As Peças do Tabuleiro Global: Fatos & Especulações do COVID-19

As Peças do Tabuleiro Global: Fatos & Especulações do COVID-19

As peças no tabuleiro global estão sendo movidas estrategicamente e grande parte da população mundial não tem se dado conta dos movimentos que se seguem, que cobertos de uma “roupagem de socorro humanitário” durante a pandemia que se segue, acompanhada da crise político-econômica sem fronteiras, tem muito mais intenções intrínsecas daquilo que se pretende imprimir através da mídia como um senso comum, daquilo que fica nos bastidores e é noticiado apenas de acordo com o movimento das peças, esperando a estratégica oportunidade de um xeque-mate que pode determinar o protagonista da economia mundial. 

Enquanto países estão enfrentando uma luta titânica para conseguir sobreviver a esta crise sem precedentes, com uma paralisação mundial que vai ficar na história na tentativa do controle da pandemia, um país acende nesse tabuleiro, outros tentam manter a sua posição na garantia de continuar no jogo, enquanto os demais países ficam contemplativos à mercê do ‘devir’, apenas como peças secundárias descartáveis no tabuleiro. A China, como “promoter” dessa nova onda catastrófica mundial, com fatos e fakes à deriva das especulações, consegue retomar a sua estabilidade e passa a “oferecer socorro” às demais nações afetadas.  

As especulações sobre essa pandemia como uma forma de “Controle da População Mundial”, da “Instabilidade Econômica Mundial” como uma forma de ascensão de poder e a abordagem frenética da “Crise Climática Global” como fator facilitador da expansão do vírus, são partes pungentes desse tabuleiro. Alguns desses temas já foram abordados no artigo anterior “Entre o COVID-19 e Teorias da Conspiração”, o que lançou mais questões que pretendidas respostas, com a intencional proposta de nos fazer pensar no que está por detrás das cortinas, pois ainda há movimentos do tabuleiro a serem entendidos para que possamos discernir os próximos. 

E, nesse tabuleiro de movimentos precisamente calculados, alguns fatos ajudam no entendimento dos movimentos, que podem nos dar uma perspectiva do ‘devir’. E, algumas ‘fake news’ (notícias falsas), que tentam desviar a atenção do que é de fato relevante nesse contexto. As peças vem sendo movidas há muitos anos, muito antes da crise pandêmica, sendo que ela também pode fazer parte da estratégia. Nesse parâmetro é importante entendermos alguns fatos relacionados aos planos de ascensão do ‘Governo Chinês’, ressaltando que não tem haver com a população, que também é vítima do sistema totalitário que se pretende um “Modelo Mundial”.

Nas últimas décadas o Governo Chinês vem ampliando suas fronteiras nas Relações Internacionais, com investimentos bilionários em seus países vizinhos, na Europa e África, como forma de estender seu poder econômico, comercial e militar, com o viés de “ajuda” e “socorro” a alguns países, enquanto outros “apenas” como parte da pretendida ascensão política-econômica-militar, garantindo espaços de poder no cenário mundial outrora inimagináveis, num movimento preciso de suas peças. E, neste artigo, quero tentar alinhar as iniciativas que denunciam as suas pretensões como forma de trazer um quadro mais esclarecedor do tabuleiro global.

Para entendermos o tabuleiro global, precisamos entender o que está em jogo, que delineia as partes pungentes do tabuleiro. A competição acirrada entre ambas as partes é uma disputa centenária, que envolve o “Sistema Político Democrático” e o “Sistema Político Totalitário”. O Sistema Democrático, que é caracterizado pela participação popular, defende a participação de cada indivíduo na escolha dos seus governantes, os direitos individuais e universais do homen, a liberdade religiosa e de imprensa(1). Enquanto o Sistema Totalitário, caracterizado pela centralização do poder absoluto de uma pessoa ou partido político, defende o controle de todos os aspectos da vida pública e privada, sendo o individuo um servo do estado(2).  

O que está em jogo nesse tabuleiro global é exatamente a disputa pela supremacia de um dos sistemas, numa odisséia batalha que divide Ocidente e Oriente, blocos que organizam estrategicamente as suas peças no tabuleiro global, na tentativa de um xeque-mate. E todos os não tão recentes movimentos de Xi Jinping, presidente vitalício da República Popular da China, que pode incluir essa crise pandêmica, são partes de uma estratégia muito bem arquitetada, com um ambicioso e audacioso plano de legitimização dos regimes totalitários na história. E, nesse contexto, é importante conhecer àquele que se destaca pela sua singular cimeira.   

