Planejamento Estratégico, Gestão de Riscos e Tomada de Decisão: O Papel dos Conselheiros Consultivos
Há 20 anos, os Conselhos de Administração desempenhavam um papel predominantemente estratégico, orientando empresas em decisões de longo prazo, focando na sustentabilidade e na construção de valor ao longo dos anos. Naquela época, o conselho não estava tão pressionado por resultados imediatos e podia se dedicar a uma visão mais ampla de crescimento e perenidade. No entanto, com as mudanças no ambiente de negócios, a globalização, a competitividade acirrada e a pressão por retorno de investidores, os conselhos administrativos de hoje enfrentam uma dinâmica muito diferente. Estão cada vez mais focados em resultados de curto prazo, impactados pelas demandas imediatas do mercado e pelas expectativas dos acionistas.
Nesse cenário, os Conselhos Consultivos têm se tornado uma ferramenta essencial para resgatar o equilíbrio entre decisões de curto e longo prazo. Diferente dos conselhos de administração, que estão diretamente envolvidos na tomada de decisões formais e nas obrigações fiduciárias, os conselhos consultivos trazem uma visão externa e estratégica sem a pressão imediata dos resultados. Eles oferecem uma perspectiva imparcial, ajudando as empresas a manterem o foco em sua visão de futuro, na gestão de riscos e na elaboração de um planejamento estratégico robusto.
Neste artigo, pretendo explorar como os conselhos consultivos podem contribuir para o planejamento estratégico, a gestão de riscos e a tomada de decisões, abordando sua importância no cenário atual, onde a volatilidade do mercado e a pressão por resultados rápidos tornam a governança empresarial um desafio ainda maior.
Planejamento Estratégico: Orientação para o Futuro da Empresa
O planejamento estratégico é o processo pelo qual as empresas definem suas metas de longo prazo e as ações necessárias para alcançá-las. A contribuição do conselheiro consultivo é fundamental para garantir que as decisões estratégicas estejam alinhadas com os objetivos futuros e as condições de mercado. Além disso, um fator muitas vezes negligenciado, mas crucial para o sucesso do planejamento estratégico, é o ajuste ou a mudança cultural dentro da organização. Muitas empresas enfrentam desafios ao tentar alinhar sua cultura organizacional com suas metas estratégicas, e o conselheiro pode desempenhar um papel central nesse processo.
Papel do Conselheiro Consultivo no Planejamento Estratégico
§ Alinhamento de Visão e Ação: Os conselheiros consultivos ajudam a alinhar a visão da empresa com as ações práticas, garantindo que as estratégias estejam em sintonia com o propósito e os recursos da organização. Isso inclui o desafio de ajustar a mentalidade interna para que todos os membros da organização compreendam e compartilhem essa visão.
§ Necessidade de Ajuste ou Mudança Cultural
Ø Cultura de Adaptação: Para que o planejamento estratégico seja eficaz, é preciso mudar ou ajustar aspectos fundamentais da cultura da empresa, como a disposição para inovar, a capacidade de adaptação a novos cenários e o foco no longo prazo. Muitas organizações possuem uma cultura centrada no curto prazo ou na manutenção do status quo, o que pode dificultar a execução de um plano estratégico voltado para o crescimento.
Ø Abertura para Colaboração: O conselheiro deve incentivar uma cultura de colaboração em toda a empresa, garantindo que as decisões estratégicas exclusivamente impostas de cima para baixo, mas que contem com a participação ativa de todas as partes interessadas. Isso é particularmente importante em ambientes onde a cultura é mais hierárquica ou onde a comunicação é fragmentada.
Ø Mediar Resistências: Mudar a cultura pode gerar resistências internas, especialmente em empresas com estruturas mais rígidas ou conservadoras. O conselheiro consultivo deve trabalhar para identificar esses pontos de resistência e mediar conflitos que possam surgir durante o processo de implementação do plano estratégico.
Ø Análise de Cenários: Um dos papéis centrais do conselheiro é ajudar a empresa a considerar diferentes cenários de mercado (pessimistas e otimistas) para preparar planos contingenciais que abordem incertezas econômicas, tecnológicas e políticas. Um plano estratégico deve ser resiliente, e isso exige que a cultura organizacional esteja preparada para lidar com imprevistos e ajustes rápidos.
