Pesquisa é o Novo Normal
Existem pesquisas de todos os tipos. Pesquisas científicas, que seguem métodos rigorosos, pesquisa de opinião pública, de mercado, de mudança de hábitos dos consumidores no Novo Normal. Enfim, tem pesquisas de todos os tipos e para todos os gostos. Durante o isolamento, nós, da Máxima Performance, fizemos duas pesquisas por enquanto, e temos mais duas em andamento (fiquem atentos!). A primeira delas, realizada após uma Live em parceria com a IFMSA - International Federation of Medical Student´s Association. Realizamos um Workshop de meditação focada na respiração e mindfulness, com o objetivo de manter a saúde mental e o equilíbrio em tempos de pandemia. Propusemos um desafio de fazer um treino de respiração diafragmática guiada com os interessados durante dez dias, utilizando uma série de vídeos-guia de respiração que disponibilizamos no nosso canal de vídeos no Instagram (IGTV) . Cada vídeo possui um tema de fundo (imagens e sons) para que o praticante possa escolher entre os temas de: floresta, água, cascata, pôr do sol e oriental, conforme sua preferência. O objetivo é que o participante acompanhe com atenção o vídeo, praticando a respiração diafragmática no ritmo sugerido por animação incluída nele (pacer).
O trabalho da Máxima Performance tem por objetivo principal aumentar a autoconsciência das pessoas, visando maior qualidade de vida e produtividade. Contamos com 24 anos de experiência nessa área, incluindo treinamentos com as ferramentas de Bio e Neurofeedback. A pesquisa que realizamos em parceria com a IFMSA teve por objetivo aumentar a autoconsciência dos participantes quanto à sintomatologia de estresse associada ao isolamento social e verificar a utilidade do treino respiratório para a diminuição desses sintomas. A pesquisa não seguiu uma metodologia cientifica rigorosa, foi informal, mas percebemos que os dados obtidos foram significativos e que é válido compartilhar aqui.
Os participantes foram incentivados a responder um pequeno questionário avaliando os estados de: Ansiedade, Frustração, Irritabilidade, Medo, Tristeza e Desatenção. Este questionário deveria ser respondido antes do exercício de respiração e novamente, após o exercício. A prática de responder às perguntas antes e depois, por si só, já desenvolve a autopercepção e autoconsciência. A frequência do exercício era livre, cada participante fazia conforme motivação e necessidade.
No exemplo da figura abaixo podemos perceber a notória mudança destes estados após cada prática de respiração guiada. Neste gráfico específico vemos o resultado da média das avaliações antes e após exercício no terceiro dia do desafio proposto (dia 13/abr). Os itens foram avaliados numa escala do tipo Lickert de 1 a 5, correspondente a: nada, um pouco, médio, bastante e extremo. O gráfico de barras exibe a variação calculada entre a avaliação percebida antes e após a prática. Aqui vemos, por exemplo, que o item irritabilidade sofreu redução média de 70% após a realização do exercício de respiração guiada, realizado por 17 participantes neste dia.
No levantamento final do período de 10 dias proposta pelo desafio, além do registro de redução diária nos itens avaliados antes e após cada exercício, tivemos tendência de redução em todos os itens avaliados antes de cada exercício de respiração, com isto vale dizer, que os dados corroboram a hipótese inicial de que a prática regular deste tipo de treino de respiração guiada favorece a redução de sintomas relacionados a estresse e estados de humor negativos ao longo do tempo, decorrente do efeito cumulativo do exercício diário.
Análise Global: Veja no gráfico acima a comparação entre as avaliações AT (antes do treino) e DT (depois do treino) para os dias 11 (início do desafio) e 20 (final do desafio). Nota-se diminuição dos sintomas Antes e Após os exercícios de respiração guiada e também diminuição global entre o início e o fim do desafio de 10 dias, principalmente na percepção AT, ou seja, com a prática diária foram diminuindo os sintomas iniciais.