Em 15 de Março de 2013 Xi Jinping ascendeu à presidência da República Popular da China, com uma intrigante trajetória político-biográfica, tornando-se o homem mais poderoso na história do país(3), depois de ter anunciado em Março de 2018 que não entregaria o poder, mudando a Constituição Chinesa para se tornar presidente vitalício(4). E, posteriormente, surpreendeu seus adversários políticos do partido com um documento outrora secreto chamado “Documento No. 09”, que declarava as 7 ideias consideradas mais perigosas para a China, dentre elas se destaca: “ideias como democracia”, “direitos universais do homem” e “liberdade de imprensa”(5).

Um homem extremamente inteligente e determinado, delineou um “Programa de Unificação Nacional da China”, que ao invés de uma roupagem revolucionária como a de Mao Tse-tung, busca legitimidade no nacionalismo e valorização de tudo o que tem potencial para ascender o país, com planos estratégicos que se estendem até 2049, culminando no centésimo aniversário da República Popular da China(6). O alvo de Xi Jinping é transformar a China na principal potência econômica e militar do planeta, para alcançar seu sonho de revitalização nacional(7) e colocar a China como o centro daquilo que ele mesmo chama de “Nova Ordem Mundial”(8).

Um dos principais movimentos de Xi Jinping é um projeto faraônico que ele chama de “Novas Rotas da Seda”, que visa unir o globo com as rotas comerciais chinesas para o “benefício da humanidade”. A original “Rota da Seda” era uma série de rotas interligadas através da Ásia do Sul, usadas no comércio da seda entre Oriente e Europa. A rota conectava Chang'an (atual Xi'an), na República Popular da China até Antioquia, na Ásia Menor. Sua influência expandiu-se até a Coréia e o Japão, formando a maior rede comercial do Mundo Antigo(9). A figura mais conhecida que fazia o percurso no Século XVIII foi o mercador/comerciante veneziano Marco Polo. 

A intenção de Xi Jinping é retomar o ‘Poder Imperial Chinês’, mesclado a proposta político-comercial de fundo ideológico e, inclusive, territorial(10). E, para tanto, ele liberou bilhões de dólares para se construir ferrovias, portos e rotas de transporte, primeiro para melhorar a falta de infra-estrutura na Ásia, depois na Europa, Médio-Oriente, África e América do Sul, com o objetivo de expandir o comércio chinês e vender mercadorias chinesas em tempo recorde, para assim garantir o crescimento econômico do país. A tônica do discurso de Xi Jinping é “um cinturão, uma rota”(11), um audacioso plano à longo prazo como estratégia de crescimento e expansão.

Ele começou pelo aliciamento de países mais pobres, com a proposta de construir novas infra-estruturas comerciais. Mais de 60 países se inscreveram na perspectiva de conseguir recursos para desenvolvimento e modernização de seus países(12). Um dos primeiros países que entrou no programa foi o Siri-Lanka, para a construção de um Porto Marítimo no país. Porém, o país não conseguiu manter o pagamento do empréstimo, com a proposta de um novo contrato e reprogramação da dívida. E, no “novo contrato”, a china assumiu o controle do porto no país pelos próximos 99 anos, controlando os contratos de trabalho e ofertas de empregos relacionados(13).

O mesmo aconteceu com outros países asiáticos, com contratos estrategicamente redigidos, concedendo influência e poder politico-econômico à China nesses países, que se estendem paulatinamente. Porém, é no Continente Africano que o sonho chinês de Xi Jinping está sendo mais bem sucedido. A sua “nova rota da seda” hoje abrange mais de metade da África. Num continente vitimado pela pobreza, miséria e conflitos constantes, a proposta que Xi Jinping chamada de “solução chinesa”(14), vem como resposta às necessidades desses países. Porém, uma resposta que trás no seu viés a idéia do desenvolvimento econômico como principal direito humano.    

A mensagem que ele quer passar para os governantes africanos é que nos últimos 30 anos a China saiu da situação de pobreza, tornando-se a segunda maior potência econômica mundial, sem contudo seguir o modelo ocidental e abrir seu sistema à democracia, se tornando independente disso ricos e desenvolvidos(15). A intenção é imprimir o ‘sistema totalitário’ acompanhado de ‘estratégias de desenvolvimento econômico’ como a solução. Nas suas palavras, se existe uma solução é a “solução chinesa”(16). Através dos investimentos de infra-estruturas, num futuro remoto coisa de 30% a 50% da economia africana poderá ser gerida pelo governo chinês(17).