Ø Monitoramento e Revisão: O conselheiro auxilia no monitoramento contínuo das metas e ajusta o planejamento estratégico de acordo com as novas informações e mudanças no ambiente de negócios. Esse processo de ajuste requer uma cultura organizacional aberta a revisões e melhorias constantes, onde as metas podem ser recalibradas de forma dinâmica sem que isso seja visto como uma falha, mas como uma adaptação natural.
Ferramentas de Planejamento Estratégico
No processo de planejamento estratégico, as ferramentas escolhidas desempenham um papel essencial em três frentes: corrigir erros do passado, prever cenários futuros e criar um futuro desejado. Para que esse processo seja eficaz, as empresas precisam combinar essas estratégias com uma abordagem robusta de diagnóstico, planejamento e implantação. O conselheiro consultivo tem a função de garantir que essas ferramentas sejam utilizadas corretamente, de forma a alinhar a execução com os objetivos da empresa.
§ Estratégias de Correção do Passado (Dimensão: Diagnóstico): Corrigir erros ou ineficiências do passado é uma parte crucial do planejamento estratégico. Um diagnóstico profundo dos erros anteriores e das lacunas nos processos operacionais e financeiros é o ponto de partida. O conselheiro consultivo desempenha um papel vital ao fornecer uma análise imparcial, ajudando a empresa a compreender como as decisões passadas impactaram negativamente seus resultados.
Ø Análise SWOT (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças): Essa ferramenta é ideal para o diagnóstico interno e externo da empresa. No contexto de correção do passado, a SWOT pode ser utilizada para identificar fraquezas (erros, ineficiências e vulnerabilidades internas) e ameaças (fatores externos que prejudicaram o crescimento), oferecendo uma base sólida para criar estratégias corretivas.
Ø Análise de Desempenho Histórico: Ao revisar o desempenho passado, o conselheiro pode identificar tendências negativas e pontos de estagnação. Essa análise ajuda a empresa a entender o impacto de decisões passadas em suas receitas, custos e rentabilidade, corrigindo rotas mal-sucedidas e ajustando o planejamento para evitar os mesmos erros.
§ Estratégias para Prever o Futuro (Dimensão: Planejamento): A previsão do futuro envolve antecipar mudanças e tendências, permitindo que a empresa se adapte proativamente ao ambiente de negócios. O conselheiro consultivo deve ajudar a empresa a prever possíveis cenários e preparar respostas estratégicas para esses cenários.
Ø Análise PESTEL (Política, Econômica, Social, Tecnológica, Ambiental e Legal): Essa ferramenta ajuda a prever as forças externas que podem influenciar a empresa no futuro. O conselheiro pode utilizá-la para mapear possíveis mudanças no ambiente externo, como novas regulações governamentais ou avanços tecnológicos, e suas implicações nos planos estratégicos da empresa.
Ø Cenários Prospectivos: A criação de cenários prospectivos permite que a empresa planeje para múltiplos futuros possíveis. Ter foco no futuro auxilia a desenhar cenários otimistas, realistas e pessimistas para que esteja preparada para diferentes contextos econômicos, sociais e de mercado. Isso proporciona uma flexibilidade estratégica, onde a empresa pode adaptar seu curso dependendo do cenário que se materialize.
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§ Estratégias para Criar o Futuro (Dimensão: Implantação): Criar o futuro envolve uma postura proativa, onde a empresa não apenas se adapta às mudanças, mas busca moldar o ambiente em que atua. Desta forma, se pode incentivar a liderança a tomar iniciativas inovadoras, posicionando a empresa à frente da concorrência.
Ø Matriz de Inovação (BCG e Outras Ferramentas): A Matriz BCG pode ser adaptada para ajudar a empresa a identificar oportunidades de inovação e investimentos em produtos e mercados. Essa ferramenta pode ser utilizada para sugerir onde os recursos devem ser alocados, seja para expandir mercados existentes, desenvolver novos produtos ou investir em áreas emergentes. Isso coloca a empresa em uma posição de criação de novas oportunidades.
