O ressentimento corrói o casamento

O ressentimento corrói o casamento

Os casais tinham mesmo a ganhar se, durante uma semana, tivessem câmaras em casa, estilo Big Brother, e depois se sentassem a ver a filmagem com um moderador imparcial à frente.

Ana,

Tive sempre a convicção de que gritava convosco muito mais do que o vosso pai, mas a coisa mais estranha é que, apesar disso, enervava-me imenso quando era ele a “perder a cabeça”. E aí entrava em cena a pedir calma, a irritar-me, como se houvesse mil outras formas de resolver a situação quando, na realidade, noutras parecidas eu própria desatava aos gritos.

Sentia, também, que me cabia a maior carga no vosso dia-a-dia, e se calhar era assim, mas a verdade é que muito provavelmente por culpa própria, porque, mesmo quando entregava a pasta, não desligava. Por outro lado, aqueles momentos em que ficava quieta e sossegada sabiam-me tão bem, mas tão bem, que como todas as coisas boas, sabiam a pouco. O tempo que estava “ao serviço” parecia-me incomparavelmente mais curto, do que aquele em que não estava.

Agora, como avó, vejo o filme de fora, e percebo que os casais com filhos, sujeitos a uma pressão inacreditável e com um nível de exaustão crescente, entram mentalmente num “Deve e Haver”, que, para além de corroer a relação, é muito viciado. Porque todos nós contabilizamos mais o nosso próprio esforço do que o dos outros, seja em casa ou no emprego. E, tendencialmente, acreditamos que conseguíamos resolver os problemas melhor e mais depressa, sobretudo naquela que consideramos a nossa área de especialização — o “passa-me lá o bebé, porque o visto muito mais depressa do que tu” é o equivalente feminino ao “não mexas no berbequim, que só estragas a parede”.

Estive a pensar e conclui que os casais tinham mesmo a ganhar se, durante uma semana, tivessem câmaras em casa, estilo Big Brother, e depois se sentassem a ver a filmagem com um moderador imparcial à frente. É claro que podiam recorrer à opinião sábia da mãezinha ou da querida sogra, mas, não sei porquê, suspeito que nesse caso era melhor a avó fazer-se acompanhar do notário, para tratarem do divórcio logo ali.

Agora muito a sério: parece-me mesmo que os casais não deviam deixar que o ressentimento se some ao cansaço, e a todos os outros problemas, nomeadamente financeiros que este novo ano vai inevitavelmente trazer. E, enquanto é tempo, porque há depois um momento em que, sinceramente, nem o maior dos amores resiste.

Pronto, e é isto, agora vou abrir uma coluna de consultadoria matrimonial — também tenho de inventar para mim novos desafios. Parece-te bem?

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Leia a resposta da Ana e o artigo completo no Público.

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