Nos países desenvolvidos, como no caso de países europeus, Xi Jinping usou outros tipos de contrato e táticas de expansão, aproveitando de momentos de fragilidade econômica e política de alguns desses países, comprando infra-estruturas como no caso do Porto Marítimo de Pireu(18), na Grécia; o Aeroporto de Toulouse(19), na França; e a compra da Kuka(20), empresa européia de tecnologia robótica, na Alemanha. A intenção de Xi Jinping é criar espaços de influência do governo chinês na Europa, como parte de sua agenda de expansão do poder econômico e político da China, na tentativa de criar uma interdependência desses países à sua agenda.  

Uma das expressões singulares do sucesso de seus empreendimentos foi o convite à Xin Jinping para fazer a abertura do “Fórum Econômico Mundial”, que aconteceu em Davos, Suíça em 15/01/2017 (21). Foi algo sem precedentes na história, pois pela primeira vez o líder do maior país comunista do mundo é convidado para falar no encontro, dando às elites econômicas mundiais presentes uma lição sobre Mercado Livre, ainda que em contraste com a sua filosofia, uma vez que a China é contra o mercado livre. Ele aproveitou o momento para definir seus objetivos: “Lançaremos uma reforma no Sistema de Governação Global” (22). 

Alguns dos países Europeus, percebendo as intenções do governo chinês, iniciaram propostas à Comunidade Européia de limitar às aquisições de estruturas nos países. Em Junho de 2017 no Conselho da Europa, o presidente francês Emmanuel Macron, durante a apresentação de sua Proposta de Lei que protegia as principais empresas estratégicas européias de serem compradas pelo governo chinês (23), foi surpreendido com a súbita oposição do primeiro-ministro socialista português António Costa, que foi contra a proposta afirmando que, quando estavam afundados em dívidas, foi o governo chinês que comprou os negócios (24). 

E, desde 2018, a China passou a controlar 10% da atividade portuária Européia, o que corresponde um porto em cada 10. Para alguns países europeus a dependência econômica torna-se a cada dia uma dependência política, que vem se extendendo com investimentos chineses em países como Itália, Reino Unido, Irlanda, Finlândia, Espanha, Suécia, etc (25). Não se trata apenas de uma questão de ordem econômica, antes sim, de uma proposta alternativa ao modelo ocidental, que no modelo que Xi Jinping propõe não se baseia na liberdade, democracia e nos direitos individuais. A estratégia é criar um “novo sistema” que molde o mundo aos interesses chineses (26).

Na Oceania, a Austrália e Nova Zelândia foram os países em que o Governo Chinês mais investiu em todos os planos da sociedade, como laboratório de seus métodos de infiltração no sistema democrático, graças à estratégia de influência política através da economia, aperfeiçoada pelo governo chinês (27). E, no final de 2017, toda Austrália foi abalada por uma profunda crise política, quando o Senador do Partido Trabalhista Australiano Sam Dastyari renunciou ao cargo, acusado de ter recebido subornos da China para favorecer seus interesses na politica do país (28). E, depois disso, o governo australiano votou uma lei proibindo qualquer instrumento chinês na participação de partidos políticos e negócios estratégicos no país (29). 

No cenário militar os movimentos do Governo Chinês se evidenciam nesse tabuleiro global. Na “intenção de garantir a segurança” do comércio com a África e manter seu investimento seguro, um dos mais audaciosos projetos chineses foi a instalação da primeira Base Militar Chinesa Estrangeira, em Djibouti, África, uma das rotas comerciais mais movimentadas do mundo (30). A inauguração da base em 01/08/2017 pegou o mundo de surpresa, com o envio de 10,000 tropas de soldados para a base, maior que qualquer outra das bases existentes no país, como das bases Americana, Japonesa, Francesa e Italiana, alegando seu papel na “segurança” do Continente (31).

