Pensamento disciplinado: você tem em sua empresa/departamento mecanismos que permitam enfrentar a realidade brutal dos fatos?

Pensamento disciplinado: você tem em sua empresa/departamento mecanismos que permitam enfrentar a realidade brutal dos fatos?

Vimos nas semanas anteriores (quem "fica e quem sai do ônibus"?) os 2 conceitos chave (Liderança Nível 5 e Primeiro Quem Depois O Que) que suportam o pilar de Pessoas Disciplinadas na pesquisa/obra feita por Jim Collins: “Good To Great” (um estudo que ao avaliar as 500 maiores da revista Fortune de 1965 a 1995, selecionou 11 empresas com retorno sobre valor investido em ações três vezes superior ao mercado por no mínimo 15 anos, e então se aprofundou para identificar se existiram fatores comuns determinantes desse sucesso e, se sim, quais seriam). Caso não tenha tido a oportunidade de ler esses artigos, reforçamos bastante a importância de sua leitura, pois eles escoram, juntamente com os que veremos hoje e nas próximas semanas, o conjunto de princípios imprescindíveis ao êxito perene das organizações bem-sucedidas.

Compreenderemos aqui a essência de “Enfrente a Realidade Brutal” o primeiro conceito do pilar de Pensamento Disciplinado:

Com a entropia crescente de nosso cotidiano e a certeza de que as mudanças serão não só uma constante, mas uma das poucas certezas que teremos, criar mecanismos que nos proporcionem uma visão acurada e coerente do macro e do microambiente passou a ser uma questão chave.

Collins reforça inúmeras vezes que o caminho rumo à excelência deve ser traçado enfrentando a dura realidade dos fatos. Falsas esperanças e expectativas ilusórias são logo destruídas pela realidade dos fatos. Alimentá-las será desanimador e irá desestimular novos esforços e iniciativas. “Fatos são melhores que sonhos”.

É fundamental criar mecanismos consistentes que assegurem que não se punirá o mensageiro, mas sim os culpados. Gerar procedimentos e técnicas onde as pessoas são realmente ouvidas, e passam a ser fontes de encontro com a verdade que deve prevalecer e ser a prioridade número 1.

A exposição do problema “nu e cru” e a respectiva discussão “acalorada” em busca das possíveis soluções (com custos, timings, prós e contras) deve ser valorizada. Um esforço honesto e diligente para determinar a verdade da sua situação, expõe as decisões certas a serem tomadas.

Indo além e reforçando esse entendimento, o autor observou nas empresas vencedoras a criação de metodologias de acionamento de “bandeira vermelha” onde informações cruciais não são ignoradas e onde se assegura que os responsáveis sejam envolvidos com a velocidade adequada para tomarem as decisões corretivas e preventivas necessárias. Essas decisões passam a ser então equilibradas, assertivas, eficazes e eficientes.

Collins menciona como reforço conceitual o Paradoxo de Stockdale:

O almirante americano James Stockdale foi o militar de mais alta patente a viver no campo de prisioneiros de guerra “Hanoi Hilton”, durante a guerra do Vietnã. Ele ficou preso lá por 8 anos, onde foi torturado mais de 20 vezes. Mesmo assim, se sentiu na obrigação de fazer com que seus soldados também presos ali conseguissem superar aquilo, buscando criar situações para tal, sem que sofressem maiores danos (principalmente à mente). Afinal de contas, ele era o líder deles.

Stockdale contou que os pessimistas sucumbiam rapidamente, pois já haviam se entregado. Por outro lado, os otimistas, apesar de durarem um pouco mais, também sucumbiam! Eles diziam que sairiam dali no Natal, mas o Natal chegava e eles continuavam ali. Diziam então que na Páscoa sairiam, mas a Páscoa chegava e eles continuavam ali ainda. Em pouco tempo, a frustração e a desilusão tomavam conta desses otimistas ao extremo, fazendo com que eles definhassem e morressem, assim como os pessimistas. Então qual foi o segredo para que o almirante tivesse sucesso na sua missão? Stockdale disse: “Sabia que a realidade era dura, mas jamais perdi a fé no final da história. Nunca duvidei.” Veja bem, não devemos confundir a fé em vencer no final com a disciplina de enfrentar a realidade (realidade essa que, na maioria das vezes, não é nada agradável). É a fé em que vai se vencer no final, independente das dificuldades e, ao mesmo tempo, a necessidade de enfrentar a realidade nua e crua, seja ela qual for.”

Agora temos já informações suficientes para responder à pergunta inicial: você tem em sua empresa/departamento mecanismos que permitam enfrentar a realidade brutal dos fatos?

Nós da Sinapse entendemos que as empresas vencedoras refinam o caminho continuamente enfrentando a dura realidade dos fatos. E, para isso, algumas características são determinantes:

  • Não se deve alocar a maior parte das energias motivando as pessoas. Você deve se cercar pelas pessoas certas e elas se auto motivarão. O que não se pode fazer é desmotivá-las. E para isso, nada pior do que alimentar esperanças que serão posteriormente destruídas pelos fatos
  • Ter voz é diferente de ser realmente ouvido. Criar mecanismos onde as pessoas possam ser ouvidas, encurtam o caminho para o contato com a realidade dos fatos
  • É crucial que todos os gestores proporcionem um clima em que a verdade prevaleça:
  1. Liderar com perguntas e não com a respostas. Ter humildade para captar os fatos que não se conhece muito bem para obter respostas e depois fazer as perguntas que levarão aos melhores insights possíveis
  2. Envolver-se no diálogo e no debate, não na coação. Coação e intimidação são bloqueadores naturais da criatividade e da inovação
  3. Fazer autópsias, mas não jogar a culpa nos outros. O Intuito é descobrir o entendimento e extrair aprendizado. Lembre-se do que vimos no artigo anterior: criar uma “fábrica de culpados” é uma forma de pavimentar a deterioração e a inibição de idéias.
  4. Criar mecanismos de bandeira vermelha. Empresas raramente caem por falta informação, ignoram a informação que não pode ser ignorada!!
  5. Assegurar-se de que as informações recebidas refletem exatamente o que é preciso se enxergar: recorde-se sempre que nós não controlamos o que apenas medimos, mas sim controlamos o que medimos e inspecionamos!
  6. “Pregue” Stockdale: ou seja, todo o time deve ter e manter uma fé inabalável diante da verdade brutal

No momento em que se enfrenta a dura realidade dos fatos, as empresas vencedoras se tornam mais fortes e flexíveis (“Não desistiremos, podemos levar um tempo enorme mas vamos vencer!”)

A Sinapse sabe que momentos extremamente ruins podem ser grandes oportunidades para criar algo mais forte e poderoso, seja para nós mesmos, para nossos clientes ou até mesmo em situações enfrentadas conjuntamente, gerando um aprendizado mútuo, perene e construtivo.

Esperamos que tenham gostado de mais essa exposição. Estamos sempre procurando melhorar, abertos à debates saudosos e seu feedback será um presente valioso para a Sinapse.

Em breve nos aprofundaremos em outros conceitos explorados por Jim Collins.

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