O urubu que toca flauta e violão
Na fauna corporativa, esse personagem controverso tem lugar quase sempre garantido. Falante e bem-humorado, destaca-se por sua cultura diferenciada e talentos diversos.
Para toda situação, tem um provérbio ou frase de algum CEO famoso, de um guru da administração moderna. Para o urubu artista, tudo tem sempre uma explicação, um modelo descrito em livros ou artigos publicados. Obviamente, essa sabedoria só aparece post mortem, sem que nada tenha sido feito para impedir.
Nesses momentos, revela-se a sua natureza essencial. Porque, apesar do seu caráter descontraído, suas citações poéticas, ele gosta mesmo é de carniça. É disso que ele vive. Aquele projeto que deu errado, aquela campanha que fez água, aquele processo que ninguém consegue fazer funcionar são pródigos em fabricar culpados, executados em praça pública – pratos perfeitos para a voracidade e para o oportunismo do urubu.
Curiosamente, essa característica nefasta e repugnante, à primeira vista, é o que faz com que ele goze momentos de popularidade na comunidade. Porque o urubu, por vezes, faz aquilo que nós gostaríamos de fazer: tirar proveito de um defunto à margem do caminho, pedacinho por pedacinho.
Fica o alerta. Devíamos colocar placas nas portas das salas de reunião e dos diretores, nas baias dos funcionários e também nos banheiros: “Favor não dar comida aos urubus”.