Pós-Vendas Vodu, o Impacto dos Preços em suas Vendas
Autores: Fernando Lima / Alberto Puga Leivas – APL Serviços Técnicos EIRELI
Economia vodu é o termo que George HW Bush usou para descrever as políticas econômicas do presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan antes de se tornar seu vice-presidente. A “economia vodu”, menosprezada em textos economia ortodoxa como uma teoria de “charlatães”, é baseada na “curva de Laffer” e desempenhou papel importante na economia republicana norte-americana por quase quarenta anos.
Como tudo começou? Se você pensou: ...em uma mesa de bar, quase acertou! Começou em dezembro de 1974, quando dois dos principais assessores da Casa Branca do presidente Gerald Ford, Dick Cheney e Rumsfeld, reuniram-se para um jantar no restaurante Two Continents, em Washington, com o editor e escritor do Wall Street Journal Jude Wanniski e Arthur Laffer, ex-chefe economista do Escritório de Administração e Orçamento. Estavam discutindo sobre o plano tributário do presidente Ford. E, como sempre acontece entre intelectuais quando o debate esquenta, Laffer pegou uma caneta e o seu guardanapo de pano e desenhou um gráfico que mostrava que, quando as taxas de imposto ficar muito altas, elas penalizam trabalho e investimento e pode realmente levar a perdas de receitas para o governo. Quatro anos mais tarde, esse guardanapo ficou imortalizado como a “Curva de Laffer” em um artigo que Wanniski escreveu para a revista Public Interest.
O eixo vertical (y) é o nível de tributação, e o eixo horizontal (x) representa a receita fiscal. Se o governo não cobrar impostos a receita fiscal será zero, pois não haverá arrecadação, mas se o governo aumentar em 100% a tributação, a receita fiscal também será zero, pois simplesmente as pessoas param de trabalhar ou produzir. Logo, existe um valor ideal de imposto, representado pela linha no meio da curva, onde o governo irá obter o valor máximo de receita através da tributação.
Não vamos entrar na briga se a curva de Laffer é realmente é válida! Mas, notamos que existe algo muito parecido com ela na venda de serviços e peças no concessionário.
Se aumentarmos muito os preços dos nossos serviços e peças (eixo y), os clientes não frequentam mais o concessionário (eixo x), e se o preço for muito baixo não conseguiremos pagar os nossos custos e a empresa quebra.
Então, como calcular o preço ideal? Duvido que essa questão nunca tenha passado por sua cabeça!
Mas, para começar, iremos definir o conceito de preço ideal como sendo o melhor preço para o cliente e que gera um aumentando na demanda de serviços e venda de peças, e, que ao mesmo tempo seja o melhor preço para o concessionário ter um aumento em seu resultado financeiro.
Mas como vamos conseguir esse valor? Usando tarô, bola de cristal, chutômetro (o mais usado no Brasil!)? Não, utilizaremos uma ferramenta estatística conhecida como Elasticidade. Mas, antes de falar sobre elasticidade, recomendo rever os artigos prévios: “Como anda a saúde financeira da sua oficina?” e “Como melhorar a rentabilidade da oficina”. Lembre-se! O seu custo irá influenciar diretamente na curva de elasticidade de venda de seus produtos e serviços.
Elasticidade de preço
Elasticidade é definida como sendo a alteração percentual em uma variável dada e que gera uma variação percentual em outra, no nosso caso: preço (peças e serviços) e demanda (clientes e quantidade de peças vendidas). Este conceito diz respeito ao quanto de variação na demanda ocorrerá em face a uma variação no preço de determinados bens. Nesse artigo, por simplicidade, iremos definir bens como sendo peças e/ou serviços.
Portanto, uma redução no preço aumenta a quantidade demandada, e, em contrapartida, um aumento no preço reduz a quantidade que os clientes querem. Esse tipo de variação é a chamada elasticidade-preço da demanda.
