PÓDIO, PEDRAS E ESPINHOS

PÓDIO, PEDRAS E ESPINHOS

PÓDIO, PEDRAS E ESPINHOS

A vida é como uma trilha estreita com rochas e crateras em todo o trajeto, além de margens repletas de espinhos. No decorrer da vida somos forçados a aprender a saltar sobre as armadilhas, escalar para transpor os obstáculos e a nos equilibrar para não nos ferir com o que nos cerceia. Embora o mundo pareça conspirar contra nós, somos e sempre fomos capazes de sobreviver nesse ambiente hostil. Os riscos estarão sempre presentes, mas o importante é que haja desejo e coragem para seguir em frente, porque no percurso sempre haverá o que colher, recompensas que certamente farão bem aos sentidos e agradarão aos corações, e cuja posse será tomada por aqueles que perceberem que o prêmio, muitas vezes oculto, está no caminho e nunca no destino final.

Nessa jornada, nossos maiores inimigos serão sempre o medo e a apatia, causas freqüentes da repentina imobilidade diante das adversidades, pois podem nos impedir de seguir em frente, de arriscar e experimentar o novo, agindo como limitadores da vida, do prazer e, conseqüentemente, da felicidade. Sentimentos que precisam ser vencidos, pois comprometem a caminhada, podendo até abreviá-la, condenando vidas ao um fim prematuro, ainda que preservada a existência, originando uma espécie de vida latente suscetível ao tédio, que normalmente conduz à tristeza profunda, podendo desencadear quadros de depressão.

O medo vem perseguindo a humanidade desde a conscientização relativa à finitude da vida, decorrente da deterioração biológica implacável, que nos mantém sob constante ameaça e nos condena à derradeira deformação do corpo e à inevitável expiração. Não bastasse a convicção da inviabilidade da segurança do percurso e do almejado final feliz, ainda estamos permanentemente sujeitos aos perigos externos, ao “perigoso mundo” com suas maldades, violências, incertezas e injustiças. O que seria um alerta natural a nos preservar de perigos reais também é capaz de nos imobilizar diante da possibilidade de sermos acometidos por um eventual sofrimento decorrente das rejeições, angustias, decepções, perdas e frustrações. O medo não é um fato concreto, mas um sentimento capaz de antecipar as dores inerentes ao que ainda não aconteceu e que talvez jamais aconteça.

A apatia pela vida é condição gravíssima que advém do cansaço, da solidão e da desesperança de pessoas cujo sofrimento lhes afetou a motivação, e que não são capazes de vislumbrar perspectivas favoráveis. Normalmente, caracteriza-se pela ausência do prazer, da alegria de viver e, do desejo de seguir adiante, gerando um comportamento autodestrutivo.

Não raro testemunhamos o comportamento de pessoas que parecem ter desistido da vida, caracterizado pelo desinteresse e falta de precauções. Agem como se todo o colorido da vida houvesse desaparecido e nada mais fosse capaz de lhes proporcionar prazer. Descuidam-se do próprio corpo e da aparência, algumas recorrem ao uso do álcool ou de outras substâncias entorpecentes, cujos efeitos acreditam ser capazes de amenizar o sofrimento, mas que somente promovem o agravamento. Sofrem insuspeitos acidentes que denotam coincidência, mas que decorrem da falência do instinto de auto-preservação, gerado pela indiferença pela própria integridade física. Adoecem com maior facilidade, porque o corpo reflete do estado psicológico de cada indivíduo. Caminham a passos largos em direção à morte, ao mesmo tempo temida e desejada, na ausência de propensão ao suicídio decisivo.

A tristeza é como um parente indesejável que insiste em nos visitar. Não devemos alimentá-la ou permitir que ela permaneça por muito tempo, tampouco hospedá-la em nossas casas. Desperdiçar tempo com o que nos faz mal é jogar fora o que possuímos de mais precioso, já que o tempo é o “odômetro inviolável da vida”; desta vida efêmera e única de que dispomos. Ainda que se creia na existência de outra, a vida passada e a vida presente jamais retornarão. Podemos reconstruir a casa desabada, reaver o dinheiro que nos é roubado, nos reerguer a determinada posição anteriormente ocupada ou até reconquistar pessoas, porém um tempo de vida consumido pelo sofrimento jamais será recuperado.

O tempo confunde-se com nossa existência e a existência é freqüentemente confundida com vida. Porém, há uma grande diferença entre existir e viver. Há pessoas que vivem trinta anos em dez e outras que envelheceram sem viver mais do que vinte anos. Tudo depende da intensidade e da qualidade de cada existência, e para tanto, há de haver consciência de que a vida não faz sentido para que possamos criar nosso próprio sentido para a vida. Se viver é uma arte, alguns parecem nascer com esse dom, enquanto outros aprendem com a experiência. Porém, é notório que muitos precisam de ajuda, pois se existir não é fácil, viver menos ainda. E o mundo não tem pena de ninguém!

Muito se fala sobre felicidade e por mais que a cada dia surjam fórmulas milagrosas para atingi-la, ela permanece oculta em meio a uma densa nebulosidade, assim como a sua definição se mantém absolutamente imprecisa, embora a infelicidade, ao contrário, sempre se manifeste de forma exata.

Cientes da inexistência do arco-íris no fim da trilha, resta-nos encontrar prazer e satisfação na caminhada. E para tanto, se faz necessário voltar a atenção para o que dispomos, sem ressentimentos pelo que não pudemos conquistar. É preciso se manter em movimento, seguir sempre em frente sem esmorecer diante dos obstáculos, alterando o foco e a estratégia quando necessário, ou reformulando a vida para retomar o rumo. Estabelecer metas realizáveis que estimulem a progressão e nunca deixar de sonhar, pois a imaginação é nossa realidade mais profunda. E de alguma forma, todos nós, seres humanos, vivemos em um mundo de ilusão, já que toda experiência é submetida ao filtro dos sentidos e à disposição mental determinada por nossas idiossincrasias.

Apaixone-se por pessoas, por atividades e pelas dádivas da natureza. Faça-os presentes em seu cotidiano, tornando seus dias mais agradáveis. Não faça de um único bem a razão da sua vida, diversifique e mantenha a mente aberta. Isso tornará suportável a dor de uma eventual perda e das inevitáveis decepções, facilitará a superação e não lhe apagará o brilho dos olhos. Torne-se importante para as pessoas praticando o bem e doando bons sentimentos, na maioria das vezes somos nós os maiores beneficiados ao distribuir afeto e ajuda a quem precisa. Faça bom uso de seus preceitos morais, mas não espere aplicá-los aos demais. Lembre-se que egoísmo não é viver de acordo com as próprias concepções, mas desejar impor aos outros que também vivam conforme os mesmos critérios. Mantenha a distância de quem te faz mal. Conceba as adversidades como obstáculos naturais inerentes à vida, não permita que elas o façam sofrer. Pessoas imunes a aborrecimentos inúteis desfrutam de maior longevidade e melhor qualidade de vida.

Não havendo pódio de chegada, desfrutemos todos os dias do que há de bom em cada trecho da corrida. A tristeza não traz benefício algum e não há motivo pelo qual valha à pena sofrer. Então, que toda dor seja breve quando for inevitável, já que para cada problema existe pelo menos uma solução, mesmo que seja por meio da adaptação a uma nova realidade. Afinal, não foi a capacidade de adaptação que permitiu à humanidade chegar até aqui?

Roberto Sany Freire

Blog: Insanydade

Amei amiga essa sensibilidade só podia ser de vc bja.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos