O Sonho de Nabucodonosor

O Sonho de Nabucodonosor

- ou o Medo de Mostrarem Quem São 

Nabucodonosor foi o mais poderoso rei da Babilônia, reinando do ano 604 AC até 562 AC. De acordo com historiadores, ele reinou sobre o maior reino jamais visto na Terra e é chamado por muitos de o “rei dos reis”. Por volta do ano 600 AC ele tomou Jerusalém e levou judeus cativos para a Babilônia, inclusive o profeta Daniel. Aqui, então, passamos para a história de um de seus sonhos, relatado na Bíblia, no segundo capítulo do livro de Daniel.

De acordo com a passagem bíblica, o rei Nabucodonosor teve um sonho que o atormentou. Ele chamou todos seus sábios, astrólogos, conselheiros e pediu não só que interpretassem o tal sonho, mas antes, que lhe contassem o sonho. Somente o profeto Daniel foi capaz de fazê-lo. Não quero aqui falar da interpretação de Daniel, muito menos “pregar a palavra”: quero falar do sonho em si. O relato conta que o profeta teria dito:

“Tu olhaste, ó rei, e diante de ti estava uma grande estátua: [...] a cabeça da estátua era feita de ouro puro, o peito e o braço eram de prata, o ventre e os quadris eram de bronze, as pernas eram de ferro, e os pés eram em parte de ferro e em parte de barro. Enquanto estavas observando, uma pedra soltou-se, sem auxílio de mãos, atingiu a estátua nos pés de ferro e de barro e os esmigalhou. Então o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro foram despedaçados, viraram pó [...] o vento os levou sem deixar vestígio.”

Como disse, não quero falar da interpretação de Daniel ao sonho. Se você o quiser saber, é fácil de achar na continuação da passagem citada acima. Quero falar do sonho em si e de uma interpretação possível, de uma interpretação de autoanálise, que creio que, consciente ou inconscientemente, atormenta muitos líderes, chefes e pessoas que acreditam que estão numa posição acima do que fizeram por merecer.

Há muitas características nestas pessoas: normalmente são arrogantes, ou mesmo estando em um nível hierárquico privilegiado ainda continuam sendo mesquinhas, se fazem inacessíveis, algumas nem estão num nível hierárquico tão alto e agem como se fossem mais importantes do que são, enfim, elas são o que qualquer psicólogo facilmente identificaria como inseguras, ou ainda fóbicas. Diriam que elas agem assim para se protegerem, ou por terem medo da possível concorrência.

Costumo dizer que estas pessoas sonham ou sonharam o sonho de Nabucodonosor. Elas mostram sua cabeça de ouro, elas mostram seu peito e braços de prata, mas morrem de medo de que descubram que seus pés são de barro e ferro fraco. A fobia, diria paúra, que sentem não é dos outros, mas é de si mesmo. O medo que lhes atormenta vem do fato de saberem ou acreditarem que, mesmo que não confessem, por mais que gritem e mostrem sua cabeça de ouro puro a todos, esbravejando e ostentando sua grandeza exterior, elas sabem que seus pés, que sua base – que podem estar escondidos em luxuosos sapatos – são de barro e poderão ser facilmente esmigalhados e colocar toda sua grandeza em pedaços.

Quando vejo pessoas que principalmente em ambiente profissional não mostram nem um pouco de humildade, de compaixão, de empatia, mas que ao contrário, se protegem atrás de uma máscara que claramente não lhes cabe, finjo que não percebo, mas sorrio por dentro e as imagino acordando apavoradas após uma noite de sonho, quem sabe suadas, sem entender o que aconteceu, sem nem sequer lembrar-se do sonho que sonharam – como Nabucodonosor não se lembrou – mas com alguma ciência dentro de si mesma lhe dizendo que não adianta ostentar o brilho que o ouro lhes colocou na cabeça, que seus pés são de barro, e um dia elas serão despedaçadas e nem vestígios sobrarão.

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