Painel Unicred Mercado Financeiro | Maio 2023
A atividade econômica desacelerando não é novidade para os investidores, principalmente quando falamos da economia ocidental. Por outro lado, na China as coisas são um pouco diferentes desde que a política de covid zero foi flexibilizada, surpreendendo o mercado com economia crescendo mais que o esperado.
Como essa dinâmica irá influenciar os preços dos ativos globais? E como o ocidente, na figura das potências Europeia e norte americana, irão sair da armadilha de economia mais fraca e inflação, para conseguir reduzir os juros? Essas são questões complexas para momentos decisivos de políticas monetárias e alocação dos investidores.
Desaceleração da economia e persistência inflacionária pressionam o Federal Reserve.
Com crescimento abaixo do esperado e núcleo de inflação acima, Fomc decidiu por aumentar a taxa de juros dos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual e investidores consideram alta probabilidade de que a taxa se mantenha na próxima reunião.
O Banco Central Europeu não dá trégua contra a inflação.
Com atividade pouco abaixo do esperado e Núcleo da inflação persistente, Banco Central Europeu subiu suas taxas em 0,25 p.p. e deixou claro que a inflação continua alta, não podendo baixar a guarda. Expectativas apontam mais duas altas de 0,25 p.p.
A China surpreende mercado com aceleração econômica.
Resultado trimestral chinês surpreende mercado com crescimento de 4,5%. Além do PIB, as vendas do varejo e produção industrial também surpreenderam. O Yuan é a terceira moeda mais utilizada no comércio global, dobrando sua participação em 1 ano.
O Copom sinaliza possibilidade de alta nos juros caso a inflação volte a subir.
No Ambiente doméstico o Copom mantém Selic em 13,75% em meio a dados corroborando com a possibilidade de queda dos juros. A inflação segue processo de desinflação junto da esperada desaceleração econômica, porém Banco Central do Brasil sinaliza que caso isso mude, não hesitarão em retomar ciclo de alta.
Na maior economia global, o mês de abril foi de dados divulgados que corroboraram com as preocupações acerca da desaceleração econômica.
O Produto Interno Bruto – PIB, principal indicador econômico de uma nação, mostrou que a economia americana cresceu 1,1% (1ª prévia divulgada com dados do primeiro trimestre de 2023) se comparado com o primeiro trimestre de 2022. Usando a mesma lógica de 4 trimestres para trás, a economia americana vem crescendo menos trimestre após trimestre, desde o terceiro trimestre de 2022.
O principal componente da desaceleração foi o investimento privado, que recuou incríveis 12,5%, enquanto todos os demais grupos cresceram, principalmente gastos pessoais, impulsionado pelo consumo de bens duráveis, com crescimento anual de 6,5%. Empresas investindo menos é uma variável importante para entender, pela ótica do empresário, as perspectivas de uma economia e como ele vai agir para se preparar futuramente. A redução no investimento privado foi liderada pelo comércio atacadista (principalmente máquinas, equipamentos e suprimentos) e manufatura (liderada por outros equipamentos de transporte, bem como produtos de petróleo e carvão). Dentro do investimento fixo residencial, o principal contribuinte para a queda foi a construção nova unifamiliar.
Além da queda da atividade econômica, mais rápida que as expectativas, a inflação segue persistente, impedindo uma adequação da taxa de juros às necessidades econômicas. A inflação ao consumidor de março – CPI, mostrou números preocupantes. No que se refere ao indicador cheio, ele desacelerou em 12 meses se comparados ao mês anterior. Porém, quando analisado o Núcleo, retirando alimentos e energia (itens mais voláteis), a inflação segue maior, com alta de 0,4% em março e 5,6% em 12 meses, enquanto os preços cheios subiram 0,1% em março e 5% em 12 meses.
A inflação usada para as decisões de política monetária, o PCE – Inflação corporativa, seguiu a tendência mensal do CPI no preço cheio e subiu apenas 0,1%, seguindo no processo de desinflação de 12 meses saindo de 5,1% para 4,2%. Já o Núcleo indica que ainda é preciso cautela, visto que mesmo excluindo os itens que em geral trazem mais inflação, ele acelerou em 0,3% em março, e com 4,6% de alta em 12 meses.
Com redução da atividade e persistência da inflação, o Comitê de Política Monetária dos Estados Unidos - Fomc decidiu pelo aumento de 0,25 pontos percentuais, elevando a taxa para um intervalo entre 5,00% e 5,25% a.a., deixando claro que a resposta da economia frente as ações da política monetária são mais lentas, mas não deixou nenhuma dica sobre a próxima reunião.
Na Zona do Euro, os fatos não são tão diferentes. Divulgação de resultado do PIB, com previsão vindo abaixo daquilo que os investidores esperavam.
Crescimento de 1,3% em 12 meses e 0,1% contra o trimestre imediatamente anterior para os países da Zona do Euro e 0,3% para os países da União Europeia. Com retração da maior economia do grupo, a Alemanha, com -0,1% em 12 meses, França com 0,8% de crescimento e destaque para a Espanha com crescimento de 3,8% em 12 meses.
