Os desafios de uma mãe empreendedora!

Por Silvana Regina Inácio

Minha mãe me ensinou que ter resiliência, fé e coragem são as principais soft skills para o sucesso. Para alguns ter sucesso é ter um milhão no bolso ou seguidores e para outros é ver a família feliz e unida. É tudo uma questão de propósito!

O que é ser uma mãe empreendedora?! Tenho propriedade para falar sobre o tema, sou filha de empreendedores que nos criaram com algumas regalias como, por exemplo, nos proporcionar a oportunidade de ir à universidade.

Não ficamos milionários e eu e meus dois irmãos, enquanto filhos de comerciantes, aprendemos a contar dinheiro antes mesmo de balbuciar as primeiras palavras (rs). Me lembro como se fosse ontem da minha irmã mais ou menos aos 5 anos de idade, em cima de uma caixa de tomate, dando o troco para o cliente.

Na década de 1970 minha mãe já era uma empreendedora. Ela contribuía financeiramente nas despesas com uma vendinha bem pertinho de casa, inclusive, na mesma rua e bairro em que morávamos. O meu irmão era bebê de colo na época e para que minha mãe pudesse trocar suas fraldas, o amamentar e dar conta dos afazeres domésticos nós nos revezamos no balcão, antes ou depois da escola.

Ele ficava o dia todo ao lado da minha mãe na vendinha e naquela época, não existia aquele cercadinho acolchoado popularmente conhecido como “chiqueirinho” e muito menos esses carrinhos modernos, que só faltam falar, que na realidade eram supérfluos e não havia espaço. Minha mãe tratava de arrumar uma caminha fofinha no mesmo caixote que a minha irmã subia para dar troco e ali ele dormia com um lindo sorriso no rosto.

Crescemos, assim! Vendo a minha mãe trabalhando, cuidando da casa e nos educando simultaneamente. Cansei de vê-la atendendo os clientes que iam buscar algum ingrediente que faltava para terminar o almoço ou jantar com o meu irmão no colo chorando.

Ela, infelizmente não está mais aqui para me ajudar a contar essa história, mas definitivamente foi, é, e jamais deixará de ser a minha inspiração! Comecei a trabalhar aos 14 anos como arrematadeira em uma oficina de costura, depois fui balconista em uma farmácia de manipulação. Aos 16 anos me tornei bancária, na época ser bancário era sinônimo de sucesso, mas trabalhávamos muito. Posteriormente, me tornei analista em uma grande empresa multinacional.

Eu já era admiradora da jornalista Glória Maria, única negra a aparecer na TV brasileira. Ela era a minha referência de sucesso e aí eu larguei tudo para ingressar na área de comunicação. Fiquei estagiando até me formar e aproveitei para aprender tudo que o que podia. O plano era abrir meu negócio e ter meus clientes, não queria ter patrão.

Um ano após terminar a faculdade de jornalismo, já estava em vias de concluir a pós-graduação e já tinha aberto a minha agência em parceria com uma amiga. Havíamos conquistado alguns clientes, estava tudo correndo conforme o planejado, quando de repente: pá! Eu engravidei da minha primeira filha!

Na época não existia essa nomenclatura “empreendedorismo” e nem redes apoio ao empreendedorismo feminino como um financiamento, por exemplo, o negócio era colocar na creche e “ralar”. O meu sonho de ter uma agência, com o tempo se tornou uma necessidade para que pudesse ter mais flexibilidade para acompanhar o crescimento dos meus filhos. Sim! Tive a felicidade de ter mais dois.

Foi desafiador! Retornei ao mercado em alguns momentos de crise, mas sempre voltava para o meu negócio. Agora, olhando para trás com os meus três filhos criados (25, 21 e 17 anos), pensando na Universidade e cheios de planos, vejo como empreender abriu meu campo de visão, me fortaleceu, foi e é importante para formação deles.

Um empreendedor precisa de habilidades sociais e emocionais, as tão comentadas soft skills, além da habilidade técnica. Algumas eu tinha, outras não. Tive que aprender com a dor e, assumo, outras habilidades ainda não adquiri e quer saber? Está tudo bem, porque empreender é um aprendizado contínuo. É preciso se reinventar e inovar todos os dias; e o mais importante é ter coragem, assim como a minha mãe tinha de todos os dias se levantar e buscar o pão nosso de cada dia com um sorriso nos lábios.

Foi um mar de rosas? Se eu dissesse isto seria uma grande mentira. Teve dificuldade financeira, dias de frustração, dias de pânico, o medo do amanhã e muitas lágrimas! Se você perguntar para as minhas filhas elas vão te contar em detalhes, entre gargalhadas, das vezes que cheguei as “esquecer” na escola (rs).

Na realidade não foi esquecimento só cheguei muito atrasada, porque saía com a pasta debaixo do braço para uma reunião do outro lado da cidade, de ônibus e sem celular, que ainda não existia no Brasil, para avisar sobre os imprevistos. Se quisesse ligar tinha que descer do ônibus e procurar um orelhão que estivesse funcionando, por sinal.

Para eles acompanharem a minha trajetória também foi um aprendizado! Sabem que nada cai do céu, que é necessário buscar e muitas vezes não vai dar certo, mas é preciso levantar, sacudir a poeira e tentar de novo e de novo... E de novo! Se for preciso pivotar para atingir o objetivo, que assim seja, mas desistir dos sonhos não é uma opção, nunca.

Se você me perguntar: Silvana, valeu a pena? Eu te digo sem nenhuma ponta de dúvida que sim. Ser mãe é, definitivamente, padecer no paraíso e eu construí uma linda família. Como diz a canção de Roberto Carlos, de quem minha amada e inesquecível mãe era fã: “...se chorei ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi...”

Um feliz dia das mães!