a principal conclusão é que boa parte dos empresários acredita que seus custos subirão até 20% este ano. Entre os entrevistados, a maioria (55,6%) se disse pessimista com os custos e, entre eles, 11,7% se declararam muito pessimistas.
Parte da explicação, certamente, está nas matérias-primas, cujos preços estão mais caros que em 2022 para mais da metade (56,9%) dos industriais. A boa notícia é que 71% deles dizem que a disponibilidade dos insumos está normal, sinal da regularização do comércio global, que foi severamente impactado pela pandemia e depois pela guerra Rússia-Ucrânia.
Os empresários estão mais otimistas do que pessimistas com as vendas (40,3% contra 21,3%) e com a produtividade (43,7% contra 16,5%). Nesses tópicos, o sentimento positivo também supera o neutro. Porém, estão mais pessimistas que otimistas com empregos (33,3% contra 23,1%) e com investimentos (37,5% contra 24,9%).
Em relação a dívidas ou pendências de impostos com as três instâncias de governo, a grande maioria (66%) declarou estar em dia. Os débitos, quando existem, são com o governo federal em cerca de um terço dos casos. E 78,4% dos entrevistados pretendem quitá-los com renegociação.
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Vale destacar cinco temas que os industriais consideram de maior importância para o setor. A estabilidade econômica e a estabilidade institucional estão no topo, ambos receberam nota 9,1 numa escala até 10 de relevância.
Não muito atrás, como nota 8,9, ficou a Reforma Tributária, seguida da desoneração da folha de pagamentos (nota 8,4) e do patamar da taxa básica de juros, a Selic, que é definida pelo Banco Central (nota 8).
Demanda antiga dos empresários, a Reforma Tributária está na lista de prioridades do governo, que até criou uma Secretaria Extraordinária da Reforma Tributária, no Ministério da Fazenda, ocupada por Bernard Appy, um grande especialista no assunto. Também é prioridade para o Congresso Nacional, como deixaram claro os presidentes das casas na abertura do Ano Legislativo.
Tanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quanto o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, declararam acreditar que é possível aprová-la este ano. Depois de três décadas de debates, seria uma conquista muito importante para o setor produtivo, sobretudo para a indústria de transformação que é de longe a mais tributada entre os setores econômicos.
Quanto aos juros, não surpreende que a taxa tenha voltado a ser uma das principais preocupações dos industriais, uma vez que patamares elevados dificultam o acesso ao crédito. Os 13,75% estabelecidos pelo Banco Central para a Selic colocam o Brasil no topo do mundo dos juros reais, algo que deveria preocupar as lideranças do país pelas nefastas consequências que traz.
O Brasil precisa de previsibilidade, segurança jurídica e um bom ambiente de negócios para se desenvolver. Assim, será possível ter as condições necessárias para estimular o crescimento econômico, com geração de emprego e renda para a população.