Os Objetivos Ocultos das Crianças e o Microgerenciamento. Como isso impacta o trabalho.
Introdução
Você já se perguntou por que certas práticas de gestão, como o microgerenciamento, são tão prevalentes apesar de seus efeitos negativos amplamente conhecidos? Durante uma conversa com minha irmã, uma educadora parental da disciplina positiva, discutimos os objetivos ocultos das crianças e as reações dos adultos. Percebi que muitos dos desafios enfrentados pelos gestores ao liderar suas equipes têm raízes semelhantes aos objetivos ocultos das crianças. Por ser um tema também bastante interessante, resolvi trazer aqui um pouco sobre o assunto de forma a criar as conexões com as raízes e efeitos do Microgerenciamento. Um vilão corporativo.
A Natureza dos Objetivos Ocultos
Os objetivos ocultos das crianças são comportamentos que, embora muitas vezes pareçam desafiadores, têm raízes em necessidades emocionais profundas. Esses comportamentos provocam reações específicas dos adultos, que podem ser comparadas às reações dos gestores diante dos desafios de liderar suas equipes. Podemos destacar os seguintes objetivos, os sentimentos dos adultos quando diante desses objetivos, bem com as reações inadequadas:
Atenção Indevida
Poder Mal-Direcionado
Vingança
Inadequação
As relações entre crianças e adultos muitas vezes se parecem também com as relações corporativas entre líderes e liderados, seja pela falta de senioridade de ambos, seja pelos próprios comportamentos intrínsecos de cada pessoa. Mas o que isso tem a ver com o Microgerenciamento?
Microgerenciamento e Seus Efeitos
Assim como os adultos reagem aos comportamentos ocultos das crianças, os gestores reagem a seus próprios medos e inseguranças através do microgerenciamento. O microgerenciamento é uma abordagem de gestão onde o gestor monitora e controla de perto o trabalho de seus subordinados. Embora a intenção possa ser garantir a qualidade e eficiência, essa prática frequentemente resulta em desmotivação e frustração entre os funcionários.
Assim como os adultos reagem aos comportamentos ocultos das crianças, os gestores reagem a seus próprios medos e inseguranças através do microgerenciamento. O microgerenciamento é uma abordagem de gestão onde o gestor monitora e controla de perto o trabalho de seus subordinados.
Efeitos Negativos do Microgerenciamento
Os efeitos negativos do microgerenciamento são amplamente documentados. Estudos mostram que ele pode levar à baixa moral dos funcionários, alta rotatividade e um declínio geral na produtividade.
Baixa Moral
De acordo com Lauren Landry, da Harvard Business School Online, no artigo "How to Stop Micromanaging Your Employees" (2020), uma pesquisa realizada pela agência de recrutamento Accountemps constatou que 59% dos funcionários disseram que já trabalharam para um gestor microgerenciador, sendo que destes, 68% experimentaram uma diminuição na moral.
Alta Rotatividade e Declínio na Produtividade
Outro dado interessante reflete que 55% afirmaram que o microgerenciamento prejudicou sua produtividade — dois efeitos negativos que podem levar a um problema maior: a rotatividade de funcionários. Ainda, Landry indica que, de acordo com um Relatório de Retenção do Work Institute, substituir um funcionário custa às empresas 33% do salário anual desse trabalhador, aumentando ainda mais o poder devastador do microgerenciamento.
É possível prever que a frustração acumulada pela prática de microgerenciamento pode levar os funcionários a procurarem outras oportunidades de emprego, sendo uma das principais razões pelas quais os funcionários optam por deixar seus empregos.
Ainda, o tempo e esforço gastos na supervisão constante podem ser melhor utilizados em atividades produtivas. Portanto, a constante vigilância e falta de autonomia resultam em menor bem-estar mental e satisfação no trabalho, levando a um desempenho inferior na produtividade geral.
Ainda, o tempo e esforço gastos na supervisão constante podem ser melhor utilizados em atividades produtivas.
Efeitos Positivos em Trabalhadores Menos Qualificados
De acordo com Samakao e Mulenga (2023), no trabalho "Understanding the Counterproductive Effects of Micromanagement in Leadership Using the Lenses of Subordinate’s Employees" publicado no International Journal of Research and Innovation in Social Science (IJRISS), há uma diferença na percepção do microgerenciamento entre trabalhadores menos qualificados e trabalhadores mais qualificados.
Observou-se que o microgerenciamento pode gerar alguns feedbacks positivos para funcionários não qualificados, como trabalhadores gerais que podem precisar de supervisão próxima. Por outro lado, os trabalhadores qualificados podem não precisar dessa supervisão próxima porque são especializados e sabem o que fazer. A força de trabalho qualificada é geralmente mais conhecedora, exposta e experiente. Isso faz com que se frustrem quando são microgerenciados.