Nos últimos anos, a Marinha da China construiu mais navios de guerra e submarinos que os Estados Unidos, tornando-se ano passado a maior do mundo (32). O presidente chinês decidiu demonstrar o seu poder bélico nos mares da China Meridional e do Pacífico, em frente das bases americanas, em destaque na região desde a Segunda Guerra Mundial. E desde 2012 vem anexando águas territoriais e ilhas pertencentes à países vizinhos como Japão, Filipinas, Malásia e Vietnã, reivindicando o que ele considera “soberania histórica sobre todo o Mar da China”, resultando em constantes tensões e conflitos político-militares (33). 

Até final de 2017 as tensões e riscos de conflito armado estavam no auge, desde o momento que a China “assumiu” o controle das Ilhas Spratly, em águas territoriais disputadas pelos vizinhos. E, desde então, vem estabelecendo um império militar, ateando a bandeira chinesa e construindo nos recifes ilhas artificiais, montando bases aero-navais no Mar da China, seguida da militarização das Ilhas Paracels (34/35). Apesar de contrariar as diretrizes do Tribunal Internacional de Justiça e as suas manobras militares terem sido condenadas pelo Tribunal Internacional de Haia, Xi Jinping não foi a julgamento, sendo o assunto “politicamente encerrado”(36/37)! 

Em Junho de 2018, durante o mesmo período da reunião da cimeira das “Grandes Potências Democráticas Mundiais” - G7, Xi Jinping presidiu a reunião da Organização para a Cooperação de Shangai (SCO), ao lado do seu fiel amigo Vladimir Putin, que reune os principais países de sistema totalitário do Continente Asiático, que conta com as quatro maiores potências nucleares da Ásia: China, Russia, Índia e Paquistão; os demais países membros: Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão; a representação de países observadores, interessados em ascender: Afeganistão, Belarus, Irã e Mongólia; e países com os quais vem se estabelecendo diálogo: Armênia, Azerbaijão, Camboja, Sri Lanka, Nepal e Turquia (38/39). 

Essa foi a cimeira de Xi Jinping e suas manobras no tabuleiro global, legitimando a sua posição como líder internacional, deixando ainda mais evidente o seu sonho de estabelecer um “Sistema Global” em torno da China, cujo objetivo é organizar um bloco de países que se opõem ao “Sistema Democrático”, com um “novo modelo” ou “Nova Ordem”. Em síntese, o que o governo chinês quer exportar é influência; o que eles querem em retorno é o silêncio dos países política e economicamente favorecidos contra criticismo ao sistema; e, finalmente, a aquiescência perante a sua Política Internacional fundamentadas no poder político-econômico-militar.  

E, nesse complexo tabuleiro global, entra a crise pandêmica iniciada na China em Novembro de 2019. Dentre as muitas especulações abordadas no artigo anterior, há novas informações auspiciosas em torno do tema. As investigações sobre a origem do vírus e a intencionalidade continuam, com novas abordagens e fundamentações científicas, não apenas das relevantes pesquisas em torno da busca de uma vacina, mas também da possibilidade do vírus ter sofrido “mutações” à ponto de contagiar seres humanos. E, nesse contexto, entra uma interessante reportagem de Joshua Philip, repórter investigativo da “The Epoch Times” (40) de New York, USA. 

A reportagem trás questionamentos fundamentados com relação à procedência do coronavírus, diferente do que foi oficialmente anunciado pelo governo chinês como uma exposição ao vírus oriundo de morcegos, tendo como foco de proliferação o ‘Mercado de Frutos do Mar’ de Wuhan. Checando algumas informações publicadas no documentário, baseadas no artigo “O Mercado de Frutos do Mar de Wuhan pode não ser a fonte do novo vírus espalhado globalmente” (41), publicado pelo Jornal Científico ‘Science Insider’, os argumentos com relação à origem e proliferação do vírus apontam para outras vertentes descritas pelos próprias especialistas chineses: 

“O artigo, escrito por um considerável grupo de pesquisadores chineses de várias instituições, oferece detalhes sobre os primeiros 41 pacientes hospitalizados que confirmaram infecções com o que foi chamado de ‘novo Coronavírus’ (COVID-19). No primeiro caso, o paciente ficou doente em 1º de dezembro de 2019 e não tinha nenhum vínculo relacionado com o Mercado de Frutos do Mar, relatam os autores. Nenhum vínculo epidemiológico foi encontrado entre o primeiro paciente e casos posteriores, afirmaram. Os dados também mostram que, no total, 13 dos 41 casos não tinham nenhum vínculo com o mercado”(42).

