O que a série “Demolidor”, da Netflix , me ensinou sobre segundas chances

O que a série “Demolidor”, da Netflix , me ensinou sobre segundas chances


Eu sou um nerd de carteirinha (hoje a gente usa “geek”, né?. Que seja....vocês entenderam). Sempre fui. Quando criança, trocava fácil a bola pelo videogame, brincava com os meus amigos de Pokémon, Digimon, Power Rangers, Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball e outras séries que a gente assistia na TV. Que infância legal, meus caros!

Bom, como é de se imaginar, esse gosto me acompanhou na vida adulta. Se moldou e se adaptou até chegar a este maravilhoso tempo para se estar vivo, em que ser nerd se tornou cool e temos um verdadeiro panteão composto de novas séries e filmes de heróis e vilões surgindo a cada momento.

Quero falar de uma com a qual tive, literalmente, uma relação de amor e ódio. Se você acompanha um pouquinho que seja as notícias de cultura pop, sabe que “Demolidor” é um nome que até antes do lançamento da série da Netflix dava calafrios nos fãs do herói. Isso porque a adaptação cinematográfica do advogado cego feita em 2003 foi desastrosa. Pois bem, já temos aí um certo preconceito.

Eu nunca comprei 100% a história do Demolidor. Sempre achei pouco crível um cara cego desenvolver outras habilidades e sentidos a ponto da visão não fazer mais falta e ele dar um pau em qualquer pessoa com dois bons olhos funcionando durante uma luta. Mas ok. “Vamos dar uma chance”, pensei.

E foi nessa primeira chance que veio o tombo. Não consegui passar do primeiro episódio. Explico: fui assistir achando que teria a mesma falta de qualidade do filme com Ben Affleck. Somada a isso, a minha incredulidade recheada de “mano, isso não existe” “não, lógico que ele não vai conseguir bater no cara” e outras frases revoltadas disparadas sem resposta para a TV.

Decidi: “Demolidor” era uma série ruim. Não assistiria mais. E passaria a “desrrecomendar” (se é que essa palavra existe) para todo mundo com quem conversava.

Toda essa história é interessante para chegarmos a este ponto. Muito tempo depois, durante aquele transe em que a gente não sabe o que assistir, reencontrei “Demolidor”. O registro da Netflix me lembrou que eu não tinha passado do primeiro episódio. Foi aí que me perguntei: “Por que eu não assisti mesmo?”. E todos os questionamentos voltaram. Voltaram mas dessa vez acompanhados de: “Mas será que é tão ruim assim? Será que não vale a pena tentar de novo talvez com a cabeça mais aberta?”

 E lá fui eu assistir. Descobri o óbvio: “Demolidor” série não era “Demolidor” filme. Ben Affleck não era Charlie Cox. A história fazia mais sentido do que eu imaginava e os personagens eram mais profundos do que eu tinha suposto. Por fim, eu estava errado.

Não só maratonei loucamente a primeira temporada como fiquei ansioso pela segunda, lendo, pesquisando e procurando cada notícia que podia sobre o assunto. Quando lançaram a nova leva de episódios, o sentimento foi o mesmo.

Às vezes, na vida real, a gente precisa de tempo e distanciamento para apostar em segundas chances. Infelizmente, não é sempre que temos a oportunidade de fazer isso. O tempo, a correria, a pressão determinam que precisamos decidir e resolver aquilo na hora. Emitir o juízo naquele momento sem parar pra refletir. A questão é: se tivermos chance, vale a pena. Tudo que faz sentido para você merece uma segunda chance, um olhar mais atento. Se você está passando por dificuldades no emprego, pensa em desistir mas essa vaga te preenche e tem a ver com o que você quer para a sua vida, pense e dê uma segunda chance.

O mesmo vale para uma faculdade, um relacionamento, um negócio. O oposto também é verdadeiro. Se te faz mal, não casa com aquilo que você procura, vale a pena procurar no catálogo de opções da sua vida e dar play em algo que tenha a ver com você. Não invista em coisas que não te farão crescer.

Não é sempre que a gente está preparado para aceitar as coisas de primeira. Como eu disse, às vezes é preciso tempo. Em outros momentos, paciência com você mesmo, sabendo que dá pra errar e voltar. Ou recomeçar, se essa for a sua escolha.

Fiquei feliz por ter mudado de opinião ao incluir “Demolidor” no hall das minhas séries favoritas. Infelizmente foi cancelada e, como toda série cancelada, fica aquele vazio. Hoje me pego participando de um abaixo-assinado internacional pra trazê-la de volta. Se vai pra frente ou não, aí é outra história (pode ser que vá. Vocês não viram o que aconteceu com o abaixo-assinado para incluir o Salsicha no Mortal Kombat?).

Só sei que no fim das contas, ao inicialmente não dar uma segunda chance, eu fui tão cego quanto Matt Murdock. 

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