Mas, tome cuidado, nem todos os bens possuem elasticidade! Existem os bens inelásticos que não são influenciados pela variação de preço. As “peças cativas”, peças que as montadoras possuem o monopólio de fabricação, são um bom exemplo para bens inelásticos, pois podem ter seus preços alterados e os clientes ainda continuaram a consumir por não terem outras opções no mercado.
Matematicamente falando, os bens considerados elásticos possuem um coeficiente de elasticidade maior do que 1, e os bens inelásticos possuem um coeficiente de elasticidade menor do que 1.
Calculando a elasticidade
A elasticidade preço de um produto pode ser definida como a variação relativa na quantidade demandada de um produto, em função de uma variação relativa no preço. Assim:
Nada melhor que ver um exemplo:
Imagine uma peça de giro, que vende bem no concessionário, mas que existe com muitas opções no mercado e com valores menores. Será que a diminuição do preço irá aumentar a demanda e melhorar o meu resultado na oficina?
No começo você tinha: P1 (preço inicial) e Q1 (quantidade que estou vendendo):
P1 = $130;
Q1 = 1600;
Você fez a sua primeira redução de preço, para verificar se existia elasticidade, e obteve:
P2= $120;
Q2 = 1800;
Variação na quantidade = 1800 - 1600 / (1800 + 1600) / 2 x 100 = 200/1700 x 100 = 11,76%
Variação no preço = 120 – 130 / (120 + 130) / 2 x 100 = -10/125 x 100 = - 8%
Elasticidade = |11,76% / -8%| = 1,47
Como a elasticidade é 1,47, verificamos que o nosso bem é elástico. Se fizermos uma nova diminuição do preço a demanda deverá aumentar?
Diminuindo ainda mais o preço que já tínhamos reajustado:
P2 = $120;
Q2 = 1800; e, após um período de tempo, temos os novos valores:
P3= $110
Q3 = 2000
Variação na quantidade = 2000 – 1800 / (2000 + 1800)/2 x 100 = 200/1900 x 100 = 10,53%
Variação no preço = 110 – 120 / (110 + 120) /2 x 100 = -10/115 x 100 = - 8,70%
Elasticidade = |10,53% / -8,70%| = 1,21
Recomendados pelo LinkedIn
Verificamos que nosso bem ainda tem elasticidade, mas até quando devemos reduzir o preço?
Se continuarmos reduzindo os preços, a relação preço / demanda irá se comportar igual a curva abaixo:
Onde,
Olhe a tabela acima! Já verificou que a partir da passagem do ponto F para E o nosso produto não terá mais elasticidade.
Mas o que nos interessa mais: vender mais ou ter maior lucratividade?
Vender 1.000 peças com lucro de $10.000, por exemplo, é muito melhor que vender 2.000 peças com lucro de $8.000. Nesse caso deve-se estabelecer um preço que, multiplicado pela demanda, determine o maior faturamento possível.
Vamos fazer outro exercício. Considere que os custos não variam conforme as quantidades, o que não é verdade, mas para efeito de vermos o resultado será válido, teremos a seguinte tabela:
Verificamos que o melhor preço está entre $ 100 e $110, onde a elasticidade se torna unitária.
Para o caso de trabalharmos com custo variável, deveremos multiplicar as quantidades pelo valor da margem (preço – custo) em cada segmento.
Conhecendo a curva de elasticidade (preço/demanda) do bem e conhecendo os seus custos por quantidade, se estabelece o preço de venda, que, neste caso, é o preço de mercado mostrado na figura ao lado.
Esse preço de mercado é o que determina o maior faturamento para a empresa (faturamento = quantidade vendida x margem unitária).
Em um mundo ideal, para vender com margem alta e gerar uma grande demanda seria necessário aumentar o valor percebido pelo cliente do seu bem (peças ou serviço), o que torna os preços elevados aceitáveis em seu ponto de vista. Daí a importância da inovação, de superar as expectativas do cliente, do ambiente de recepção do cliente, da empatia, do feed back rápido e preciso, ou seja, do diferencial competitivo para gerar elevadas margens de lucro.
