Ser salmão: fiel à própria natureza, mesmo contra a correnteza
Já observou como a gente só se dá conta da finitude da vida quando é confrontado por ela? Só quando um ente querido se vai ou uma tragédia leva muitas vidas e assistimos, chocados às notícias, a maioria toma consciência da graça que é a existência.
Como regra, o dia a dia vai de forma automática, para maioria. Quase como robôs, muitos seguem as regras, trabalhando para pagar as contas sem conexão com algo maior que a tarefa em mãos. Sem alegria. Sem sentido.
Enquanto isso, o tempo passa. E com ele a vida.
Se você já esteve por aqui recentemente, sabe que a análise de obras de arte - filmes, esculturas, quadros - é parte da metodologia educacional da Sonata Brasil. É pela arte que encontramos passagens para fazer 'cirurgia' na cultura organizacional e em vieses de tomadores de decisões.
Recentemente o filme Amor Impossível foi ferramenta para uma discussão sobre como viver com propósito, esperança e amor.
O filme conta a história de Amr Waked, um sheik que tem como sonho levar a pesca do salmão para o deserto, no Iêmen. Sem medo do quanto essa ideia custará, ele busca parceiros. Harriet Chetwode-Talbot é a sua representante, que precisa engajar o melhor especialista em pesca: Alfred Jones. Dr. Jones não acredita no projeto, mas é forçado a embarcar na “loucura teoricamente possível”.
A técnica que gera outputs riquíssimos para gestores começa por assistir ao filme observando as cenas que mais emocionam. Elas sinalizam, a cada um, onde estão pontos que precisam ser olhados na própria vida. Você já se deu conta do quanto o filme toca cada pessoa de um jeito? Uma cena que te marca profundamente passa batido pela pessoa ao lado. E vice versa.
Amor Impossível traz aprendizados sobre gestão, visão e também sobre um tema que me apaixona: a inteligência espiritual. Deixo aqui algumas pinceladas que a obra trouxe para o quadro da minha vida.
O que é ser visionário? E como agem os visionários?
Sheik Waked, que personagem! Ele mostra que ser visionário não é apenas enxergar o futuro. Ele mostra o como. O Sheik demonstra a conexão entre estilo de vida, interioridade e ideias criativas, vencedoras.
O estado contemplativo, de plena presença, para ele vinha na pesca. No rio, sozinho, ele encontrava o portal para dimensões além dos cinco sentidos. Sentia a natureza, se tornava uma com ela. E tomava decisões. Isso é estilo de vida que leva à visão.
Essas dimensões - contemplação, conexão com a natureza - nem sempre são acessadas no dia a dia. Mas fazem parte da lógica para sair do piloto automático e viver bem. Em paz consigo mesmo.
Qual é a sua pesca? Você sabe usar todas as suas potencialidades? Ou ainda não se conhece o suficiente para poder responder? Qual é o seu espaço de contemplação? Quando era bem jovem e morava em Brasília o meu eram as banhos de cachoeira. Hoje, fazer trilha na mata que cerca o lugar onde moro e pedalar na natureza.
A natureza ensina
A vida têm uma dinâmica e segue um fluxo, quer nós - pessoas ocupadas demais para observá-la - queiramos ou não. Quanto mais atentos à essa dinâmica, maior a conexão com a força da vida e mais clareza sobre o caminho individual.
Encontrar o próprio caminho, o propósito de vida, não é uma tarefa fácil. Mas ninguém que queira encontrar sentido é livre para ignorar esse chamado. O preço de ignorar a tarefa de conhecer a si mesmo é o 'peso' de uma vida vazia. Como a de Dr. Jones no início do filme.
Ao longo da trama, o observador atento é convidado a entender que, a todo momento, a vida se comunica. Tem vento que é sinal de chuva. Tem som que é sinal de presença de um tipo de animal. Tem revoada de pássaros que diz 'vai'. Tem raio de sol que diz 'sim. É esse o caminho'.
Há uma infinidade de sinais da vida que não fomos educados a observar. Mas isso não significa que não existam. Se abrir para esta dimensão é ser um humano integral. É entender que o humano é corpo, é racionalidade, mas é também emoção e transcendência.
Fé? Esperança? Estratégia? Ação.
Quando uso a expressão transcendência, me refiro à alma - no sentido filosófico da palavra. Não importa o nome que se dá. Me refiro à fonte das melhores decisões. A fonte daquela “certeza” inexplicável. A mágica que nós humanos somos capazes de fazer com o acumulado de experiências, somadas à sensibilidade, que se manifesta como um norte, uma intuição que mostra o caminho. Acessar essa dimensão é ser um humano integral.
Mas como ter controle dessa ferramenta tão sutil? Como não perder o sussuro da intuição, apesar do barulho do piloto automático? Dr. Jones, Harriet e o Sheik mostram que só há um caminho: ir além da racionalidade pura.
Fé é a palavra que o sheik usa. Seja no sentido religioso ou laico, acreditar definitivamente move pessoas e projetos. Ter fé não significa que conhecimentos técnicos são dispensáveis. Claro que não! Aliás, ampliação do repertório aumenta o volume de associações, de combinações possíveis no cérebro. Aí nasce a visão: combinação única de tudo o que vamos vivendo e aprendendo.
Ter visão requer somar porções de paciência, tolerância e humildade. E, creio eu, demanda uma dose de generosa de autoconhecimento e abertura ao diferente.
Inteligência racional, emocional e espiritual
Não quero dar muito spoiler. O convite é que você assista Amor Impossível e, se sentir vontade, participe das sessões quinzenais de análise de filmes da Sonata Brasil. Mas um gostinho fica aqui: sua visão sobre as três inteligências - racional, emocional e espiritual - vai mudar depois deste CineIn.
“Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual.
Somos seres espirituais tendo uma experiência humana”
Pierre Teilhard de Chardin
Amanhã o filme em análise será Matriz. Os encontros são sempre às quintas-feiras, 17h30. O modo mais simples de receber o link para sala de zoom onde nos encontramos é pelo grupo CineIn no Telegram: https://t.me/joinchat/PJeTOUhUeXnl0ieMsisGeg
Soraia Schutel, Morpheus, Neo e Trinity esperamos você amanhã.
Coordenadora Administrativa na ORIENS Brasília | RH | Escritora | Gestão do Tempo | Gestão de Projetos
4 aQue análise maravilhosa Natália! Eu acabo sempre fazendo isso quando assisto filmes, mas de forma inconsciente vou me remetendo às situações do cotidiano, e naturalmente os ajustes vão acontecendo. Obrigada por compartilhar algo tão rico.