Os novos donos de Angola e o trabalho escravo contemporâneo

Os novos donos de Angola e o trabalho escravo contemporâneo

Na sexta-feira, 15 de setembro, fui à Cidade da China ver alguns móveis que necessitava e nunca olhei para o troço da Fidel Castro como naquele dia. Uma verdade veio-me aos olhos enquanto olhava para a direita e para a esquerda: toda a Via Expressa é um colonato chinês! Vivemos numa nova era colonial, pergunto-me se de facto a escravidão acabou... Isso é percebido através dos grandes empreendimentos que a nação do sol nascente construiu em Angola, através de um acordo baseadas em uma relação comercial emergente. Os dois países mantém fielmente essas relações desde a pré-independência de Angola, mas somente em 1983 que os laços políticos foram firmados. Um facto interessante é que em 2007, isto é, 5 anos após a paz civil, Angola já era considerada o maior parceiro comercial da China em África, e dessas trocas comerciais entre os dois países resultou, no ano de 2010, 24,8 mil milhões de dólares americanos. Mas atualmente, isso desde 2011, Angola tornou-se o segundo maior parceiro comercial dos chineses no continente africano, perdendo pela África do Sul. E de lá para cá Angola vem recebendo "linhas de crédito" milionárias do Banco de Exportações e Importações da China para reparar a infraestrutura do país.

Nas ruas de Luanda, a capital de Angola, o cenário urbano brilha com centralidades, caminho de ferro, pedonais e etc, o que nos leva a crer em uma economia em crescimento. No entanto, sob essa fachada moderna, existe uma realidade muitas vezes esquecida: formas modernas de exploração persistem, e a influência chinesa é inegável.

Durante o período dos conflitos armados, o país atou uma corda ao pescoço, estabelecendo uma parceria complexa e eterna com a China, que forneceu investimentos substanciais em infraestrutura em troca de acesso a recursos naturais. No entanto, essa relação deu origem a uma série de problemas, incluindo a exploração de jovens angolanos provenientes de outras províncias, que experimentam o sonho de Luanda, em condições que a mim lembram muito a escravidão.

O trabalho infantil é outra realidade dolorosa em Angola, sobretudo nas províncias do interior. Crianças, muitas vezes órfãs ou provenientes de famílias extremamente pobres, são frequentemente encontradas a trabalhar em obras, armazéns e lojas dos chineses, onde realizam tarefas domésticas, e às vezes sexuais, em condições de exploração. Elas são vítimas de uma realidade que rouba suas infâncias e oportunidades de educação.

O trabalho forçado também é uma triste realidade. Muitos adultos são atraídos pela promessa de empregos bem remunerados na construção civil e na indústria produtiva, ou seja, nas fábricas, e nas suas lojas, apenas para descobrir que estão presos em empregos perigosos e mal remunerados, muitas vezes vivendo em alojamentos precários fornecidos por empresas chinesas, malianas ou senegalesas que operam em Angola, sem alimentação, contrato, seguro para os acidentes de trabalho e sem transporte e dias de descanso. Nem devem e não podem reclamar, porque qualquer inquietação sofrem ameaças de serem despedidos e assim vir a perder os AKZ 1.000.00, ou menos, que ganham diariamente.

A influência chinesa é inegável. Empresas chinesas têm um papel central em setores-chave da economia angolana, e isso muitas vezes resulta em práticas de trabalho questionáveis. A busca por lucros muitas vezes leva à exploração e a violações dos direitos desses trabalhadores/funcionários. Além disso, a falta de regulamentações e supervisão adequadas torna difícil responsabilizar as empresas envolvidas.

Nós temos um amor especial em imitar outros países, mas infelizmente só imitamos as coisas erradas. O que é bom não! Nações há, que priorizam seus cidadãos só depois viria o estrangeiro, o que vivemos na nossa própria terra é exatamente o contrário. Eu penso que o governo angolano deve assumir a responsabilidade por garantir que os direitos de seus cidadãos sejam protegidos e são necessárias medidas mais rigorosas de regulamentação e fiscalização para enfrentar esses desafios.

Adelino Nelembe

Student 👨🏽💻| Supply Chain Technician 💼 in Oil & Gas| Entrepreneur Co-Founder @Fluorescent_Powder | Volunteer @Junil.ong♥️ | God 🙏🏽 above all things. #carpediem

1 a

🙏🏾😢

Curiosamente ontem pela mesma via com a minha esposa e falamos à respeito!

Joel de Vasconcelos

Coordenador de Comunicação & Marketing | Jornalismo | Customers Support | Branding | Sales Manager

1 a

De quem é a culpa? Dos que humilham ou dos que se deixam ser humilhados?

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