Por pior que seja a mensagem, matar o mensageiro nunca é a solução.
O ditado é antigo, mas infelizmente muito presente em qualquer lugar onde se exerça o poder por “mandato”, principalmente nas organizações empresariais de qualquer espécie. O poder exercido por mandato é aquele delegado por alguém que tem todo o direito de saber o que está sendo feito com ele e receber de volta os resultados auferidos com o poder dado.
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É claro que o poder também é exercido por quem pensa que não tem a quem dar satisfações, como donos de empresas por exemplo. Estes pensam que são soberanos nas suas decisões e que são os únicos a se beneficiar dos acertos ou a arcar com eventuais prejuízos advindos de erros e equívocos. É lógico que é uma visão míope, porque se eles se relacionam com o mercado – consumidor, fornecedor e concorrente – e estão legalmente estabelecidos, só com isso já têm inúmeros “patrões” a quem prestar contas, mas isso é assunto para outro momento.
Agora quero me ater apenas no mundo corporativo e aos executivos responsáveis pela gestão, market share, rentabilidade, remuneração dos acionistas, relações institucionais, relações trabalhistas, etc., etc., etc. E não falo apenas dos especialistas de cada área, mas daqueles executivos que são nomeados – por mandato – para fazer com que todas estas áreas funcionem a contento e que a empresa de os resultados esperados por quem os colocou na função.
Essa relação cria muitas dificuldades para alguns executivos. A constante sensação de ser, mas não ser, estar, mas não estar, faz com que eles vivam tendo que provar competência ou, o que é muito pior, que têm o poder, e é no uso inadequado do poder que muitos se perdem.
Marshall Gosdsmith, conceituado consultor norte-americano e um dos mais respeitados coaches dos Estados Unidos, no livro “What Got You Here Won’t Get You There”, cujo título em português é “Reinventando o Seu Próprio Sucesso”, identificou 21 comportamentos que travam pessoas bem sucedidas em suas carreiras e, entre eles destaquei o “irritante hábito de punir o mensageiro”, repetindo as palavras do autor.
O livro é de 2007, mas parece que foi escrito ontem, tamanha é a incidência desse comportamento nos dias de hoje.
Seja por autoproteção, para demonstração de poder, para ganhar tempo ou ainda apenas para não ficarem por baixo, alguns executivos tendem a ignorar as evidências do que lhes é relatado por terceiros ou a desprezar os sinais que o mercado – consumidor, fornecedor, concorrente – lhes transmite.
Como não é possível fingirem que não viram ou ouviram nada, a estratégia que usam é a de tentar desqualificar a fonte e, com isso, sentirem-se enganosamente confortáveis, achando que o possível problema está resolvido.
Essa prática aumenta em momentos de crise do mercado ou da própria empresa.
As opiniões – técnicas ou gerenciais – de funcionários de nível tático são ignoradas, consultores são contratados apenas para mostrar que alguma coisa está sendo feita, mas nenhuma de suas observações/sugestões é acatada, reuniões e mais reuniões da alta direção terminam de forma inconclusiva porque “ele” não quer admitir as fragilidades ou riscos e “eles”, que até gostariam, não têm coragem de contrariá-lo.
E assim cria-se um ambiente à prova de más notícias, mas inseguro. Aliás, alardear as mesmas más notícias na forma de fofoca no cafezinho pode… E como pode.
Luiz Eduardo Neves Loureiro - Consultor, coach e palestrante.