Ousadia x Autoconfiança: Por que mulheres ainda são julgadas de forma diferente?
Na vida profissional, há um discurso constante sobre a importância de inovar, arriscar e "sair da zona de conforto".
Mas, para muitas mulheres, essa exigência vem acompanhada de uma barreira invisível: a baixa tolerância ao erro e a constante dúvida sobre a própria capacidade.
Por que isso acontece e como fugir desse ciclo?
Por que toleramos tão pouco os erros das mulheres?
A diferença na tolerância ao erro entre homens e mulheres é, em grande parte, moldada por expectativas sociais e culturais.
Desde cedo, meninas são incentivadas a serem "certinhas" e perfeccionistas, enquanto meninos são encorajados a explorar e aceitar falhas como parte do processo. Esse padrão continua na vida adulta, criando um ambiente onde os erros femininos são mais vistos e frequentemente julgados com mais severidade.
Além disso, mulheres em posições de liderança enfrentam cobranças desproporcionais. Muitas vezes, suas ideias são questionadas ou desconsideradas até que um homem as repita, reforçando a sensação de invalidação. Para mulheres negras, indígenas, com deficência e de outras intersecções, a situação é ainda mais complexa, pois enfrentam não apenas sexismo, mas também outras discriminações.
Esse ambiente de constante crítica alimenta o medo de falhar e o sentimento de impostora, criando um ciclo em que muitas mulheres hesitam em se arriscar, perpetuando a desigualdade. Isso que nem vou entrar no medo de demissão pós-gravidez e nas situações de assédio, muito mais frequentes com as mulheres.
Por que muitas mulheres não confiam em si mesmas?
A autoconfiança é construída ao longo da vida, especialmente na infância, com a validação externa – de pais, professores e outras figuras de autoridade.
Mas, para muitas mulheres, essa validação é rara ou vem quando somos “lindas” ou “doces”. Comentários como "certinha", "quietinha", “comportada” ou "que quer aparecer" podem parecer inofensivos, mas criam padrões que persistem na vida adulta, moldando a forma como as mulheres percebem suas capacidades.
Esse histórico pessoal se soma a pressões culturais que reforçam a ideia de que as mulheres precisam provar constantemente seu valor.
Essa insegurança pode levar à auto sabotagem: recusas a promoção, procrastinação de projetos e dificuldade em aceitar elogios ou reconhecer suas conquistas publicamente. Isso impacta não apenas suas carreiras, mas também a saúde mental, contribuindo para quadros de ansiedade e estresse.
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Como romper esse ciclo?
Romper o ciclo de insegurança e intolerância ao erro exige esforço coletivo e individual. Aqui estão alguns passos que podem ajudar:
1. Reestruturar o ambiente organizacional para culturas mais inclusivas e seguras, o que inclui:
2. Trabalhar a tolerância ao desconforto
Para muitas mulheres, o desconforto de ocupar espaços de destaque pode ser paralisante. Aprender a tolerar esse desconforto, reconhecendo-o como parte natural do crescimento, é fundamental. Como disse Kátia Lima, mestre em psicologia social, "estar em lugares que ainda não estão prontos para nos receber" é difícil, mas pode ser necessário para quebrar padrões.
3. Redefinir o conceito de erro
O erro deve ser visto como parte do processo de aprendizado, não como um reflexo de inadequação. Líderes podem ajudar ao:
4. Construir redes de apoio
Grupos de mentoria e espaços de troca podem ser transformadores. Mulheres que compartilham suas experiências criam uma rede de validação mútua, reduzindo a sensação de isolamento e reforçando a confiança. Parafraseando minha amiga Patty: andem(os) em bando!
5. Reforçar a ideia de merecimento
Trabalhar o merecimento é um processo contínuo. A terapia pode ajudar as mulheres a reconhecerem suas conquistas e internalizarem que merecem estar onde estão.
A construção de um ambiente onde mulheres possam ousar sem medo de errar é um processo coletivo. Empresas precisam repensar suas práticas, enquanto mulheres devem ser apoiadas na jornada de autoconfiança e validação.
No final, quando mais mulheres ocupam espaços de destaque, elas não apenas crescem individualmente, mas abrem caminho para que outras também possam ousar e transformar o mercado para melhor.