Os relatórios anteriores da ‘Comissão de Saúde Municipal de Wuhan’ relatavam que “de acordo com a pesquisa epidemiológica de especialistas do país, províncias e cidades, ‘a maioria dos casos’ inexplicáveis de pneumonia viral em Wuhan tinham histórico de exposição ao mercado de frutos do mar” (43), assim como os primeiros relatórios da ‘Organização Mundial da Saúde’ - (OMS) com “resultados preliminares de estudos etiológicos e de investigações epidemiológicas denunciando ‘a maioria dos casos’ relacionados à exposição ao mercado de frutos do mar. E, alguns casos, negavam histórico de exposição ao Mercado de Frutos do Mar de Wuhan” (44).

Enfim, com base nos relatórios, fica claro que a expressão ‘a maioria dos casos’ trás à tona importantes casos “não mencionados” ou “ignorados” posteriormente, casos que ‘negavam o histórico de exposição ao mercado’, que contam com um considerável número de 13 casos, suficiente para colocar em cheque a afirmação oficial do governo chinês, que passou a manipular relatórios e todas as informações posteriores. E, considerando o primeiro caso do paciente que ficou doente em 1º de Dezembro de 2019, levando em consideração a encubação do vírus (14 dias), o ‘Paciente Zero’ não tinha vínculo com o Mercado de Wuhan.

Em 10 de Dezembro de 2019 outros 3 novos casos foram diagnosticados e 2 destes casos também não tinham relação com o Mercado de Wuhan (45). Enfim, pensando no primeiro paciente, a dedução clara é que ele não foi contaminado no local onde o governo chinês oficialmente reportou como o foco da proliferação do vírus. Outro fato relevante é que não existe registros da venda de morcegos para consumo no Mercado de Wuhan, e muito menos dados e/ou informações precisas de que se tenha encontrado morcegos no local (46). E, apenas à partir de 15 de Dezembro de 2019, grupos de casos foram “oficialmente” reportados pelas autoridades chinesas como oriundos do Mercado de Frutos do Mar de Wuhan (47).

Então, como se deu a contaminação do “Paciente Zero”? Essa é uma questão que até o momento não foi respondida pelas autoridades chinesas! 

Antes de entrarmos nas especulações referentes à origem do vírus é relevante que entendamos um pouco mais sobre o vírus. Ele realmente tem origem em morcegos, que vinham sendo pesquisados há décadas, sem contudo haver indicações de que seria transmissível para o ser humano. Uma das maiores expressões de pesquisas relacionadas ao SAR-Coronavírus proveniente de morcegos é a virologista chinesa Shi Zhengli. Ela é a diretora do “Centro de Doenças Infecciosas Emergentes” do Wuhan Institute of Virology (WIV), um Laboratório de Biossegurança Nível 4 (BSL–4) localizado no distrito de Jiangxia, Wuhan (48).  

Em 2005, Shi Zhengli e sua colega Cui Jie descobriram que os morcegos eram um reservatório natural de coronavírus semelhantes à SARS (Several Acute Respiratory Syndrome). Ela liderou uma equipe de pesquisa que estudou como proteínas spikes dos coronavírus naturais e quiméricos do tipo SARS se ligam à receptores ACE2 nas células humanas. E, em 2014, ela colaborou com experimentos adicionais de ganho de função, que foram liderados pelo Dr. Ralph S. Baric (49), Universidade da Carolina do Norte, que comprovou que duas das mutações críticas que o coronavírus MERS possui permite que ele se ligue ao receptor ACE2 nas células humanas (50). 

Em 2014, os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA colocaram uma moratória nos estudos de ganho de função de SARS, MERS e influenza, devido à preocupações dos riscos versus benefícios de tais pesquisas (51). O vírus, de formato circular, tem em torno da superfície uma série de escápulas, que assemelham-se com pequenos cogumelos, que são as proteínas naturais do SARS, cuja mutação genética poderia afetar células humanas através dos receptores ACE2 como mencionado acima. Esta foi uma das razões pela qual as pesquisas foram suspensas dados riscos eminentes.

Segundo a Dra. Judy Mikovits, PhD em Biologia Molecular, é rara a quantidade de proteínas com 100% de aminoácidos similares em vírus de mutação natural, como foram encontrados na sequência da S-Proteína, que cobre a circunferência do vírus, chave para que o vírus penetre no organismo humano. A alta similaridade entre a S-Proteína e o SARS1-Coronavírus e o agora denominado SARS2-Coronavírus, proteína que permite entrada direta nas células do corpo humano, não poderia ser algo de mutação natural, antes sim, manipulação genética em laboratório (52).   

