Onde você se formou?
Uma simples pergunta com uma carga tão densa por trás.
Certamente todos sabemos (ou pelo menos temos ideia) quais são as instituições de ensino mais reconhecidas em nossa área de formação (no caso da publicidade, ESPM e Cásper), além daquelas com nomes poderosos em todas as áreas (Mackenzie, PUC etc).
Sabemos também o quanto custa estudar nesses lugares.
Um preço totalmente fora da realidade da maior parte da população que já pode se considerar privilegiada quando tem a oportunidade de cursar o ensino superior.
No meu caso, por exemplo, mesmo do alto dos meus privilégios de ter sido criada por pai e mãe, sempre ter casa, comida e roupa lavada, era totalmente inviável pagar mil, dois mil reais em uma mensalidade que eu mesma teria que pagar com o que recebia nos empregos/estágios que conseguia (uns R$500,00 na época).
Fui então para uma faculdade (universidade era mais caro) ultra popular, com mensalidade em torno de R$400,00.
Sempre tive consciência de que não tinha acesso aos mesmos recursos dos que estudavam nas grandes referências, mas também sempre ouvi (e hoje sei) que o trabalho mesmo não se aprende na faculdade, se aprende fazendo, quebrando a cara, estudando em diferentes fontes (e não só nos livros indicados pelos professores que acham que se você não decorar Kotler nunca será ninguém), enfim, o bom e velho clichê de aprender na prática.
Com tudo isso em mente, me esforcei o máximo que consegui durante a graduação e lá fui eu para a vida de adulta acreditando que meu trabalho e esforço me levariam longe.
Demorei um pouco pra perceber o quanto estava errada
Felizmente (pra mim) tive muita sorte ao longo da minha carreira de estar no lugar certo na hora certa.
Conheci (por pura sorte) pessoas incríveis e que apostaram verdadeiramente em mim e me levaram para frente.
E assim fui passando por várias empresas, mas sempre pequenas agências ou indústrias de setores totalmente diferentes da publicidade, até que o dia de trabalhar em uma “grande agência” chegou.
E foi aí que a verdade se esfregou na minha cara.
Consegui minha vaga por meio de uma indicação (mais uma vez) de alguém que já tinha trabalhado comigo, e em meio a uma situação complicada na agência que precisava de alguém com urgência para cobrir uma saída. Não tinham tempo para uma seleção de dias/semanas.
E lá estava eu, descobrindo o quanto minha “história educacional” era insignificante.
Eu simplesmente era a única que havia estudado em uma instituição popular (nem todos eram das “melhores”, mas ao menos era de universidades com alguma reputação no mercado) – hoje, felizmente, há outras (poucas) pessoas.
Eu era (e ainda sou) uma das únicas com o inglês macarrônico de quem nunca sequer saiu do país e não tem, de maneira nenhuma, capacidade de guiar uma reunião no idioma.
A única (hoje também já tem algumas poucas pessoas me fazendo companhia aqui) a ter estudado a vida inteira em escola pública.
É indescritível a revolta que senti quando descobri que a universidade onde se estudou é um dos pontos mais importantes nos currículos recebidos pelas grandes empresas (principalmente para quem está começando a carreira).
Minha vontade é gritar: é sério que vocês acham que isso definirá a qualidade de quem está se candidatando?
Apenas parem!
As pessoas não deveriam ser contratadas por seu interesse, dedicação, conhecimento... enfim, uma série de outras coisas diferentes de onde estudaram?
Deixando qualquer modéstia de lado, hoje posso dizer que realizo um ótimo trabalho, inclusive já elogiado dezenas de vezes por diferentes pessoas, mas, ao mesmo tempo, posso dizer que, em condições normais, sequer teria sido contratada.
E o pior é saber que é assim (quase) sempre.
Esse é o padrão.
Que outro jeito é melhor para garantir que os pobre continuem pobres e os ricos, ricos, não é mesmo?
Não tente me convencer de que as empresas buscam apenas qualidade.
Olhe para o lado (se você é privilegiad@ como eu e está em uma grande empresa) e conte quantas pessoas com a educação construída em escolas públicas e faculdades populares dividem o ambiente com você. Quantos negros dividem o ambiente com você. Quantos filhos de mãe solteira e periférica dividem o espaço com você.
Quantas pessoas de fora da “bolha” dividem o espaço com você?
Onde eu me formei?
A resposta oficial será “na Faculdade das Américas – FAM (antes mesmo dela ser patrocinadora de times de futebol ou ter um prédio gigante e moderno na Rua Augusta”, mas a resposta que deveria ser considerada correta é “não interessa”.
Community Manager | Content Strategy | Social Media
5 aMe senti 1.000% representada!! Ótimo texto!
Data Supervisor - DAVID Agency
5 aMe senti contemplada!
Produtor Artístico
5 aFalei disso esses dias com amigos, o quanto é importante ter no currículo uma Mackenzie, ESPM... Textão, parabéns!