Por algum motivo, as pessoas se baseiam nos preços e não nos valores. Preço é o que você paga! Valor é o que você leva! – Warren Buffett
Mas nem tudo é fácil!
A demanda de um produto, em qualquer mercado, varia de um grupo de renda para outro. Fatores que podem afetar fortemente a decisão de compra de um grupo, talvez não exerçam efeito apreciável sobre os outros grupos. Quanto maior o valor relativo do produto em relação à renda do consumidor, mais elástico o produto tende a ser visto pois as pessoas que pertencem a esse grupo tendem a comparar mais preços e fazer uma escolha muito mais racional. Aqui entra o problema das peças e serviços no fim da garantia e dos veículos usados, principalmente do segmento Premium.
Elasticidade cruzada: canibalização e afinidade entre produtos
A elasticidade cruzada entre produtos é um dos conceitos normalmente negligenciado pelos responsáveis em precificação dos produtos e serviços e que pode alterar bastante a curva de elasticidade. A disponibilidade de produtos substitutos e/ ou complementares tende a ser um fator que aumenta a elasticidade dos produtos e, ao analisar um produto por si só, sem comparar o efeito que o preço desses outros produtos causa na demanda, decisões que parecem ser corretas e calculadas podem derrubar a margem do seu negócio!
O que é canibalização e afinidade entre produtos? A canibalização é quando um produto “atrapalha” a venda do outro. Alguns exemplos deste caso: produtos da mesma categoria (peças genuínas versus peças paralelas), produtos de categorias próximas (óleo sintético versus óleo mineral). Na prática, se diminuímos o preço da peça paralela de forma representativa em nossa oficina, a venda da peça genuína tende a cair (enquanto a da peça paralela aumenta). Do outro lado do negócio temos a afinidade, que é definida por produtos que se complementam, ou se ajudam na venda um do outro. Alguns exemplos são: óleo e filtro, pneu e alinhamento, etc. Quando se faz uma promoção de óleo, a venda do filtro tende a subir com a venda do óleo.
A definição de elasticidade cruzada entre produtos é conhecer qual é a porcentagem da redução (ou aumento) da demanda do produto X para um aumento de 1% no preço de outro produto Y. Se este número é positivo, quer dizer que os produtos possuem afinidade; se o número for negativo, quer dizer que os produtos se canibalizam; se o número for zero, quer dizer que os produtos não possuem relação entre si.
Por essa razão, quando usarmos a elasticidade para a definição do preço ideal de uma peça ou um serviço, devemos considerar qual efeito que este preço ideal causa na demanda dos outros produtos, sejam da mesma categoria ou não, visto que a maximização da margem de um produto especificamente pode representar a queda da margem na categoria dessas peças ou na rentabilidade do pós-vendas da concessionária.
O efeito de canibalização de produtos dentro do concessionário (entre produtos disponibilizados) pode ser sete vezes maior do que a canibalização entre concessionários concorrentes. A maioria dos gestores desconhece este fato, e ainda continuando culpando a concorrência dos outros concessionários da marca ou do mercado paralelo!
Por que é importante calcular a elasticidade de preços?
Considerações finais sobre a definição de preços dos bens
Na definição de preços das peças e serviços do concessionário, vários aspectos devem ser considerados:
Uma alteração no preço de serviços e peças, seja aumentando ou diminuindo este fator, poderá trazer resultados indesejados se não for corretamente elaborada e estudada. Um estudo mais aprofundado no tema elasticidade e na formação de preços poderá trazer grandes benefícios para a saúde, seja a financeira do seu concessionário como a sua pessoal, e a satisfação dos seus clientes e daqueles para os quais você responde na empresa.
Entendeu agora por que não dá mais para chutar preços e a criar campanhas de produtos e serviços do nada! Não tem magia vodu que te salve com essa gestão!
Para quem quer saber mais:
Consultor de Negócios | Yamaha
2 aExcelente Artigo!