Nesse contexto entram as especulações em torno do assunto. Em 23 de Janeiro há uma explosão de notícias concernentes à contaminação de dezenas de pessoas pelo coronavírus em Wuhan, na mesma cidade em que o Laboratório de Biossegurança de Nível 4 (BSL–4), presidido pela Dra. Shi Zhengli, está localizado e abrigava vírus de alta similaridade, o que lança dúvidas sobre a “origem natural” do vírus. Numa abordagem de senso comum, o governo chinês deveria ter inspecionado as pessoas do laboratório, para checar qualquer possibilidade de vazamento acidental do vírus e para procedimentos de segurança com relação a proliferação do mesmo.

Ao invés disso, as atenções foram direcionadas para o “Mercado de Frutos do Mar de Wuhan” como a origem da proliferação do vírus, talvez como forma de desviar a atenção para a real possibilidade do vírus ter vazado do laboratório. Isso fortalece a hipótese de que a proliferação do vírus não tenha iniciado no mercado de frutos do mar, levando em consideração que o ‘Paciente Zero’ não foi contaminado no mercado. E, também, reforça a possibilidade de alguém contaminado pelo vírus tenha passado pelo mercado, fundamentando a tese do vírus não ter sido iniciado de ‘dentro para fora’, antes sim, ‘de fora para dentro’. 

Essas questões, até agora, não foram abordadas e respondidas pelas autoridades chineses, que possui profissionais de alto gabarito na área. O que acompanhamos posteriormente foi um imposto silêncio e repressão aos profissionais chineses pelo governo de falar publicamente sobre as possibilidades recorrentes. Um email da Diretora Geral do Wuhan Institute of Virology (WIV), Dra. Yanyi Wang, foi enviado para todos funcionários internos, cujo conteúdo era uma nota avisando que estava restrito e proibido qualquer divulgação e/ou circulação de informação relacionada à pneumonia desconhecida de Wuhan (53).

A “Comissão Nacional de saúde” do governo também exigiu claramente que toda a informação, dados empíricos, resultados e conclusões relacionadas a esse surto não fossem publicados em mídias próprias e/ou sociais, divulgados em nenhuma mídia (incluindo a mídia estatal) ou organizações colaborativas (incluindo empresas de serviços técnicos) (54). O médico Dr. Li Wenliang, que tentou alertar antecipadamente as autoridades da periculosidade do vírus, o primeiro médico a tratar as pessoas contaminadas em Wuhan, foi preso e exonerado do cargo, forçado a assinar uma carta acusando-o de levantar “falsos rumores” e “perturbar a ordem social” (55). 

Ele morreu posteriormente como “vítima do coronavírus”, mesmo depois de ter feito os testes várias vezes, para checar se havia contraído o vírus, e os resultados terem retornado negativos, algo também não muito bem explicado pelo governo chinês (56). O jornalista e defensor dos Direitos Humanos Chen Qiushi, que estava fazendo reportagens com médicos e pacientes contagiados pelos vírus, na tentativa de alertar a população, desapareceu no mesmo dia em que Li Wenliang foi punido pelas autoridades chinesas por tentar avisar colegas/amigos sobre o vírus (57).

A Diretora da Área de Emergência do Hospital Central de Wuhan Ai fen foi outra vítima de reprimendas, depois de ter compartilhado imagens dos resultados de pacientes com colegas, na tentativa de alertar sobre a gravidade dos casos e da relação com o coronavírus. Segundo Ai, “quando viu resultados do teste de um dos pacientes constando as palavras SARS-Coronavírus, começou a soar frio” (58). Ela acrescenta que “observava cada vez mais pacientes chegarem à medida que o raio da propagação da infecção aumentava, quando começaram a ver pacientes sem conexão com o mercado de frutos do mar” (59), que se acreditava ser a fonte dos primeiros casos. Depois disso não se conseguiu mais contato com Ai Fen.

Enfim, estes foram alguns dos casos de destaque, desde a censura promovida pelo governo chinês, que passou a controlar toda a mídia em torno das informações com relação à epidemia, que já haviam casos confirmados de outbreak inclusive fora do País (60), tornando-se uma pandemia que hoje nos aprisiona nas nossas próprias casas. E no tabuleiro Global vemos apenas uma nação se destacando, que não apenas tem promovido “suporte internacional”, mas também a única sem consideráveis perdas político-econômicas, enquanto as demais nações afetadas vivenciam um verdadeiro caos social, político e financeiro, na tentativa de sobreviverem. 

