O risco do Brexit tupiniquim

O risco do Brexit tupiniquim

Os debates sobre o apagão na região metropolitana de São Paulo ocuparam a maior parte do tempo entre os candidatos às prefeituras de São Paulo e de cidades da região metropolitana. Como num passe de mágica, os demais problemas vividos pela população estão sendo deixados em segundo plano, inclusive os relacionados ao meio ambiente.

Neste campo, nenhum deles mencionou racismo ambiental. A luta contra o racismo ambiental envolve a defesa dos direitos humanos e ambientais e a valorização do conhecimento e da experiência das comunidades afetadas. As últimas tragédias evidenciam a desigualdade na cidade em termos de acesso a serviços como saneamento básico e moradia digna, só para ficar nesses exemplos. Mas tudo isso, mais educação, transporte, segurança, etc. parece não ser a prioridade dos candidatos.

Esse cenário me faz lembrar o período que antecedeu o “Brexit”, nome dado ao processo de saída do Reino Unido da União Europeia, que foi turbinado pelas discussões fanáticas a respeito do controle migratório, para impedir a entrada dos povos que fugiam das guerras e catástrofes ambientais e políticas da África e Leste europeu.

O assunto foi levado a referendo para votação e obteve quase 54% dos votos favoráveis. O resultado dessa visão obtusa pode ser notado agora: desaceleração do crescimento econômico do Reino Unido e o aumento do preço de alguns alimentos, os quais são importados com novas taxações alfandegárias. E os migrantes? Bem, esses foram esquecidos, bem como a noção de razão e bom senso dos governantes de, então, praticamente metade dos eleitores anestesiados pelo monotema. 

A história costuma dar grandes lições para a humanidade. Mas a humanidade parece, em alguns casos, como o Brexit, não perceber isso. Parece mais fácil focar em um problema, seja ele qual for, para sensibilizar as massas, pensantes e não pensantes, do território.

Espero que o efeito Brexit não contamine os eleitores na hora de decidir quem vai governar ou desgovernar sua cidade nos próximos quatro anos. O filósofo Platão dizia que “cidades perfeitas dependem de governantes perfeitos”. Teremos governantes perfeitos? Uma coisa sabemos: é preciso conhecer e discutir os programas de governo e resistir às anestesias em torno de uma nota só. O mesmo vale para o racismo ambiental em São Paulo e no Brasil.

Infelizmente, erros de agora só poderão ser corrigidos em 2028!

* Roberto Souza é jornalista

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