Peças que faltam
Contratar bem e sempre com a preocupação de não gerar um excedente. Contratar aquilo que se precisa e nada mais do que isso, até porque o facto de não se filtrar pode entupir o desenvolvimento dos jovens provenientes dos escalões de formação. Sendo que um jovem desse lote é sempre mais barato do que um jogador que chega de outro destino. E é sempre preferível apostar no produto nacional. Nem que seja por uma questão de patriotismo voluntário.
O Benfica contratou Meité de acordo com uma estratégia que parece acertada. Em primeiro lugar pela salvaguarda – sobretudo ao nível do poderio físico – da posição “seis” e a definição de uma alternativa a Florentino Luís e a Weigl. Depois, porque os encarnados pensam, e também bem, num duplo desenho tático que possa ser utilizado consoante as necessidades. Conforme evidenciou frente ao Marselha, Jorge Jesus optou por um desenho de 4x4x2 e por outro de 3x4x3. Em termos práticos, e apesar de estarmos numa fase de testes, atentou-se na vontade do técnico encarnado em tornar a sua equipa plástica e moldável, sempre com uma premissa debaixo de olho: o controlo dos ritmos do meio-campo. O travão e o acelerador que oferecem novas dinâmicas ao jogo. E, logicamente, jogadores que propiciem todas essas mudanças de velocidade com João Mário à cabeça. Daí a sua contratação ter sido tão importante. Vale bem a pena a “guerra” com o Sporting.
Já os dragões tentam resolver a questão lateral. Por muito que possamos argumentar que o principal problema do F.C.Porto é o seu pendor museológico, ou seja, a pouca capitalização do imponderável do jogo, há quem pense de forma diferente. O F.C.Porto tenta recorrer ao mercado para contratar novos laterais, sobretudo jogadores com uma maior propensão para o trabalho defensivo. No entanto, João Mário vai somando pontos no plano ofensivo, acrescentando capacidade de aceleração, técnica e ainda astúcia no momento do cruzamento. Do outro lado, Zaidu é a opção mais imediata mais plausível, sendo que o nigeriano ainda está em processo de desenvolvimento e, naturalmente, sente falta de uma concorrência direta que o faça blindar e indiretamente lhe propicie um crescimento mais harmonioso. De facto - e o exemplo imediato é mesmo Bruno Costa - a titularidade de um jogador jovem pode ser um processo reversível. Em prejuízo do jovem jogador. Podemos argumentar que um jogador jovem tem necessidade de jogar, e o próprio jogo oferece diferentes necessidades daquelas que o treino oferece. E está correto. Mas também podemos argumentar que o patamar abaixo oferece novas necessidades, e mesmo a forma como o jovem jogador as encara e ultrapassa é um atestado sério da sua capacidade de superação.
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Um pouco mais à frente, saliência para o acréscimo de criatividade que Pêpe oferece ao jogo bem como a indefinição em termos do processo Corona. O mexicano brilha na Gold Cup e coloca o mercado em ebulição. E não só pela criatividade e desequilíbrio que oferece ao jogo. Não só. Corona tornou-se num jogador suficientemente versátil para ocupar quatro ou cinco posições durante o jogo e mesmo no plano defensivo apresenta argumentos que fazem dele um jogador particularmente apetecível. Também Fernando Andrade parece estar a apresentar alguns dos predicados patenteados no Santa Clara, clube onde fez despontar as suas qualidades ao nível da finalização e exploração da profundidade.
Por falar em Santa Clara, vitória indiscutível na pré-eliminatória da Liga das Conferências frente ao Shkupi da Macedómia. Nos açorianos, o japonês Morita mostra ser jogador para altos voos. Todo o jogo (defensivo ou ofensivo) passa por ele, bem como o controlo dos ritmos da partida. Com capacidade para jogar com ambos os pés e em espaço reduzido, cria sempre uma linha de passe para situações de emergência. Mas também é inteligente o suficiente para abrir o jogo através de precisos passes longos. O japonês destacou-se na segunda volta da temporada passada e, valha a verdade, tem todas as condições para ingressar num clube de maior dimensão. No Santa Clara, junta-se a um lote de jogador interessantes com Carlos Júnior – preciso e frio na finalização – e Allano – muito rápido – à cabeça. E os açorianos têm um guarda-redes que é notável a jogar com os pés: de facto, as competências de Marco a esse nível são um garante de qualidade ofensiva e construção açoriana. E o Santa Clara tem tudo para continuar sorridente nesta sua aventura europeia!