A possibilidade de “manipulação” do vírus; a suspeita do vírus ter acidentalmente “vazado” do Laboratório de Biossegurança Nível 4 (BSL–4), localizado em Wuhan; a “supressão de informações” dos primeiros casos não-relacionados com o mercado de Wuhan; a “morosidade” das autoridades chinesas em alertar sobre o outbreak e tomar as providências cabíveis; o “controle da narrativa” pelo governo chinês; e a “intencionalidade” ou não com relação à pandemia, são tópicos que vão ficar em suspense, à espera de maiores informações e das conclusões das investigações em torno do tema, demandadas por muitos dos países afetados, pois as “especulações” ainda que especulações, não isentam o governo chinês da responsabilidade. 

O tabuleiro global está à mesa e as peças continuam se movendo. Agora, como esse jogo vai terminar, depende de cada um se informar e conscientizar …

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 (1). Wikipedia. “Democracia”, Editada: 9 de Abril, 2019

(2). Wikipedia. “Totalitarismo”, Editada: 28 de Dezembro, 2019

(3). Wikipedia. “Xi Jinping”, Editada: 29 de Abril, 2020

(4). BCC News. “China's Xi allowed to remain president for life removing term limits”, March 11/2008

(5). Wikipedia. “Document Number Nine”, Edited: April 21, 2020

(6). Wikipedia. “Two Centenaries”, Edited: April 23, 2020

(7). Wikipedia. “Chinese Dream”, Edited: April 24, 2020 

(8). BCC Two. Documentary Episode 2, “China: A New World Order”, September 26, 2019

(9). Wikipedia. “Silk Road”, Edited: April 21, 2020

(10). Ibid., “Chinese Dream: History”, Edited: April 24, 2020 

(11). EXAME. “China comemora US$ 64 bilhões em acordos do “Um Cinturão, Uma Rota”, Publicado em 28 de Abril de 2019

(12). Tweed, David. “China’s New Silk Road”. Bloomberg, published on April 16, 2019

(13). BBC News. “Sri Lanka: A country trapped in debt”. Published on May 26, 2017

(14). Wikipedia. “Belt and Road Initiative”, Edited: April 26, 2020

(15). Diop, Makhtar. “Lessons for Africa from China’s Growth”. The World Bank, Published on January 13, 2015

(16). Bougon, Francois. “Chinese solution - an expression that Xi Jinping used for the first time in July 2016, in a speech marking the 95th anniversary of the Chinese Communist Party”. Newsweek, published on September 21, 2018

(17). Fifield, Anna. “China pledges $60 billion in aid and loans to Africa , no ‘political conditions attached’”. The Washington Post, published on September 3, 2018

(18). BBC News. “China and Greece sign deals worth $5bn during Li visit”. June 21, 2014

(19). Financial Times. “France to sell airport stake to Chinese”. December 5, 2014

(20). BBC News. “China's Midea in takeover bid for German robot maker Kuka”. May 18, 2016

(21). Wong, Eduard. “As China Seeks Bigger Role on World Stage, Xi Jinping Will Go to Davos World Economic Forum”. The New York Times, published on January 10, 2017

(22). Ibid., The New York Times, published on January 10, 2017

(23). Valero, Jorge. “Leaders tone down Macron’s call for foreign investment scrutiny”. Euractiv, published on June 23, 2017

(24). Pope, Stephen. “Presidential Protectionism Diluted By Free Trade Supporters”. Revista Forbes, published on July 7, 2017

(25). BCC News. “How much of Europe does China own?”. Published on April 20, 2019

(26). Ibid., Bougon, Francois. Newsweek, published on September 21, 2018

(27). Köllner, Patrick. “Australia and New Zealand recalibrate their China policies”. Mericcs, published on October 8, 2019

(28). BCC News. “Sam Dastyari: Australian senator to quit after China scrutiny”. Published on December 12, 2017

(29). Hamilton, Clive. “Australia's Fight Against Chinese Political Interference: What Its New Laws Will Do”. Foreign Affairs, published on July 26, 2018

(30). BCC News. “Djibouti: Chinese troops depart for first overseas military base”. Published on July 12, 2017

