O que tem de errado no debate sobre o trabalho remoto?
Eu acredito que todo mundo deva ter uma opinião sobre a questão de trabalhar no escritório ou trabalhar remotamente de home office. Minha visão é de que todos temos uma preferência de modelo de trabalho e buscamos argumentos para suporta-las, por isso que o debate sobre o trabalho remoto primeiramente era sobre produtividade e agora ganhou destaque a questão da cultura organizacional.
O ponto é que a adaptação ao trabalho remoto durante a pandemia da COVID-19 desencadeou novos desafios e questionamentos sobre a integração da vida privada e profissional, evidenciando uma transformação que, na verdade, iniciou-se décadas atrás - nada novo sob o sol. A prática, que remonta a 1976 quando Jack Nilles cunhou o termo "teletrabalho", ganhou forma com a popularização da internet nos anos 90, preparando o cenário para o "anywhere office" que vivemos hoje.
O contexto Global do trabalho remoto
Esta mudança forçada pelo contexto global atual trouxe à tona a necessidade de reinventar as dinâmicas de trabalho remoto, produtividade e gestão de pessoas, desafiando as lideranças a pensarem além das estruturas preexistentes. Tal cenário parecia abrir caminho para um novo campo de reflexões sobre como fomentar diversidade, inclusão e autonomia, e adequação às necessidades e expectativas das futuras gerações, já acostumadas com interações virtuais e descentralizadas.
Na prática percebemos que velhos hábitos não morrem e sob a justificativa do fortalecimento das culturas organizacionais o movimento de volta aos escritórios voltou a ganhar muita força. Mas eu me questiono será que nosso paradigma sobre produtividade e cultura organizacional serão relevantes para pensar a gestão dos negócios daqui a 10 a 20 anos?
Acompanho muito dos textos e entrevistas do professor Scott Galloway que aumentou consideravelmente a frequência com que trata do tema de uma juventude menos sociável e mais infeliz. Os dados apresentados por ele são geralmente referentes ao contexto americano, sobre como as pessoas estão com menos amigos e vendo os amigos com menos frequência.
Impactos da geração Tiktok
Em todo caso, se você observar mais o comportamento dos adolescentes da sua familia, vai notar que não estamos em um caminho tão diferente. É uma juventude que já nasceu com acesso a internet, que interage com os amigos através dos jogos on-line e que passam um tempo enorme no tiktok.
E por que eu to misturando essa história de vida social dos jovens com o tema do trabalho remoto? Por que eu acredito que esse assunto está ancorado em uma resistência em reconhecer que o futuro será muito menos presencial, mas a alta liderança que está decidindo sobre voltar ou não para o escritório cresceu em um mundo de interações presenciais.
A desconexão entre lideranças e colaboradores é um dos principais desafios enfrentados no contexto do trabalho remoto. Estudos indicam que enquanto 80% dos líderes seniores estão satisfeitos com o desempenho de suas equipes de liderança, apenas 43% dos colaboradores não gestores percebem essa performance como positiva.
Essa disparidade sinaliza uma oportunidade para repensar a gestão de pessoas e a comunicação dentro das empresas. E para superar esses desafios, é fundamental que as lideranças adotem princípios básicos que incluem a curiosidade sobre o impacto de suas ações nos outros, o aumento de diálogos na nova realidade de trabalho híbrido e o respeito pela crescente necessidade de independência e organização flexível do trabalho.
Essa abordagem não apenas pode melhorar a produtividade, mas também fortalecer a satisfação e a motivação das equipes, fundamentais para a sustentação de uma cultura organizacional inovadora e adaptada às necessidades atuais. Estamos lidando com um contexto de mundo pautado pela imprevisibilidade, incertezas e o dinamismo, mas os velhos hábitos nos levam a buscar a estabilidade e o controle dos escritórios ocupados.
Reflexões sobre o futuro do trabalho
Acredito que deveríamos dedicar mais energia para refletir sobre a reinvenção da cultura organizacional, ou seja, como vamos disseminar as atitudes e comportamentos esperados com equipes descentralizadas? Como poderemos compreender qual a cultura e como ela é percebida pelas pessoas em relações interpessoais que acontecerão predominantemente por canais digitais e assíncronos?
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Eu tenho muitas perguntas e poucas respostas, mas fica evidente que não devemos buscar restaurar práticas passadas, mas sim encarar a oportunidade de desbravar novas estradas para liderar e gerenciar pessoas.
As estratégias futuras devem se adaptar ao contexto de um ambiente de trabalho flexível, diversificado e alinhado com a digitalização das interações sociais. E à medida que navegamos por esta nova era, é vital questionar: como você está refletindo sobre o futuro do trabalho? O verdadeiro desafio para as lideranças consiste em descobrir e implementar novas formas de pensar e cultivar uma cultura que respeite a socialização baseada nas interações virtuais e descentralizadas, características das próximas gerações.