Neurofiosiologia da Respiração
O treino respiratório é muito utilizado em nossos trabalhos, e foi a técnica selecionada, porque seus benefícios tem sido comprovados em diversos estudos científicos. Vamos citar aqui apenas alguns, relacionados aos resultados que encontramos:
- Aumentar a coerência cardíaca (HRV). A respiração atua como um estímulo para o coração – aumenta a variabilidade da frequência cardíaca. Maior coerência cardíaca (HRV) é sinônimo de mais resiliência, à melhor saúde cardíaca e geral, melhor imunidade, saúde emocional e melhor desempenho mental e físico. Está fortemente associada à melhor performance diante das adversidades ou desafios - adaptabilidade. O biofeedback é a ferramenta para verificar a oscilação da coerência cardíaca durante a prática respiratória; permitindo verdadeiramente “ouvir” os sinais do corpo; é um processo de aprendizagem que ajuda a desenvolver maior autoconsciência e habilidade para influenciar seu psicológico, suas emoções e sua atividade cognitiva, aumentando sua saúde e performance através dos sinais psicofisiológicos.
- Aumentar a percepção das pessoas quanto aos aspectos da sua vida que pode controlar – ansiedade e gerenciamento pessoal; diminuindo o foco de atenção para os elementos que não podem controlar (economia, caos na saúde). Reconhecer um estado mental contraproducente envolve o córtex pré-frontal e reduz a energia no circuito da amígdala que, quando desativada, diminui o viés de negatividade sobre os fatos. Em outras palavras, colocar um nome em seus sentimentos ajuda a recuperar a capacidade de raciocinar.
- Melhorar a capacidade de adaptação, relacionada à resiliência. Aprender a desencadear um estado emocional de equilíbrio (homeostase) alavanca mudanças, resolução de conflitos e a capacidade de gerenciar o tempo na rotina. Ser adaptável significa focar menos no desconforto da mudança e mais no crescimento e oportunidade que ela apresenta.
- Encontrar o equilíbrio entre as responsabilidades pessoais e os fatores externos. A perspectiva interna nos coloca no centro de tudo – aumentam as cobranças, as culpas, os medos, a irritabilidade. A perspectiva externa, ou locus externo, direciona totalmente as atenções para o ambiente, aumentando a sensação de impotência, de falta de controle e os sintomas de estresse. Através do treino respiratório, é possível encontrar o equilíbrio entre a responsabilidade pessoal (o que eu posso mudar) e os fatores que são independentes da nossa vontade e que não temos o poder de mudar.
Aqui selecionamos os principais, mas os benefícios são muitos. A pesquisadora austríaca Pinker-Binder relaciona maior liberdade decisória ao aumento da coerência cardíaca, visto que coração e cérebro trabalham em sintonia. Vale ressaltar que o maior ponto positivo da técnica da respiração diafragmática é a simplicidade para aplicar, não tem custo, pode ser praticada em quase todo lugar e seus benefícios são diversos, por isso essa prática tem sido muito difundida. Nas organizações, esse tipo de treinamento tem sido útil melhorando a comunicação, a empatia, a tomada de decisões, o engajamento, o bem estar e consequentemente a performance.
Finalmente, queremos agradecer à IFMSA pela oportunidade de lançar e participar desse Desafio. Para nós, foi uma experiência muito enriquededora, vivenciamos emoções edificantes, especialmente a gratidão e esperança durante a prática. Essas emoções também aumentam a coerência cardíaca, melhorando nosso estado de saúde em geral, físico e mental. Outro resultado positivo foi quanto ao senso de grupalidade, que aumentou o engajamento. Apesar de já sermos praticantes diários da técnica, conseguimos evitar olhar as noticias antes de praticar. Antes do Desafio, olhar as notícias parecia muito mais tentador. A sensação de ter um grupo para compartilhar experiências, fez com que o foco na tarefa aumentasse.
Pesquisa e artigo produzidos com Hector Nievas