(31). Aljazeera News. “China opens first overseas base in Djibouti”. Published on August 1, 2017

(32). Lee Myers, Steven. “With Ships and Missiles, China Is Ready to Challenge U.S. Navy in Pacific”. New York Times, published on August 29, 2018

(33). Westcott, Ben; Steven Jiang and Serenitie Wang. “Xi Jinping's China shows off force in South China Sea”. CNN World, published on April 13, 2018 

(34). The Diplomat. “Xi Jinping and Maritime Militarization”, published on March 23, 2016

(35). BBC News. “Why is the South China Sea contentious?”, published on July 12, 2016

(36). BCC News. “South China Sea: Tribunal backs case against China brought by Philippines”, published on July 12, 2016

(37). The Guardian.“Beijing rejects tribunal's ruling in South China Sea case”, published on July 12, 2016

(38). Wikipedia. “Shanghai Cooperation Organisation”. Edited: April 26, 2020

(39). Moderndiplomacy. “Shanghai Cooperation Organisation Summit 2018”, published on June 12, 2018

(40). 1st Documentary Movie on the Origin of CCP Virus: “Tracking Down the Origin of the Wuhan Coronavirus”, April 8 2020

(41). Cohen, Jon. Science Insider. January 26, 2020.

(42). The Lancet. “Clinical features of patients infected with 2019 novel coronavirus, Wuhan, China”, Published on February 15, 2020, by Prof. Chaolin Huang, MD * Yeming Wang, MD * Prof. Xingwang Li, MD * Prof. Lili Ren, PhD * Prof. Jianping Zhao, MD * Yi Hu, MD * Prof Li Zhang, MD * Guohui Fan, MS * Jiuyang Xu, MDc* Xiaoying Gu, PhD * Prof. Zhenshun Cheng, MD * Ting Yu, MD * Jiaan Xia, MD * Yuan Wei, MD * Prof. Wenjuan Wu, MD * Prof. Xuelei Xie, MD * Wen Yin, MD * Hui Li, MD * Min Liu, MD * Yan Xiao, MS * Prof. Hong Gao, PhD * Prof. Li Guo, PhD * Prof. Jungang Xie, MD * Prof. Guangfa Wang, MD * Prof. Rongmeng Jiang, MD * Prof. Zhancheng Gao, MD * Qi Jin, PhD * Prof. Jianwei Wang, PhD † * Prof. Bin Cao, MD †

(43). Wuhan Municipal Health Committee | Release time: 2020-01-11 09:20:07

(44). Ibid, World Health Organization - WHO - Report of COVID-19 | Release time: 2020-01-15 00:10:06

(45). Ibid., The Lancet, published on February 15, 2020 

(46). Wikipedia. “Huanan Seafood Wholesale Market”. Edited: April 29, 2020

(47). Vox Contribute. “Did China downplay the coronavirus outbreak early on?”, published on January, 2020

(48). Wikipedia: Zhengli, Dra. Shi. PhD in Virology, “Wuhan Institute of Virology (WIV)”, 28/04/2020

(49). Baric, Dr. Ralph S. PhD in Microbiology. “Departamento de Epidemiologia, Microbiologia e Imunologia”

(50). Idem, Wikipedia: Zhengli, Dra. Shi., 28/04/2020

(51). Ibid, “SAR-Coronavírus Research”, 28/04/2020

(52). Mikovits, Judy. PhD in Molecular Biology and Former Director of the LAB of Antiviral Mechanisms

(53). Wang, Dra. Yanyi. General Director of “Wuhan Institute of Virology (WIV)”, mentioned in the 1st Documentary Movie: Tracking Down the Origin of the Wuhan Coronavirus, April 8, 2020

(54). Ibid., 1st Documentary Movie: Tracking Down the Origin of the Wuhan Coronavirus, April 8, 2020

(55). BBC News, “Li Wenliang: Coronavirus kills Chinese whistleblower doctor”, February 7, 2020

(56). Idem, BCC News, February 7, 2020

(57). The Guardian. “Coronavirus: journalist missing in Wuhan as anger towards Chinese authorities grows”, February 10, 2020

(58). The Guardian. “Coronavirus: Wuhan doctor speaks out against authorities”, March 11, 2020

(59). Ibid., The Guardian, March 11, 2020

(60). WHO, COVID-19 outbreak record, 20 January 2020

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