Esta é uma jornada que exige ousadia e visão estratégica para garantir que a produtividade e a satisfação das equipes caminhem juntas, impulsionando o crescimento sustentável das organizações em um mundo cada vez mais remoto.
Agora deixo a reflexão pra você:, estão prontos pra viver o futuro ou tentando reviver as alegrias do passado?
Sobre mim
Sou sócio da Organica e ajudo executivos, profissionais e empresas a terem uma nova perspectiva da estratégia do negócio – como um processo criativo e caótico.
Indo além… Também sou formado em Marketing pela USP e pós-graduado em Branding pela FIA, com foco em atuação e implementação de estratégias inteligentes e escaláveis.
E tenho experiência com startups exponenciais, tendo atuado diretamente com mais de 20 delas. Além disso, tenho um longo histórico nas áreas de planejamento, CRM e Marketing Digital, com passagem por grandes empresas como Itaú e Walmart.
Sobre a Organica
A Organica é uma organização formada por um grupo de empreendedores com expertise para acelerar o seu negócio. Por meio de metodologias proprietárias, impulsionamos o crescimento dos empreendimentos a partir de uma visão holística, desde imersão profunda e diagnóstico até o planejamento e a operação assistida, com foco sempre em resultados.
Fundador e CEO da Pyxys e de Agro Estadão | Navegante Solitário em Expedição ao Redor do Mundo | Estratégias de Inovação, Reinvenção da Mídia e Desenvolvimento de Talentos e Equipes de Excelência
9 mMuito bom, como sempre! Você sabe, PYXYS Inteligência Digital nasceu remota e, salvo um breve período pré-pandemia, em que tivemos aquele coworking onde convivemos Pyxys e Organica Evolução Exponencial, seguimos assim. Na equipe há gente (literalmente) de todas as regiões do Brasil e também de fora. Funciona bem e a cultura da empresa, que foi moldada nesse modelo, é forte. Mas, porém, contudo, ainda... eu sempre tenho a fantasia de um local onde nos encontramos com certa frequência. Não sinto falta do controle, sinto falta da interação presencial. Não é igual este comentário que te encontrar para tomarmos um café e ainda lembro bem do momento em que, depois de um ano ou mais de trabalhar contigo no remoto eu te encontrei presencialmente. Com isso (e desculpa o comentário interminável), eu concordo que a discussão não é presencial - virtual mas que relações temos e queremos entre empresa e equipes, entre liderança e liderados e entre colegas, ponto. Obrigado por me provocar para pensar. Vamos falar mais sobre? Com um café (presencial) 🙂
Marketing | Strategy | Business Builder | Consultant | Growth | Fractional Marketing | CMO
9 mFelipe Ladislau como alguém que faz o tal do teletrabalho desde 2017, eu gosto de apresentar duas perspectivas para esse caminho. Eu concordo com vc que não dá pra viver do passado, e as lideranças atuais que pertencem a uma geração de trabalho forjada na conexão presencial é de fato a mais resistente. (Também acredito na teoria da conspiração baseada nos investidores de fundos imobiliários, mas isso é outra história. 😂 ) Então é uma questão de mentalidade: do comando e controle, vigilância e centralização, para uma cultura de autonomia e responsabilidade, confiança e distribuição do trabalho. Já não se trata de onde, e sim qual a entrega a ser feita. Isso é ser remote first* Sobre o comportamento das sociedades, amo citar a previsão do Artur C Clarke sobre as cidades do futuro: “from commute to communicate". Basicamente é o que fazemos em um escritório e podemos fazer de qualquer lugar. E isso foi la em 1964!! Por isso creio que sera um tempo de ajuste, ate as gerações atuais sairem do mercado e as novas assumirem a liderança, para consolidar de fato a mentalidade remota. *a proposito, temos que parar de usar remoto e home office como sinonimos. Também já falei da diferença de ambos também num outro post.
Liberto líderes dos tabus organizacionais 🔓 | Chief People Officer | Mentora | Autora da News Honestidade Radical | Host no People Tech | Conectando pessoas e tecnologia para mudar a vida das pessoas. 🚀
9 mFelipe Ladislau Amei a provocação. Acredito que infelizmente muitos de nós estamos tentando reviver o passado. Toda essa dor em relação a falta produtividade, falta de integração, falta de senso de pertencimento, quando se fala em trabalho remoto, é sem sentido quando realmente acreditamos que o trabalho remoto é o caminho. A Impulso é Remote First há 13 anos porque acreditamos e queremos isso. E é ok as empresas optarem pelo que quiserem, o que não vale é dizer que o outro modelo não funciona. Não funciona para quem? Sobre a juventude, a minha percepção é que ela está muito mais adaptada ao remoto. Meu filho de quase 18 anos tem uma vida inteira remota e se perguntarmos para ele, ir a escola é um contra-senso porque dá para fazer tudo de forma remota. Já já ele estará no mercado de trabalho, questionando o necessidade do presencial.