As motivações do Microgerenciamento e os objetivos ocultos
Embora o microgerenciamento seja frequentemente visto como uma abordagem de gestão ineficaz, é importante considerar os objetivos ocultos que podem motivar essa prática. Muitos gestores recorrem ao microgerenciamento por insegurança, medo de falhas ou uma crença errônea de que essa é a melhor maneira de garantir resultados de alta qualidade. Essas motivações podem ser comparadas aos objetivos ocultos das crianças.
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Insegurança e Falta de Confiança
Assim como uma criança busca atenção indevida, um gestor inseguro pode microgerenciar para obter a sensação de controle e relevância. Quando um gestor não confia nas habilidades de sua equipe, ele sente a necessidade de monitorar cada detalhe do trabalho. Isso pode ser um reflexo da própria falta de confiança do gestor em suas habilidades de liderança.
Medo de Falhar
O medo de falhar em um gestor pode ser comparado ao poder mal-direcionado em uma criança. Gestores que temem consequências negativas para eles mesmos ou para a empresa devido a erros cometidos por sua equipe, tendem a se envolver excessivamente nos detalhes do trabalho. No entanto, esse medo pode ser mitigado através da criação de um ambiente onde os erros são vistos como oportunidades de aprendizado.
Crenças Errôneas Sobre Gestão
Alguns gestores acreditam erroneamente que o microgerenciamento é a única maneira de garantir alta qualidade. Esta crença errônea pode ser comparada à vingança em crianças, onde a tentativa de controlar a situação resulta em uma espiral negativa de comportamentos. Gestores com essa mentalidade podem ter tido experiências passadas onde um controle menos rigoroso levou a resultados insatisfatórios, ignorando os benefícios de dar aos funcionários autonomia e espaço para inovar, ou, ainda, terem sido submetidos apenas a experiências com funcionários menos qualificados, faltando-lhes preparo para a gestão de um pipeline de liderança mais robusto.
E como substituir o Microgerenciamento?
Se você descobriu que você pratica Microgerenciamento, pode ficar calmo(a)! Existem várias práticas de gestão que podem ser adotadas para substituir o microgerenciamento e, ao mesmo tempo, alcançar os objetivos desejados de qualidade e eficiência. Aqui estão algumas alternativas:
Delegação de Tarefas
Delegar tarefas de forma eficaz é crucial para uma boa gestão. Isso não apenas libera o tempo do gestor para se concentrar em tarefas estratégicas, mas também fornece aos funcionários a oportunidade de desenvolver suas habilidades e assumir mais responsabilidades. Assim como os adultos que confiam nas crianças para se tornarem independentes, os gestores também devem confiar em suas equipes.
Feedback Constante
Em vez de controlar cada passo, os gestores devem focar em fornecer feedback regular e construtivo. Isso ajuda os funcionários a compreender onde podem melhorar sem sentirem que estão sendo constantemente vigiados. Este é um paralelo com a comunicação positiva e encorajadora com as crianças.
Comunicação Não Violenta
A comunicação não violenta é uma abordagem que evita críticas e julgamentos diretos. Ela se baseia na observação, sentimentos, necessidades e pedidos. Ao adotar essa prática, os gestores podem criar um ambiente de trabalho mais positivo e colaborativo. Assim como os adultos aprendem a se comunicar de forma eficaz com as crianças, os gestores podem aplicar essas mesmas técnicas no ambiente de trabalho.
Ferramentas para Melhorar a Gestão
Para superar o microgerenciamento, os gestores podem utilizar várias ferramentas e técnicas. Algumas delas incluem:
Conclusão
O microgerenciamento e os objetivos ocultos por trás dessa prática são complexos e multifacetados. No entanto, ao reconhecer e abordar esses objetivos, é possível adotar práticas de gestão mais eficazes e produtivas. Assim como na disciplina positiva, onde os adultos aprendem a responder aos objetivos ocultos das crianças de maneira construtiva, os gestores podem aprender a lidar com suas próprias inseguranças e medos de forma a promover um ambiente de trabalho mais saudável.
FAQ
O que é microgerenciamento e por que é prejudicial?
Microgerenciamento é uma prática onde o gestor controla de perto o trabalho de seus subordin
ados. Embora possa ter a intenção de garantir qualidade, geralmente resulta em desmotivação e baixa produtividade.
Como a comunicação não violenta pode ajudar na gestão?
A comunicação não violenta ajuda a criar um ambiente de trabalho mais colaborativo e positivo ao evitar críticas diretas e focar em necessidades e pedidos.
Quais são as alternativas ao microgerenciamento?
Algumas alternativas incluem delegação de tarefas, feedback constante, e adoção de metodologias ágeis e ferramentas de gestão de projetos.