Orgulhosos Apenas Em Junho?
Quando os consumidores se tornaram os principais advogados e defensores das marcas, receberam também o poder de serem os carrascos das mesmas. Há alguns anos, marcas não são cobradas apenas pela produção de um produto ou serviço de qualidade, mas também por seu posicionamento, por demonstrar identificação com o público que atinge e conhecimento sobre ele. O consumidor tem consciência de que por trás de cada departamento de uma empresa, existe um grupo de pessoas e que a comunicação e os produtos daquela marca, refletem seus ideais e sua ética. Isso acontece também com os influenciadores digitais, que exigem saber as ideologias e posicionamentos de uma empresa para decidirem se vão ou não associar seus nomes a ela.
Cobranças começaram a ser feitas quando parte do público percebeu a falta de representatividade em algumas das marcas das quais consumiam. Começaram a exigir posicionamentos sobre temas polêmicos e buscar com uma lupa qualquer contradição na comunicação delas. Isso fez com que trabalhar Inclusão e Diversidade nas empresas se tornasse uma urgência e que suas equipes fossem capacitadas para lidar com esse novo mundo. Porém, por mais que uma grande demanda fosse cobrada, não foram todas que, de fato, investiram nessa mudança, e muitas, tentaram maquiar o problema ao invés de resolvê-lo.
O mês do Orgulho, que se inicia hoje, se tornou um dos momentos que mais alerta aos consumidores em relação a empresas que não se comprometem de fato com a diversidade, porém, almejam os lucros que ela gera. Influenciadores denunciam constantemente as marcas que, durante o ano, nada se pronunciam sobre as lutas dos LGBT+s, mas que no mês de junho engajam campanhas, levantam bandeiras e criam produtos e serviços diferenciados em comemoração à causa. A comunidade está cada vez mais atenta à empresas que não diversificam suas equipes e que dizem apoiar minorias, mesmo não tendo conhecimento sobre suas lutas. Essas contradições são fatais para muitos segmentos no mercado e podem diminuir consideravelmente o público das marcas.
Diversidade e Inclusão não deveriam visar apenas lucros. É claro que eles são consequência de um mercado que, a cada dia mais, valoriza essas questões. Mas já ficou claro que empresas que não se aprofundam no assunto e que não são sinceras com seus consumidores, não atingem os resultados esperados. Capacitar uma equipe é fazê-la, de fato, entender a importância da inclusão e da diversidade e, dessa forma, começar a efetivamente praticá-la. Aqui na LCM fazemos esse trabalho com palestrantes membros das minorias abordadas, relatos pessoais, dados, estatísticas e dinâmicas. A interação de quem participa do programa também é de extrema importância, uma vez que cada vivência e perspectiva importam para um diálogo produtivo. E é essa construção que solidifica a mudança! Mudanças sem estrutura, sem fundamento, assim como qualquer construção, uma hora vão cair.
Se tirar um tempo para navegar nas redes sociais, nas páginas de memes e notícias mais consumidas pela comunidade LGBTQIAP+, você verá o quanto é comum, durante o mês de junho, a produção de memes e brincadeiras com a súbita relevância que a comunidade recebe nesse período. Encontrará, inclusive, publicações mais ácidas, apontando alguma empresa ou produto em particular que errou feio ao tentar participar, sem muito conhecimento, das comemorações do Mês do Orgulho.
E isso não acontece por coincidência e nem por uma resistência por parte da comunidade. A realidade é que, por trás do desenvolvimento desses serviços ou produtos, que acabam se tornando vítimas das brincadeiras, raramente existe uma equipe pluralizada. Muitas vezes, além da falta de pluralidade, encontra-se também, nas equipes, um conhecimento muito raso sobre as reais vivências e a cultura dos LGBT+s, fazendo com que o produto nem mesmo se comunique com quem deveria.
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O Mês do Orgulho é comemorado em homenagem a um acontecimento muito importante, porém muito triste, que tomou as manchetes de inúmeros países em 1969, quando o Stonewall Inn, um dos bares LGBT+s mais frequentados de NY, foi vítima de uma batida policial, sem nenhum motivo aparente. A comunidade, por sua vez, não baixou a cabeça e revidou a invasão policial. A briga durou dias, a grande mídia cobriu cada detalhe e figuras importantes dentro da bolha LGBT+ se tornaram conhecidas por todo o país. A luta por direitos da comunidade já existia há décadas, mas foi naquele dia, na que ficou conhecida como A Revolta de Stonewall, que o movimento ganhou a relevância que tem até os dias de hoje.
Portanto, é sim um mês de alegria, pois não deixa de ser uma conquista. Mas se vemos uma comunidade lutar por direitos e respeito, é porque, em algum momento, isso foi tirado dela. Ainda somos o país com os maiores índices de mortes LGBTQIAP+ no mundo, pessoas trans ainda tem uma expectativa média de vida abaixo dos 40 anos, LGBT+s ainda são expulsos de casa, perdem seus empregos, são vítimas de piadas maldosas diariamente, chegando até mesmo a serem agredidos na rua com uma frequência assustadora.
Nossa luta pela inclusão da comunidade LGBTQIAP+ não pode se resumir ao mês de junho. É um assunto sério, que toca na vida de milhares de brasileiros, sejam membros da comunidade, parentes de algum membro ou até mesmo aliados que apoiam a causa. O mês é um marco muito importante, mas ele serve apenas para nos lembrar do que deveria ser feito o ano todo. Marcas que querem aderir às causas LGBTQIAP+, têm que mergulhar de cabeça em sua luta, entender quais as pautas mais relevantes nesse momento, as terminologias que já se tornaram ultrapassadas, que tipo de humor não ofende os membros da comunidade e, com isso, atingir resultados que de fato os represente.
Portanto, “ser um aliado” apenas quando os olhos estão voltados para você e as cobranças aumentam, não é o caminho certo. Gestores e diretores têm em suas mãos, todas as ferramentas para acompanhar esse progresso. Capacitar suas equipes, dar espaço aos LGBTQIAP+ e construir uma dinâmica de inclusão genuína em sua empresa, é o que vai solidificar seu posicionamento ao lado da comunidade. Assim, seu público vai enxergar que essa causa faz parte de sua lista de prioridades, que seu apoio à ela é fruto do que sua marca realmente acredita e que no mês de junho, estamos apenas comemorando as vitórias que você, com sua voz, espaço e oportunidades, está ajudando a conquistar.