O que você queria ser antes de crescer?

O que você queria ser antes de crescer?

Acho que eu tinha uns 9, 10, anos. Passava na TV uma propaganda do Clube da Ciranda da Ciência, um projeto de educação dos anos 80 para crianças, e eu ficava fascinada com aquele universo de descoberta de ciências, laboratórios, todos de branco fazendo coisas importantes pra sociedade. Logo me associei ao clube e comecei a receber mensalmente revistinhas com experimentos para fazer em casa e se descobrir dentro deste mundo.

Essa é a minha primeira memória em relação ao que eu achava que queria ser quando crescesse. Mas aí o mundo girou, a escola técnica em química não rolou, fiz técnico em contabilidade, porque era o mais viável naquele momento. No ensino médio, a internet e a explosão dos blogs me trouxe uma paixão pela leitura e pela escrita e eu só queria poder fazer isso o dia todo. Só que a faculdade pública era diurna, o campo de trabalho no nordeste era escasso e eu precisava ser prática e escolher algo que me trouxesse oportunidades. E aí meu primeiro emprego promissor afogou meu sonho de ser jornalista em algum lugar do passado.

No último sábado, meu filho de 5 anos se formou na escolinha de educação infantil. E teve toda aquele cerimonia, beca, canudo, discurso, mães chorando pra todos os lados, inclusive eu. E foi tão fantástico ver as crianças com os olhinhos brilhando, cheias de sonhos, conquistando a primeira etapa de dezenas que virão até eles chegarem “lá”. E todo dia é uma vocação nova: aqui em casa, meu pequeno já quis ser policial, bombeiro, médico, rockstar e até pensou em limpar cemitérios (rs). Eu só sei que até a tal da vocação falar mais alto, muita profissão ainda vai ser novidade aqui em casa.

Depois que o vestibular estrangulou meu sonho de ser engenheira química e a necessidade empurrou ladeira abaixo meu desejo de ser jornalista, eu encarei cada oportunidade recebida como uma bênção. Nunca desejei trabalhar em escritório, liderar pessoas, perseguir resultados, nada disso que a vida me trouxe. Mas nessas oportunidades eu encontrei uma vocação que jamais perceberia aos 16 anos de idade. Afinal, qual é a criança que fala que quer ser Gerente comercial, life coach, CEO de uma grande empresa? A verdade é que as nossas escolhas vão transformando aquele sonho de criança na realidade que a vida oferece pra cada um de nós.

E no final, a química virou passado, a escrita virou hobby e o trabalho de todos os dias virou realização pessoal. E eu só espero que o meu filho possa sonhar alto, mas com os pés bem fincados no chão, com um pouco mais de opções do que eu tive, talvez, mas com a consciência de que suas escolhas o guiarão para o seu caminho. Seja ele qual for.

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