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Resultado modesto, mas em linha com o esperado para situação de desaceleração global, e em linha com resultados da prévia da inflação na Zona do Euro, que acelerou no índice cheio, saindo de 6,9% para 7,0% em 12 meses. Porém com resultados bons, retirando os itens mais voláteis. O Núcleo, assim chamado, desacelerou, saindo de 7,5% para 7,3%, marcando o primeiro declínio desde junho de 2022.
Com isto o Banco Central Europeu decidiu reduzir os aumentos adicionais nos juros decidindo por incrementar 0,25 ponto percentual as suas taxas. De acordo com o BCE a inflação nominal diminuiu nos últimos meses, mas as pressões sobre os preços subjacentes permanecem fortes.
Diferente da realidade ocidental, a China, após a reabertura da economia pós política de Covid zero, surpreendeu os investidores após divulgar resultados do primeiro trimestre.
O PIB chinês cresceu 4,5% em 12 meses, superando o crescimento anual dos três últimos trimestres. Destaque para o crescimento do setor tecnológico, que no primeiro trimestre cresceu 11,2% e construção com 6,7%. A indústria (fabricação), responsável por 27% do PIB, cresceu 2,8% em 12 meses. Em março, as vendas do varejo e a produção industrial também corroboraram com o bom momento econômico da China em comparação com as potências ocidentais citadas anteriormente. Ambos os indicadores cresceram 10,6% e 3,9% no mês de março.
Além do ótimo início de ano, a Yuan se configura como uma das principais moedas usadas no comércio global. Após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, a moeda chinesa se descolou do Iene japonês para encostar no Euro, se firmando como a terceira moeda mais usada para comércio. A alta demanda pela sua moeda se justifica pelo fato de a China estar se aproximando de outras economias e firmando acordos comerciais. O dólar segue isolado com 84% na participação, porém com queda na participação, onde possuía 88% no início de 2021.
No âmbito doméstico, tivemos a tão aguardada decisão de juros e o comunicado posterior.
Mais uma vez, o Banco Central do Brasil na figura do Copom – Comitê de política Monetária, não alterou a taxa Selic e manteve em 13,75% trazendo alívio na questão da reoneração dos combustíveis e preocupações com a falta de clareza e detalhes de como o arcabouço fiscal será efetivamente. Sinalizou também a persistência da inflação global e novas altas caso a inflação não vá para a meta nos próximos anos.
A Inflação segue em processo de desinflação, mesmo com alta nos preços administrados. Inflação em março teve leve alta de 0,71%, fazendo o resultado de 12 meses sair de 5,6% para 4,65%. Com destaque para a alta em preços administrados de 2,33% devido a volta dos impostos nos combustíveis, retirados em 2022.
Preços administrados são aqueles cuja sensibilidade a fatores de oferta e demanda é menor, mas não necessariamente aqueles que são diretamente regulados pelo governo. Exemplos de bens e serviços cujos preços são administrados para os consumidores são serviços telefônicos, energia elétrica, gasolina, plano de saúde, ônibus urbano e interestadual e metrô.
Na prévia para inflação de abril, divulgado pelo IPCA-15, os efeitos da reoneração continuam, porém vem se reduzindo. A prévia mostrou alta nos preços de 0,57% sendo puxado por transportes novamente com metade do impacto mensal, e a gasolina como alta de 3,47% no mês.
Em relação a atividade economia, o IBC-Br, índice de atividade do Banco Central, vem com resultados compatíveis com as estimativas do PIB. O índice cresceu 3,3% em fevereiro, revertendo as perdas dos últimos meses (queda de 5 dos últimos 6 meses). Com destaque positivo para o comércio com crescimento de 1,7% e serviços com 1,1%. Por outro lado, a queda da população ocupada em -0,4% no mês e a queda da produção industrial em -0,2% limitaram o desempenho.
Em 12 meses o IBC-Br cresceu 3,1% após 2,8% em dezembro, compatível com projeções de crescimento no 1º trimestre de 2023 do PIB de 2,2% após 1,9% em dezembro.
Após decisões de políticas monetárias e resultados do PIB, o cenário de desaceleração da economia ocidental e persistência inflacionária seguem. O peso da atividade mais fraca e a reacomodação de alguns núcleos dão margem aos bancos centrais pararem as altas e cogitarem cortes de juros futuros. O aperto monetário pode causar danos ainda maiores que apenas a desaceleração da economia. Por isso, os Banco Centrais devem estar atentos aos sinais que enviam e às expectativas dos agentes.
Cenário de alto risco para investir em crédito privado e empresas listadas em bolsas. Com alta probabilidade de volatilidade devido aos riscos econômicos. Títulos soberanos continuam sendo mais atrativos.
Profissional do Segmento Financeiro | Certificado ANBIMA CEA | Serviços Bancários | PAAP Programa Advisors de Alta Perfomance
1 aMuito bom conteúdo 😊