Ø Mapeamento de Oportunidades e Ameaças Emergentes: Criar o futuro também envolve identificar e explorar oportunidades emergentes antes que os concorrentes o façam. Ao mapear novas tendências tecnológicas ou mudanças sociais significativas, o conselheiro pode ajudar a empresa a inovar e liderar o mercado, em vez de simplesmente reagir.
As dimensões diagnóstico, planejamento e implantação, devem ser vistas como partes interconectadas do processo estratégico. O conselheiro consultivo deve garantir que a empresa utilize ferramentas que integrem o diagnóstico dos erros passados, a previsão dos cenários futuros e a criação de um futuro inovador e competitivo visando abordagem integrada é essencial para um planejamento estratégico robusto e orientado ao sucesso.
Tomada de Decisão: Apoio na Escolha das Melhores Alternativas
A tomada de decisão é um processo complexo e vital em qualquer organização, especialmente em conselhos consultivos, onde decisões estratégicas podem moldar o futuro de uma empresa. Para garantir que as decisões sejam eficazes, é fundamental que os conselheiros usem não apenas dados, mas também informação, conhecimento e, por fim, sabedoria, de maneira consciente e estruturada. Esse processo é bem descrito pelo Modelo DIKW (Dados, Informação, Conhecimento e Sabedoria), que detalha a progressão desde a coleta de dados até o uso da sabedoria aplicada para decisões de longo prazo.
Cada etapa do modelo requer um nível de maturidade distinto:
1) Dados: Coletar e organizar os fatos brutos.
2) Informação: Transformar dados em contexto relevante.
3) Conhecimento: Interpretar as informações para encontrar padrões e insights.
4) Sabedoria: Aplicar o conhecimento de forma prudente e estratégica.
Sobre todos os assuntos estratégicos de uma empresa, quando mais avançado e maduro consciente for seu conselho, menos superficiais e imediatistas serão suas recomendações. Um conselheiro consultivo que compreende e domina esse processo é capaz de fazer recomendações mais consistentes, robustas e alinhadas com os objetivos de longo prazo da empresa. Isso garante que suas orientações não sejam baseadas em simples reações a dados isolados, mas em uma análise profunda e informada que considera o impacto de cada decisão no futuro da organização.
Como o Conselheiro Consultivo Contribui na Tomada de Decisão
v Fornecer Perspectiva Externa e Imparcial: O conselheiro consultivo traz uma visão externa, livre de vieses internos, ajudando a liderança a enxergar além das dinâmicas internas da empresa. Essa imparcialidade é fundamental para questionar suposições e garantir que as decisões sejam objetivas.
v Apoiar Decisões Baseadas em Dados: O conselheiro incentiva o uso de dados concretos e análises quantitativas para evitar decisões emocionais ou intuitivas. Essa abordagem fortalece a capacidade de a empresa tomar decisões informadas e bem fundamentadas.
v Equilíbrio entre Curto e Longo Prazo: Em um ambiente de pressão por resultados imediatos, o conselheiro consultivo ajuda a equilibrar a necessidade de atingir metas de curto prazo com o impacto estratégico no longo prazo, evitando comprometer o futuro da empresa.
Ferramentas de Suporte à Tomada de Decisão
v Matriz de Decisão: Facilita a comparação de diferentes opções estratégicas, ponderando seus benefícios e riscos. Essa ferramenta permite uma análise clara e estruturada das alternativas.
v Análise de Custo-Benefício: Avalia os impactos financeiros e operacionais de cada decisão, garantindo que os recursos sejam aplicados de forma eficiente, considerando tanto o retorno quanto o custo de oportunidade.
A estruturação de um conselho consultivo para participação do rito de planejamento estratégico, gestão de riscos e tomada de decisões é vital para o sucesso de curto, médio e longo prazo das empresas, especialmente em um cenário de pressão por resultados de curto prazo. O conselho ajuda a equilibrar essas demandas imediatas com a necessidade de construir um futuro sustentável, guiando a empresa para o crescimento enquanto mitiga riscos e promove uma cultura de tomada de decisões informada. Ao trabalhar em conjunto com a equipe de liderança, o conselheiro consultivo proporciona uma visão estratégica que vai além do imediato, garantindo a continuidade e o sucesso da organização.
Especialista Processos Comerciais | Grupo Elfa | Transformação Comercial | GTM | Planejamento Estratégico | MBA | VMO | Liderança
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