Política e eficiência gerencial: um antagonismo na gestão pública?
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Política e eficiência gerencial: um antagonismo na gestão pública?

Costumo dizer que atuar na Administração Pública não é para amadores. Por se tratar de um ambiente eminentemente político, é de se esperar que forças com esse caráter atuem de maneira incisiva no ambiente profissional. Deste modo, surge uma questão que fundamenta o título do presente artigo: As decisões eminentementes do campo político impactam sobre a eficiência gerencial?

Pois bem, preliminarmente, esclareço que não há a menor intenção em exaurir o questionamento neste artigo por meio dos argumentos a serem apresentados, considerando que neste espaço não caberia discorrer toda a assertiva complexidade que envolve o tema. Portanto, feita a consideração inicial, passamos a tecer os comentários, destacando-se que a Administração Pública é um organismo e como toda estrutura orgânica, sofre influências de todo tipo de sorte e qualidade do meio endógeno e exógeno.

Uma dessas influências trata-se dos interesses políticos e das ideologias que amparam os governos que assumem o dever de representar o povo. Mas, seria esse governo de fato representante do povo, ou, do "seu" povo? O fato de que projetos políticos invariavelmente passam pela meta de se obter uma sucessão de sucesso nos pleitos eleitorais, tornam os governos refém do seu eleitorado. Essa dependência, que, diga-se, trata-se de uma troca de interesses de via dupla, por vezes pesa em maior intensidade sobre as decisões de governo que seriam mais bem fundamentadas pela eficiência gerencial, e não pela eficiência política. 

Essa, portanto, a eficiência política sobre a gerencial, é uma visão que ainda predomina nos governos atualmente estabelecidos pelo Brasil, sendo pouquíssimos, digo pelo senso comum, que são adeptos a planejarem e executarem suas ações, respaldos por decisões gerenciais que privilegiem, por exemplo, a entrega eficiente e efetiva de serviços à sociedade, por meio da criação de um ambiente profissional inovador, uma maior autonomia dos servidores, melhoria da estrutura organizacional, investimento em Tecnologia da Informação e Comunicação, treinamento e capacitação de pessoal, melhoria dos processos internos e fluxos de trabalho, dentre outros elementos, que em geral são negligenciados pelos administradores públicos. Sim, administradores, não gestores.

Digo administradores aqueles que somente administram o cotidiano e implementam projetos de cunho meramente eleitoral, sem grandes ganhos quanto a melhoria da qualidade de vida da sociedade ou de uma parcela dela que esteja demandando por serviços públicos diferenciados e, também, são avessos a investirem na melhoria organizacional. O fato é que muitos são eleitos para chefiarem o executivo sem possuir a menor capacidade gerencial, tanto para escolher membros de sua equipe com perfil técnico e com habilidade política, afinal não se deve desprezar o ambiente político, quanto para se definir políticas públicas e projetos, para que se possa agir sob a ótica da gestão, aplicando-se ferramentas gerenciais que tragam maior eficiência às entregas para a sociedade, e não somente para o "seu" povo.

Tendo mais de quinze anos de experiência como servidor público e mais de vinte e cinco anos na atuação em cargos de gestão nas áreas públicas e privada, não foram raros os momentos em que tivemos que corrigir rumos de decisão que possuíam o caráter eminentemente político/eleitoral, para que não repercutisse negativamente a curto, médio ou em longo prazo sobre o erário e/ou nas estruturas do ente público/privado como um todo.

Portanto, ter uma visão eminentemente política na Administração Pública não é o melhor caminho. Defendemos que tem que haver uma visão gerencial na Administração Pública, mantendo-se a devida habilidade política, considerando que é nesse campo que se encaminham as demandas públicas. Os administradores públicos devem, portanto, pensar em serem gestores públicos de fato, ao passarem a compreender que trocas de favores, ofertas de cargos, inauguração de calçamento de rua, não é o que mais representa para a população e, consequentemente, para o grande eleitorado. 

Nos tempos atuais com o verdadeiro bombardeio de informações intensificado pela massificação da internet, principalmente por meio das redes sociais que a compõe, consegue o eleitor analisar com maior calma e nitidez no conforto de seu lar, podendo identificar aqueles mandatários que "jogam para a plateia", sem fazer entregas de muita eficiência e efetividade, daqueles que apresentam a competência em suas decisões gerenciais por meio de entregas destacadamente inovadoras e impactantes positivamente à sociedade, que irão, diretamente, auferir créditos positivos à sua imagem política.

Portanto, atuar com maior eficiência gerencial não é antagônico à prática política, pelo contrário, os ganhos são intensos e sustentáveis em ambos. Porém, neste caso a ordem dos fatores altera o resultado, ou seja, ao se priorizar o aspecto político sobre o gerencial, os ganhos são efêmeros, e potencializam o prejuízo para a população e a própria imagem política do administrador público.

*O autor é servidor público do Estado do ES, empreendedor na área de prospecção de novos negócios (autônomo), graduado em Administração de Empresa com habilitação em RH, Pós-Graduado em Planejamento e Gestão de Recursos Públicos, Graduando em Engenharia Civil, Pós-Graduando em Fundamentos do Direito e Teoria Geral do Estado, Pós-Graduando em Práticas de Gestão na Administração Pública.

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